Acho mesmo que só faltou uma. A rua que passa entre os Correios e os Caminhos de Ferro. Todas as outras foram passadas a olho fino. Aqui era isto, ali aquilo, aqui morava cicrano e ali beltrana. Corri a cidade com todos os olhos, ao mesmo tempo que sentia um medo enorme. Mas sinto medo mesmo de que? De não a voltar a ver? Mas se eu sai daqui foi mesmo só o corpo, porque a mente essa não desbou daqui nem um segundo. A cidade estava mais igual à cidade da minha memória. Ruínas quase nenhumas, reconstruções mais que muitas. E me disseram depois que não há mais porque há falta de cimento. Mas também ouvi dizer que é por pouco tempo. Se eu ouvi é porque vai ser. Tudo mexe e isso é importante. O trânsito de Luanda tem muito que aprender com o trânsito daqui. Penso eu, que não sou especialista. Também numa cidade desenhada com régua e esquadro e sem compasso, não é difícil dizer que se esta sobe, aquela desce e assim sucessivamente. Olha, aqui foi o primeiro trabalho sério que tive. Porque o primeiro mesmo era na câmara escura da casa de fotografias que o Bauleth abriu por trás da DTA. Estava a falar do Rádio Club. Hoje mora lá gente que o rádio agora é mais em baixo, quase a chegar ao Impala que ali está igual, a Sanzala dos vBrancos tá na igualmente igual ao que era. Cores e tudo. O Bairro da Mineira, por trás do colégio das madres idem aspas e tudo. No Impala só falta mesmo os cartazes a dizer que filme é que eu vou ver hoje à noite, sentado num daqueles bilhetes que estão sempre marcados nas três primeiras cadeiras da terceira fila, a contar de cá de cima. Como era divinal ir ao cinema com ela. Mas agora é de tarde e não há filme. Nem logo à noite vai haver filme. Se houvesse, te juro, que ia comprar os referidos ditos cujo bilhetes. Hoje parece que só abre para festas. Passámos e rodopiámos no Bairro Heróis do Mucaba, Bairro da Facada, subimos a rua dos Pescadores até à Casa de Saúde, virámos em direcção à casa do Lara e dali seguimos até à escola 56. Com este passeio, este meu mostrar-me a cidade, chegou a hora combinada para o jantar que era na casa do Zeca e da Té. Vamos aviar os que vimos acabadinhos de chegar, que os outros foram embalados para o Huambo. Nos esperavam à porta. Foi sentar e começar as marteladas e saboreamentos. Foi mesmo até que a mente ainda saliva. Um gosto. Muita conversa depois chegou a hora de ir para o Hotel. Amanhã é dia de iniciar o regresso à Capital. Porque é que eu tenho de partir. Vão vocês e me deixem aqui de onde eu nunca saí. Olha, eu monto uma Cubata lá na Lagoa do Arco e fico ali mesmo a pensar nos problemas do mundo. Pode ser? Não digas que não. Eu não quero mesmo sair daqui. Olha que faço birra como quando era criança.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
Por culpa de Mwanapwo vim aqui. Por culpa porque, primeiro já está nos meus favoritos e depois porque tenho de vir mais vezes aqui... e com o despudor que ultimamente tenho já sei onde virei "roubar" umas belas e magníficas fotos da nossa terra.
ResponderEliminarUm kandando do tamanho da nossa terra.
Eugénio Almeida
Lobitino:
ResponderEliminaré sempre com grande satisfação que vejo alguém a 'descobrir-me', mesmo que com cunha da minha amiga Ana Clara.
As fotos são públicas por isso não é 'roubar' mas dar-lhes utilidade.
Um grande abraço e obrigado