recomeça o futuro sem esquecer o passado

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28 de fevereiro de 2018

69 - Estórias do sofá - um romance de amor eterno enquanto durar

Tem menina por aí que chora de amor. Ela é Maria, Leucádia ou só Serafina. Ela é tristeza sem razão
Não desiste, menina, que a sua estória um dia vai acontecer. A menina vai conhecer o seu par, aquela cara que não vai sair da sua memória, que vai fazer o seu coração bater que nem a própria pressa lhe chega aos calcanhares. A menina vai ver que ele vai olhar para a menina em cada detalhe. Vai-lhe ver como sorri, como encara o dia, como lava os dentes ou penteia o cabelo. Vai ver, menina, que ele vai ouvir a música que tu gosta e depois vai dar um beijo na testa num carregado de carinho. Menina, ele vai fazer rir ao mesmo tempo que lhe vai mostrar que é um desastre na cozinha. Menina, se chover ele segura o guarda-chuva e vai ficar que nem pingo para lhe proteger. Vai ver, menina que tu vai encontrar esse amor que tu pensas já não existe. Não vale chorar agora de amor que não tem pois tu merece um daqueles que parece é cola num incrível vai dar certo quando tu mesmo não parece é de verdade. Não desiste só. Teu coração é nobre, dedicado e se um dia se entregar vai ser num entregar que nem postal com aviso de recepção.
Menina, tu merece amor fechado ao fracasso, indisponível para os altos e baixos, recto que nem a linha do horizonte quando de mão dada olhar o mar no seu lá longe.
Bem, menina, não desliga o botão da vida e faz o teu exercício matinal nem que seja tarde, já noite. Vai na luta, na oportunidade e na escolha, pois vai ter uma cara ali ao lado que vai fazer o tal coração correr que nem parece é teu.
Menina, os romances são eternos enquanto duram.


Sanzalando

26 de fevereiro de 2018

sem sol de inverno

Frio parece regressou lá dos lados do norte mas não trouxe vento pelo que não tenho que segurar os cabelos à cabeça e destapar os olhos.
Tremo. Natural nesta altura nesta latitude e longitude. A chuva, se assim se pode chamar a este spray que parece vir dos lados nortes do aqui, refresca ainda mais do que os termómetros marcam.
Mesmo assim, apesar destas vicissitudes que nasceram para me atrapalhar a vida, aqui continuo eu a meditar sobre tudo e sobre o quase nada que é o instante de viver.
Eu que compreendo tudo menos a mim, que aconselha vidas menos a minha, que conta felicidade de cara triste, que segura as lágrimas gargalhando, que é impossível fazer o possível, aqui estou a editar umas palavras seguidas dando forma a uma forma de vida.
Enfim, tropeço nas letras, nas estórias que fui vivendo, nas memórias que sonhei e sigo em frente com o ar de quem ainda tem muito para caminhar e está folgado para o fazer com gosto.


Sanzalando

21 de fevereiro de 2018

eu, zulmarinho e o sol

Olha só o mar a brilhar nesse reflexos de zulmarinho. Ainda me vou dizer que não tem arquitecto atrás desse desenho natural... Me vê a levitar de fora de mim a me olhar com ar de espanto para o espanto da minha cara. 
Afinal de contas eu sou mesmo assim, um ser que procura um lugar para cair, mas não agora, é claro, com capacidade de sonhar de olhos bem abertos, com sentir de sentidos apurados e que se alimenta de esperança mesmo que saiba que não é um ser de dar certo sempre, que é alguém que se alimenta de amores quase perfeitos e de palavras que nunca ousou dizer na forma de escrita.
Olha só o mar como brilha de zulmarinho carregado como se fosse um carreiro a me dizer que o lugar do sul é ali ao virar do horizonte.
Afinal de contas eu sou um ser que criei na minha cabeça, de ilusões e contradições, de construções e destruições que gosta de ser feliz todos os dias.


Sanzalando

20 de fevereiro de 2018

eu, sol de inverno

Levito na sombra da falésia neste dia de sol de inverno. Se me chamassem de cebola eu ia rir. Camisa, camiseta e camisola e ainda assim eu vou tremer não me conheço eu. Mas o sol me chamou e eu vim ver o zulmarinho baloiçar nos meus pés. É um assim de todos os dias, um não desistir de mim, de ser e não esquecer, de confundir verdades com permanecias vitais de todos os apesares, de todas as formas de ser valente. É assim uma forma de ser feliz na dança das ilusões. Os teus olhos até que brilham e os meus também. Os teus lábios me sorriem, e os meus também. Tens esperança e eu também.
E lá em baixo o zulmarinho continua a marulhar o perfume de maresia neste sol de inverno.


