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7 de outubro de 2024

porque escrevo

e eu me pergunto: porque escrevo?
um dia, quando souber escrever, depois de muito treinar e muito deitar fora, eu vou escrever. É claro que vai estar o eu de mim nas palavras que eu escrever, mas eu vou só fazer de conta que nem sou eu que me estou a limpar de forma solitária.
abstraído do ruído do mundo encerro-me em cada palavra e, com sentido, vou me transparentizar numa forma de desenho que em vez de traços e pinceladas, leva letras e frases feitas a desfazerem-se em sentido. deixa só aprender a escrever direito, assim como que nem os clássicos, os modernos e vanguardistas, e vou levar-me livro dentro que nem fantasma encarna no corpo do leitor. Se não tiver leitor fica só encarnado na capa até que apareça um num futuro qualquer se ainda houver mundo. 
o livro que eu escrever é para ser lido lá mais para a tardinha, quando o mundo estiver sossegado, quase depois do pôr do sol e antes do cair da noite escura.
mas porque escrevo agora se é para ser lido só nessa tarde quase noite?
descomplica-me. Tem gente que gosta e tem gente que nem vai ver. Um dia num acaso alguém vai abrir e me vai desnudizar as palavras que eu agora escrevi. Vai dizer ele estava assim e assado e coisa mais que tal. Quem ler vai ter a liberdade de pensar que nem como eu, ou diferentemente. É livre de ler como entender, da mesma maneira que eu escrevi livre e transparente. Igualdade, fraternidade e liberdade, são as letras que formam as minhas palavras, que fazem as frases e depois os parágrafos e por aí fora que nem lembra ao diabo. Mas escrevi. Eu escrevi. Agora só falta tu, você, alguém, ler para dar continuidade ao texto. Sem leitor ele para aqui.


Sanzalando

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