Pensando em ti peguei no carro e com a minha falta de experiencia o deixei ir abaixo uma ou duas vezes. Queria ir espairecer, esquecer-me de estar ali na varanda a ver se te via, porque isso não é vida. Depois de ter conseguido arrancar, de janela aberta, ouvindo o vento que soprava para dentro afoguei as palavras que ia me dizendo em surdina. Nessa altura, me lembro como se fosse hoje, fumava, conduzia e falava os meus discursos indirectos numa sintonia do rádio que dava a mesma música umas tantas vezes por dia porque estava na moda. Estacionei o carro na beira da praia e fiquei a admirar o azul celeste do céu em contraste com o azul mar do mar.
Parou o barulho do vento em turbilhão na janela e as minhas palavras eram audíveis pelo que me silenciei por estar farto de me ouvir lamentar dos amores que não me tinha e que eu apaixonadamente sofria. Era Sábado, Domingo ou Segunda, porque podia ser um dia qualquer, já que quem sofre de amor não escolhe nem a semana.
Ainda me parece ver reflectido no vidro a minha imagem de gente triste sem lágrimas, ouvir o choro que não se via e apanhar no chão as tristezas que soltava nos ais calados.
Peguei novamente no carro, abafei-me nos ventos laterais e segui sem rumo numa estrada que ainda percorro como se esse instante não fosse mais que a eternidade da paixão efémera.
Ainda hoje, quando olho nas estrelas eu vejo o céu azul celesta dessa adolescência glorificada.
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