Sanzalando

15 de fevereiro de 2018

eu, chocolate

É vento norte que sopra. Faz frio que chega ao osso e até ele fica arrepiadinho. Mas mesmo assim me deito na areia das mil cores a ver o zulmarinho se espreguiçar na areia e me embalo no marulhar como que a meditar sobre sim ou não.
Na minha cabeça às vezes eu sou como chocolate. Às vezes me apetece, outras não. Às vezes me derreto, outras não. Às vezes sou doce, outras não. Mas uma coisa é certa, me vejo sempre igual na essência, sentado na rua, atirado para o fundo dum sofá, estendido na areia da praia ou mesmo de fato e gravata.
Me apareço do nada nos meus pensamentos ou raramente saio dele. Em qualquer canto sou feliz enquanto eu sou eu, mesmo que às vezes seja como chocolate.
Faz frio, faz sol e eu vejo o mar. Sou feliz mesmo que não me apeteça gargalhar ao deus dará.

Sanzalando

12 de fevereiro de 2018

frio, medito

Medito sobre palavras embrulhado em frio. Canto em silêncio a estória da minha vida. Pelo menos a que eu imagino que vivi.
O frio aperta e o vento sopra como a que lhe afiar de modo que entra nos buracos da lã e chega até nos ossos. Tempo frio em tempo de meditar.
Deixo pensamento sobre pensamento como se fosse um castelo de pedra que estou a construir. Se chorei? Uê, não tem conta as vezes. Se ri? hum, não sei se não foi mais que as outras. O mundo caiu nas minhas costas? tse, não sei como aguentei.
Não tem frio que me aqueça nem arrefeça o estado de alma. Rotina é tortura e por isso medito para ser diferente. Não tem dor maior que a minha vontade.


Sanzalando

10 de fevereiro de 2018

não me tirem o sonho

Que o desejo de sonhar não se me acabe nem se perca na cortina do nevoeiro. Podem-me acabar as palavras, a gramática ou as frases faladas ao ritmo da infância mas não me tirem a capacidade de sonhar. 
Tem dias que os dias são os mais felizes da minha vida assim na forma de demonstrar que existo no máximo de mim, na forma de ser amor para mim ou para outros.
Um sorriso, um olhar ou um simples acenar pode ser a força desse amor, pode ser a locomotiva dum sonho que me leva ao caminho longo da fantasia.
Não me tirem a capacidade de sonhar mesmo quando estou acordado protestando com o frio do vento norte que me arrasta da linha que me cruza o olhar.


Sanzalando

7 de fevereiro de 2018

imagem de frio feito

Sopra vento, acho eu é de norte. Pouco me importa de onde ele sopra se é frio que eu sinto. Escondo-me a um canto como que a abrigar-me sei lá bem eu de quê, e deixo o que resta do pensamento vagabundear-se por aí.
Ouço o marulhar. Sinto o perfume da maresia. Sinto o sabor a sal no ar.
À cabeça chega-me imagem de outras eras, outras alturas onde imperava o preto e branco ou o colorido garrido da minha inocência. Ela, a imagem, tinha um olhar forte, intimidador, enquanto eu sorria mesmo assim. A sua cara era fria, carrancuda e inexpressiva. A sua inteligência não transparecia na face e se tinha talentos não sei. Mas a imagem não me saia da cabeça. Não socializava comigo. Estava ali a perturbar o meu momento como se fosse eu a criar a sua imagem imortalmente para mim.
Continuei a sorrir. Abanei a cabeça como que a querer liberta-me, a querer livra-me da criação mental. Me encantei com a falta de sorriso, com o intimidador olhar penetrante e inexpressivo. 
Ela era de outro mundo ou eu estava só a caminhar para o gelado mundo dos vivos daqui.


Sanzalando

6 de fevereiro de 2018

o tempo sem tempo

Tremo de frio. Só de pensar nele eu tremo. É o tempo dele, dizem-me em tom de conforto que eu não me conformo. Faz frio, um frio que além de se sentir vê-se. Estranhamente acho que tremo mais de o ver que de o sentir.
Ai tivesse tempo para eu estar numa esquina a ver o trânsito que passa, as pessoas que correm, muitas para lado nenhum. Ai tivesse tempo de correr na praia, salpicar areia e pular de alegria sem tremer de frio.
Ai frio que me gelas os pensamentos e me congelas o sorriso.


Sanzalando

2 de fevereiro de 2018

distraídamente


Me deixo embalar nas ondas do mar como se estivesse deitado numa cama de rede num tarde tropical. Outras vezes estou tão ocupado a salvar o mundo que me esqueço de salvar a mim mesmo. Tem vezes que que parece que me encontro e dou comigo afastado para um esconderijo de mim. 
Afinal de contas as boas intenções não podemos oferecer em embrulhos bonitos de presente. Temos que ser mesmo nós a lhes levar. 
É sina, destino ou fado.


Sanzalando