Já não me lembro a que horas anoitecia porque era no tempo em que o tempo não me fazia falta. Mas era no tempo em que eu esperava sentado na cadeira de baloiço, que era do meu avô e estava na sua varanda, que tu chegasses e fosses à tua varanda receber o entardecer. Eu olhava-te sabendo que tu nem sabias que eu estava ali. Mesmo que virasses o teu olhar para mim tu não me vias, porque tu não querias ver pequeno. Eu odiava-me e acho que o fazia por ti. Mas todos os dias eu fazia o mesmo ritual porque sabia de cor o teu. Adivinhava-te.
Quantas vezes me entreguei à tua presença e tu nem notaste, nem reparaste.
E depois do anoitecer, recolhia-me e sonhava naquele instante em que altivamente respiraste o entardecer que te entrou na varanda.
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