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20 de setembro de 2008

40 - Estórias no Sofá - Maria da Ilha

Seu nome é Maria e me disseram que morava lá para os lados na Ilha. Eu lhe conheci quando ela chorava num chorar que não tinha maneira de acabar. Lhe sorri. Lhe falei palavras mais doces que os doces que vóvó fazia quando eu era um kadengue, mas ela só lhe apetecia era xingar o mundo, abrir uma qualquer janela e se mandar como se fosse um pássaro que não sabia voar, de verter umas e outras até já não saber mais quem era.
Maria só queria mesmo era que mais atrás no tempo lhe tivessem ouvido, lhe tivessem dado um segundo de atenção. Ela sabia que o seu mundo não era ficar na Ilha onde seus caprichos se lhe afundavam. Ela tinha certezas que ali o seu tempo era tempo gasto num à toa de servir para nada. Era ali era apenas mais uma que entrava na vida fácil do difícil mundo de sobreviver.
Maria sabia, fazia muito tempo lá para trás, que tinha capital para se engajar na cidade da sabedoria. Mas ninguém que lhe ouviu, que lhe tenha percebido as potencialidades como agora se diz.
Agora Maria já não tem catorze para ser uma zinha, já não tem sorriso quanto mais o doce sorriso que me disseram ela tinha.
Maria está velha nos seus vintes banhado em lágrimas que um dia vão acabar por afundar a Ilha donde não lhe deixaram sair quando Maria queria ser senhora. Maria já não tem sombra porque parece já chegou no finito dela.
Eu conheci Maria ao lhe enxugar as lágrimas que já não caiem com a força doutros tempos, seu corpo de ossos já não lhe segura o equilíbrio.
Me disseram que Maria tinha sido apanhada, sem nunca ter saído da Ilha.



Sanzalando

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