recomeça o futuro sem esquecer o passado

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12 de maio de 2009

que vou fazer?

O zulmarinho está calmo e com a sua calmaria quase não me chegam notícias desde o outro lado de lá da linha recta que é curva e que marca o meu fim de existir. Como poderei eu então escrever um poema, de acertada métrica e rima que conte o nascer de um qualquer dia? Tentarei escrever um milhão e assim terei hipóteses de num acertar. Escreverei coisas doces, noutros iras, escreverei tempestades, noutros serenidades, nuns luz e noutros o ruído dum gerador. Escreverei na água do zulmarinho a palavra amor e deixarei que a brisa lhe sopre para lá.

Vou fazer mais como então?


Sanzalando

11 de maio de 2009

Um dia ou noutro

Olho as teclas do computador. Olhar fixo em cara de poucos amigos. Não sou parvo para estar aqui sozinho a sorrir para um teclado. Em vários relances olho para todas as teclas como que esperando que se formem palavras por uma qualquer ordem mental. Acho que espero que as palavras dialoguem comigo e assim consiga desconstruir uma ideia que ainda não tive. Mas o que vejo são apenas teclas, letras negras fundidas num plástico que já foi branco. Teclo uma ao acaso. Outra e depois uma terceira. Não consigo formar uma palavra. Pelo menos na minha língua. Com estas três letras não me safo. Apago. Volto a olhar para o monitor e vejo uma folha em branco. Uma espécie de folha, entenda-se.
Não, hoje não é dia. Há dias assim. Dias que não são dias. Já percebi. É mais um daqueles que vai passar ao lado de mim, um dia gasto à toa.
Que vale é que não sou de obsessões. Já teclei a exclamação, a interrogação e nem uma ideia me veio à tona.
Não vale a pena ir contra a lei da lógica sem ter lógica nenhuma.
Hoje não vou ver o mar porque está vento e está frio.
Hoje não teclo nada porque nada me vem à mente.
Hoje desisto do dia. Desconto num outro qualquer que quiser viver a dobrar.



Sanzalando

10 de maio de 2009

Domingo sem sol

Tal como o sol o zulmarinho está ali melancolicamente espraiado na areia. O marulhar hoje é silêncio como se tudo por aqui estivesse cinzentamente adormecido.
Se eu conseguisse entoar barulho para os acordar…
Dá ideia que é preciso que lhes abrace e os acorde desses sonhos tristes com que me carregam o dia. Eu preciso do sol e do marulhar, da luz e do som para caminhar no meu tempo.
Acho que preciso entrar no dia aos gritos, saborear os sabores tropicais dos desejos ardentes para conseguir libertar-me dos desejos impossíveis que me enervam a flor da pele.
Tenho que acordar de olhos abertos e coração livre…


Sanzalando

7 de maio de 2009

serenidade

O Zulmarinho está sereno. Como dizem por aqui, está chão. Eu nem por isso. Dói a nostalgia. Dói a saudade. Tenho que confessar que é difícil aguentar tanto tempo sem o teu sabor, sem o teu perfume, sem o teu ar. Mirra-se-me o corpo e eu desconsigo libertar-me. Secam-se-me os olhos e continuo a ver-te desfilar nos meus pensamentos como se fosses a sua dona.

Que posso fazer?

A tua imagem é o meu fantasma. O teu olhar, perdido sinto, como se fosse uma suave brisa que me acaricia

O zulmarinho sereno e eu, perdidamente perdido de mim.



Sanzalando

6 de maio de 2009

um dia... eu sei

Sento-me aqui onde ouço o marulhar do zulmarinho. Sinto-lhe o perfume. Fechados os olhos parece consigo lhe sentir a temperatura gelada que deve estar. Me embalo nos pensamentos e o seu ritmo imparável quase me deixa zonzo. Tento fechar ainda mais os olhos para ver se deixo de ver as figuras que se filmam no meu pensamento e as imagens se transformam, umas indescritíveis, outras sem sentido e outras num aparentemente real. Tento tudo para as apagar e mais me inquieto. Enervo-me. Balbucio palavras que se alguém ouvisse iria pensar que estou louco, de raiva. Abro os olhos para certificar que não há ninguém por perto. Volto a fechá-los na esperança de ter um momento de descanso. Fazes-me falta, ar dos meus desejos! Se estivéssemos juntos quanto diferente este momento seria? Muito diferente, eu sei, por isso sinto raiva de que os meus sentimentos não sejam condizentes com a minha realidade.

Um dia… vai ser diferente. Eu sei!



Sanzalando

5 de maio de 2009

Apenas uma rosa

Abri as cortinas num gesto de quase as rascar. Alguém poderia pensar que me faltava o ar, tal a brutalidade imposta no meu gesto. Era só para ver a Rosa.
Hoje apenas me apetecia ver uma Rosa. E vi.


