Tinha 4 anos e sem dizeres adeus, por falta de tempo, só pode, desapareceste da minha vida. Não me consigo lembrar se depois do carro preto do Dr. teu amigo, dono dessa foto em que lhe roubei o teu pedaço, que foi lá em casa dizer que tu tinhas viajado para sempre, e que eu me lembro como se fosse hoje dessa hora de almoço desse domingo, eu chorei muito, eu desesperei, birrei ou que é que fiz. Se apagou tudo da memória e ao longo dos tempos, quando eu comecei a juntar pensamentos e ideias na minha cabeça fui juntando fragmentos e fui fazendo a tua história. Me lembro de para aí ao 12 anos ter 'assaltado' aquela caixa de madeira que a mãe guardava zelosamente e quase que parecia secretamente na garagem e ter tirado de lá o Advogado do Diabo e lido como se estivesse a cometer um crime. Me lembro de me dizerem que te escondias em casa se o teu clube perdia lá terra que não conhecias e parece que até nem gostavas, para que os teus amigos não brincassem com essa tua 'doença'. Sorte que nesse tempo até parece que não te acontecia muito, pois se fosse hoje eles iam pensar que tinhas hibernado ou que a tua águia tinha deixado de voar. Me lembro que me disseram que tinhas tanta certeza que o teu primeiro filho ia ser um másculo e te saiu uma fêmea e por isso te escondeste uns tempo. Me disse a mãe que andavas sempre de gravata, só que amarrotada no bolso porque a lei não dizia onde é que ela tinha de estar.
Me contaram que nas terras do Lobito escreveste porque as mulheres começaram a andar de calças e tu não gostaste de ver, hoje estavas feito na azia porque onde quer que olhes não ias ver saias.
Me contaram que salvaste pessoas do primeiro balcão no dia do incêndio no cinema que até parecias eras herói.
Pai, tanta coisa mais me contaram e eu não te posso perguntar se é verdade, ou foi só coisas para me encher o ego. Eu sei que por aí se ouve tudo e por isso estás a ouvir o que eu estou aqui a te falar e assim me vais dizer que a tua falta de tempo nestes tempos todos foi só porque estavas ocupado a ser como sempre foste: boa gente e um dia vais me contar tudo e voltar a ser o meu Pai.
Sanzalando
Me deu o mote.
ResponderEliminarE eu que queria chorar, choro ninado, fora das minhas palavras e do meu " cubico ", vim chorar aqui neste seu poema proseado, hino de saudade,de amor e de beleza de um tamanho, igual a amor de pai e filho. Infindável...
Parabéns.
O sentimento, o talento e o momento me fizeram rolar lágrimas que andam sempre suspensas no pensamento e que precisam me vir dizer cara a cara que é nestes momentos assim que estou tão próxima do meu pai que quase lhe oiço, lhe toco e lhe sinto seu beijo. Obrigada.
Tenha um bom dia.
Beijo.
Invariavelmente neste dia deixamos os outros ler o nosso pensamento pois desenhamo-lo com palavras. Também escrevi o meu. Já li e ouvi o teu afecto tantas outras vezes que até parece que já conheço o teu pai.
ResponderEliminarOs nossos kotas devem estar lá no infinito a sorrir.
Sempre a admirar-te.
SJB