A cada metro da saída da cidade um baque eu ia sentindo. Estava que parecia ia entrar em convulsão. Eu só pedia no silêncio do meu pensamento que o Tico andasse mais depressa não fosse dar-me uma coisa na tola e segurar uma palmeira, um pé de Buganvília, um candeeiro da Avenida, e começar a gritar eu daqui não saio e ninguém me tira. Cada metro me custava a deixar
para trás. As oliveiras das hortas, o leito seco do rio, a linha paralela do caminho de ferro, tudo parecia estava a atirar-me os seus braços e segurar-me. Mas eu tenho de ser forte e sair para voltar. Como posso eu voltar se não sair?
Mas sabes, falta-me ver tanta coisa. Falta-me decorar cada fachada de casa, cada lancil onde me sentei, cada lage de passeio que eu já tinha pisado. Ainda me falta tocar em tanta coisa. Apetece-me entrar no Liceu. Invadir o Colégio das Madres, entrar na Igreja. Apetece-me agora que eu estou a ficar na distância do atrás, fazer coisas que na altura eu não tive no pensamento.
Não me grites que temos de voltar em Luanda para tratar de coisas que ainda ficaram para tratar. Eu sei e não é preciso estares sempre a repetir. Eu sei que nem abres a boca, mas a verdade é que os meus ouvidos te estão a ouvir. Eu sei que me apetece mandar vir contigo. É um escape, uma manobra de descompressão. Mas bolas eu vou só ali e já volto. Espero que este ali não seja cerca de trinta anos.
A rua dos Pescadores, a Rua das Hortas, a Rua da Fábrica essas continua a ter os mesmos nomes, continuam a ter os mesmos números nas portas. As outras ruas eu não sei e nem nunca soube o nome. Eu quero é saber outras coisas. Tas a ver? Temos que voltar para trás porque eu tenho de ver mais coisas. Eu tenho que decorar porque sabes que eu não uso caderninho para rascunho ou apontamentos. Tudo fica só gravado na minha tola e como é que eu vou ter a certeza que não estou a esquecer nada se não fizer uma revisão? Vamos voltar para trás e rever tudo direitinho? Já sei que este diálogo só se passou entre mim e eu. Co-pilota e Ti nem me ouviram e nem adivinharam o que ia na minha cabeça. O meu corpo estava a ir com eles e eu, o meu pensamento, a minha alma estava sentado na Pastelaria Oásis.
Sanzalando em AngolaMas sabes, falta-me ver tanta coisa. Falta-me decorar cada fachada de casa, cada lancil onde me sentei, cada lage de passeio que eu já tinha pisado. Ainda me falta tocar em tanta coisa. Apetece-me entrar no Liceu. Invadir o Colégio das Madres, entrar na Igreja. Apetece-me agora que eu estou a ficar na distância do atrás, fazer coisas que na altura eu não tive no pensamento.
Não me grites que temos de voltar em Luanda para tratar de coisas que ainda ficaram para tratar. Eu sei e não é preciso estares sempre a repetir. Eu sei que nem abres a boca, mas a verdade é que os meus ouvidos te estão a ouvir. Eu sei que me apetece mandar vir contigo. É um escape, uma manobra de descompressão. Mas bolas eu vou só ali e já volto. Espero que este ali não seja cerca de trinta anos.
A rua dos Pescadores, a Rua das Hortas, a Rua da Fábrica essas continua a ter os mesmos nomes, continuam a ter os mesmos números nas portas. As outras ruas eu não sei e nem nunca soube o nome. Eu quero é saber outras coisas. Tas a ver? Temos que voltar para trás porque eu tenho de ver mais coisas. Eu tenho que decorar porque sabes que eu não uso caderninho para rascunho ou apontamentos. Tudo fica só gravado na minha tola e como é que eu vou ter a certeza que não estou a esquecer nada se não fizer uma revisão? Vamos voltar para trás e rever tudo direitinho? Já sei que este diálogo só se passou entre mim e eu. Co-pilota e Ti nem me ouviram e nem adivinharam o que ia na minha cabeça. O meu corpo estava a ir com eles e eu, o meu pensamento, a minha alma estava sentado na Pastelaria Oásis.
Carlos Carranca
Pastelaria Oásis!...nas férias de Março passava sempre por lá com o Piedade (no regresso da praia) para comer um gelado! Eram uma delícia...que saudades
ResponderEliminarEspero ter contribuido para reavivar as saudades, as boas, e dar um alento para que um dia faça uma viagem à raiz.
ResponderEliminarAinda tenho na memória o sabor dos rajás, o pão de forma que ia comprar ao Domingo,a simpatia do Sr. Reis e esposa e aquelas mesas da esplanada carregadas dos "mais velhos" no corte.
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