Eis-me aqui passeando onde era o velho campo de futebol. Atrás de mim foi o matador. As bancadas ainda aqui estão, o plano semi marcado no chão ainda aqui está. As casas do Caminho de Ferro, carregadas de árvores e trepadeiras ainda aqui estão. A estrada por asfaltar ainda aqui está. Eu aqui, olhando o pelado que me parece enorme me deixo vagabundear por imagens que não sei se sonhei, se alguma vez as vi, gritando golo ou batendo palmas.
Por aqui esperando me entender, lembrando promessas que não sei se fiz, deixo os meus olhos apaixonados fazerem filmes.
Grande Defesa do Travassos. Ou foi o Leopoldo. Não, acho foi o Bitacaia. De certeza foi o Capela, o Rui Monteiro da Costa ou teria sido o Marcelino do Lubango? Me perdi nestes filmes ainda a preto e branco e com tantos cortes deve ter sido para esquecer momentos. Dizem-me que o Benfica perdeu e o meu pai não vai sair de casa porque lhe vão dar músicas dele perder a calma.
Faço um intervalo para afastar a dor da saudade que me cega e me cansa.
Sento-me no que resta da pequena bancada que aqui perdida parece um monumento ao abandono.
A cabeça cai-me sobre os joelhos, apoiada pelos queixos e os olhos disparam para tão longe que a grande árvore me parece até pequena.
Me cansei de acreditar cegamente na esperança. Mas um dia a visão vai voltar e eu não terei outras opções se não acreditar que os antigamentes existem para a gente lhes melhorar no presentemente.
Não sou segunda opção, não tenho outra opção e resisto como se fosse uma antiguidade para não me esquecer do passado.
Sentado nas bancadas do velho campo de futebol, de costas para o matador abandonado, sentido o perfume das trepadeiras e árvores das casas do caminho de ferro decido viver feliz sonhando sempre com o perfume que não sei se alguma vez dei valor.
Sanzalando
Bela forma de sentir, escrever e partilhar. Obrigada.
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