Gostava de escrever uma carta como escritor de papel passado e certificado no bolso. Mas antes disso eu tenho de aprender a escrever. Não. Não é o mesmo que ler. Ler a gente ouve as palavras que o outro escreveu. Eu queria mesmo é que estivessem a ler as minhas palavras ditas num papel de livro. Assim como que um livro não é uma catrefada de palavras escritas numa molho de papel. O falar a gente diz e as palavras vão embora e se perdem no ar, No livro estão ali. Podem sempre ser buscadas sublinhadas ou riscadas. Cada palavras é um pedaço de mim ali tatuado de forma eterna. Risos, pensamentos ou tristezas e emoções ali gravadas.
Mas quem sou eu para escrever um livro que fale de mim e da resma de coisas que tenho dentro de mim? Quem sou eu para quebrar o silêncio da minha existência apagada ou deslustrada pelo tempo que passa?
Sim, eu sei que sou o melhor escritor que tenho dentro de mim, mas quem me faz escritor seria quem um dia me leu.
Nesse futuro incerto que teve um passado em que registei nas palavras que um dia gravei numa folha de papel já não com tinta de chumbo nem caracteres postos uma a um como no tempo em que os livros hoje tenham cheiro a pó, nem com os vocabulários da literatura erudita, sublinhados e grafitados por cima numa linguagem mais simples dirão que eu tinha o estilo característico de mim mesmo. As palavras são a cópia dele. Futurologia.
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