É de tarde duma tarde que avança rápido fazendo com que a minha intranquilidade se instale a uma velocidade inesperada. Com isto vou esquecendo pequenas coisas da minha estória, regresso à vida sabendo que há sonhos que ainda não sonhei, que a minha bela estampa se ofusca nas rugas do tempo. A cada tarde segue-se uma noite veloz, escura, que me apaga a silhueta antes esguia e me leva a sonhos pesados de esforço.
É o tempo que viaja sem se deter no presente e deixando-me o passado como um fardo pesado. Valem-me os sonhos que sonhei no tempo de ter tempo para os sonhar. O tempo não é magnânimo e não me dá alternativa ao túnel que atravessa a tarde até ao chegar da noite. Quando ele era lento eu não tinha medo dos sonhos que um dia o iam deixar de ser. Agora… muitos sê-lo-ão para sempre apenas sonhos. Antes, de chapéu sobre a farta cabeleira e cigarro no canto da boca eu sonhava nos períodos incertos nas certezas que ia tendo, agora, cabeça queimada do sol que os brancos cabelos já não têm força de proteger e respirar ofegante dum cansaço inato, mal consigo chegar ao zulmarinho onde possa estar de olhos postos no amanhã sorridente dum dia de outono pensado em cacimbo que se vai levantar não tarda.
Foi o tempo que passou, às vezes a passo lento, outras em veloz correria, umas vezes sem deixar marca, outras marcando-me com indeléveis riscos o corpo.
Bebo uma água mineral fresca, recordo a arrumação dos sonhos por capítulos, cruzo as pernas, enquanto olho com olhar tranquilo, para os casos das coisas que ainda me falta catalogar.
Como eu gostava de ter sido um sonhador.
se não és sonhador afinal és o quê?
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