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26 de outubro de 2024

abraço congelado

Fica fechado na minha cabeça, no armário da memória, na prateleira dos arrependidos aquele último abraço que não te dei. Não sabia que me estavas a dizer adeus. Não imaginava que estavas a mandar-me embora de coração destroçado mas ar altivo para um sempre que vai quase na metade de um século. Pensei era mais uma das tuas caras de até amanhã que hoje estou zangada. Estranhei-me que um dia, outro e outro se passaram marcados por silêncio.
Tentei falar-te mas o silêncio e a ausência eram sólidas evidências.
Fiquei comum aperto do peito, uma dor nos braços e umas lágrimas nos olhos.
O tempo foi passando. O silêncio manteve-se. A dor no peito foi-se aliviando até ao ponto de eu já não lembrar mais, os braços fizeram outros movimentos e deram outros abraços. O tempo lento ia andando como que novos caminhos fossem desenhados na minha cabeça. Uma ou outra madrugada, um ou outro momento de solidão, vinha-me à memória a vontade daquele abraço que não dei.
Congelado no tempo ainda encontro esse tal abraço, conservado e pronto para ser usado. Como é possível que o tempo de conservação seja tão longo quando o abraço foi desperdiçado no esquecimento de há quase um século?


Sanzalando

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