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7 de outubro de 2011

relembrando o carro de rolamentos e outras coisas

Afinal de contas eu ainda sorrio quando me lembro de ti, das nossas brincadeiras que gastavam calções, sapatos e passeios. Das nossas corridas de carros de rolamentos nuns fins de tarde intermináveis para a velha Maria e sua filha D. Idalina, que eu lhes conheci já no peso da muita idade. Nesse tempo eu acho era o garoto mais idiota deste mundo e alguns arredores porque tudo fazia para arrancar sorrisos e dores de cabeça sem hora marcada nem ordem versa ou inversa. O mais santo e quase o mais traquina num ar angélico de pau carunchoso. Mas mesmo assim não me consigo lembrar de alguma vez me ter ficado mal com as velhas senhoras que nem descansar podiam. Mentira. Me lembro sim mas faz de conta eu quero esquecer e desconsigo ainda hoje. Bater na porta e fugir. Não tinha campainha era mesmo ferro parecia era martelo. Batia com força parecia ia haver fogo. E D. Maria, carregada no peso da idade, se arrastava para abrir e já eu estava escondido atrás do muro do quintalão a rir parecia tinha visto comédia. Ela gritava que isso não se faz em direcção a lado nenhum. Eu ria só atrás do murro como se tivesse feito a coisa mais engraçada do mundo.
Como que lhe devia doer ver os garotos lhe gozar assim, mas o peso da idade não lhe deixava vir a correr e dar um bom par de lambadas que naquela altura eram permitidas. 
Mas nunca ela, nem o Raul Gomes que além das moriangas que acho se chamam agora moreias, se zangaram porque o passeio ficava polido com o passar dos múltiplos carros de rolamentos.
Ainda dói lembrar que era o garoto esquecido e nunca o príncipe engatado, de orelhas de abano e esqueleticamente em pé que calcorreava a cidade para ver a paixão escondida num canto secreto do coração.


Sanzalando

2 comentários:

  1. Gostei de ler. Gosto destes q me fazem tb regressar aos tempos da minha cidade.
    Grande abraço
    W

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