Sanzalando
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4 de maio de 2009

Homenagem ao cair da tarde

Me disseram, assim como que num sussurro do estilo de que é segredo mas diz a toda a gente, que ontem era dia da Mãe. Eu que não sou ligado a essas coisas, que ainda por cima mudam porque eu quando ligava era em Dezembro, deixei escapar o dia ao mesmo tempo que me enchi de dúvidas.
Por isso e por mais coisas que não digo resolvi hoje fazer uma homenagem à ternura, a todas as carícias que nasceram apenas com o objectivo de acariciar. Hoje me apetece homenagear aquelas mãos doces que te secam as lágrimas, que te limpam as feridas da alma e se solidarizam na pena máxima de sofrer a teu lado. Hoje me apetece homenagear as mãos que fazem milagres num simples aperto simpático de mão, aos sorrisos sorridos com paixão, aos silêncios de quem escuta.
Hoje quero apenas juntar o cantar do cair da tarde.


Sanzalando

3 de maio de 2009

Capítulo Primeiro (13 e último)

Antes de beijar e abraçar todos aqueles sorrisos que me esperavam, de cumprir as formalidades que imaginava me esperavam, eu me fiz um resumo. Antes de deixar o chão do grande avião que me tinha levado, imediatamente após o abrir das portas, eu fiz um recuo no tempo e num flash de memória vi que a nossa estória de amor se tinha escrito, como todas, em tintas de tristeza e rabiscos de alegrias, num amor verdadeiro, o meu, e nada mais. Ali, pronto a reenfrentar-me, nada mais me interessava, nem frases bonitas nem palavras não ditas. Aliás, todas as frases pareciam-me já terem sido ditas, pelo menos pensadas e todas me pareciam iguais. Aqui chegado dei conta que a vida corre depressa e eu me tinha esquecido de vivê-la, procurando complicações em remorsos, fantasias imagináveis duma estória de amor criada em premissas que só tinham um lado.
Afinal de contas, foi uma estória de amor que terminou, como todas, diluída no tempo, ferida de substância e marcada pela renúncia de alguma coisa que se calhar valia mais que esse amor adolescente que imaginei.


Sanzalando

2 de maio de 2009

Capítulo Primeiro (12)

Eu já voltava a parecer que me tinha encontrado depois de uns tempo de não saber de mim. O cabelo que estava branco se acinzentou, as rugas da cara se suavizaram num marcar de tempo acariciador e os olhos voltaram a ter brilho no olhar. Regredi na idade, recuperei a juventude, porque me sentia uma criança que tinha recebido uma sua prenda.

Um dia num avião, sentado enquanto fazia filmes de memória e imaginação, criava estados de espírito, calcorreando madrugadas passadas das noites não dormidas que fizeram com que eu lhe sentisse cada vez mais perto, mesmo lá em cima, não sei quantos pés de altitude.

De lágrimas escorrendo pela cara eu a abracei como se ela fosse uma coisa abraçável mal abriram a porta do avião. Parei na porta. Olhos fechados e inspirei tão fundo quanto podia. Acho recebi aquele ar pelos tantos anos sem lhe sentir.

Doía o peito e eu estava na minha terra. Caiu uma lágrima embirrenta.

Abri os olhos e olhei para o lado, instintivamente, mas não eras tu que estava ali segurando o meu braço, prevenindo qualquer acidente de percurso e soluçando por solidariedade. Tinhas-te esquecido de mim e eu já fazia tempo não me lembrava de ti. Mas ali, naquele instante, vieste-me à memória como que eu estivesse a me vingar. Eras mesmo passado… e eu não estava ali a sonhar, era mesmo realidade. Por ti tinha-lhe abandonado e sem ti estava regressado.

Sanzalando

1 de maio de 2009

Capítulo primeiro (11)

Enfim, por acasos da vida dei a volta à mesma e continuei na constante mudança em busca da alegria que tinha perdido já quase sem me lembrar que fora por amor adolescente.

Mudei de casa, mudei de rua, mudei de cidade. Não consegui mudar o que sentia. Não por ti, por ela. Mas continuei porque eu sabia que a vida não se ia esquecer de mim. Podia tentar mas ia ter que lutar muito para conseguir levar a sua avante. Talvez tenha aprendido contigo a ser teimoso, insistente e querer com força de quem quer mesmo. Por isso escrevi cartas em papel pardo, cartas que escrevi para mim e que metia em garrafas de cerveja, que bebia num afogar de mágoas, e as atirava ao mar com a convicta esperança que um dia, pelo menos uma delas, chegassem no meu lugar para o lugar dos meus sonhos. Uma ou outra chegou, porque um ou outro sorriso recebi em troca. As kiandas estavam a me acompanhar, os deuses delas me protegiam, por isso eu aguentava as horas lentas de todos os dias mesmo quando sentia que faltava que o meu tempo fosse compartilhado com ela, porque eram apenas contactos pontuais, intermitentes os que íamos tendo. Mas isso fez com que eu já conseguisse esboçar um sorriso sincero, já conseguia ver para além do dentro de mim. Aos poucos foi crescendo uma corrente de energia e sinergias e eu já começava a sentir o que era ser metade feliz. 

Sanzalando