Depois, espírito lavado, seguimos em frente e parámos naquela árvore que ali está faz anos e que se esqueceu de crescer. Também quem foi que foi plantar uma árvore ali? A árvore dos desejos. Silenciosamente eu fiz o meu. Depois optamos que não íamos ao Tombua. Vais lá fazer o quê? Ver, disse eu com voz de quem não estava também muito virado. Então no rio flamingo se virou em direcção ao mar para ir ver Welvitchias. A gente foi mas aí o Tico pregou partida na gente. Não entrou com a tracção nas quatro rodas e se ficou atolado que até parecia areia movediça. Tira ar nos pneus. Se empurra e nada. Engrena. Desengrena. Co-pilota vai no guiador e os três marmanjos fazem força na substituição do reforço. Lá saiu ele dali e nós com quilos de areia em cima que é bom e deve fazer bem à pele. Digo eu que não sei. Vimos e fotografámos as referidas dita cuja planta que dizem que só há naquele deserto, mas que me garantem tem também na Namíbia. Não sei nem vou discutir. Mas que é a planta do meu deserto aí ninguém vai discutir comigo que eu não deixo. Voltámos à estrada e descemos mais um pouco para sul até que virámos à esquerda e vamos no Arco. Pensei vamos ver mais Welvitchia. Mas que nada. Andámos aos zigue-zagues, falésia à direita e falésia à esquerda e nós a nos afastar da estrada do asfalto. Bem, vimos uma cubatas de barro e capim e a bandeira do meu partido ali, no meio de nenhures. Depois de mais uns metros andados encontrámos uma floresta. No meio do deserto pode ter assim uma floresta? Pode sim, tanto que está aí na tua frente. Encontramos uma cambas que estavam a pic-nicar. Eu estava assim com a boca bem aberta de espanto. Como pode estar aqui esta maravilha e eu aqui tão perto e não sabia dela? Vais ver foi feita pela dipanda, me disse um dos pic-niqueiros. Rimos a bom rir e depois a boca não dava para abrir mais. Tem um lago de agia doce que até a vista não alcança. Pode haver assim tanta água num deserto e ele não lhe bebe toda? Como é? Não tas a acreditar nos teus olhos? Minha cabeça começou logo ali a fazer um filme. Não vos conto porque depois vocês iam copiar e lá se ia o meu Óscar das Américas. Escalámos, percorremos uma infinitésima parte da lagoa. Fotografias muitas. Eu não podia perder a oportunidade de fixar o paraíso do deserto. Por mim montava ali a minha cubata e ali ficava em contemplação por um período indefinido de tempo. Só mesmo o tempo necessário para pôr o equilíbrio entre mim e eu numa horizontalidade que nem balança do antigamente, daquelas em que se tinha que ir pondo pesos até que os dois patos estivessem com o bico mesmo frente a frente. Mas me dizem que não pode ser. Mas tem ali cavernas que davam suites que eu nem te conto para não ficares a salivar de inveja. Como é que é possível que eu nunca tenha ouvido falar deste canto paradisíaco aqui ao lado da terra que me viu cair das minhas pernas pela primeira vez?
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
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