Tá chover parece o céu vai cair não tarda nada. Estou na esquina dos Fonsecas e tem aqui lago que vai dar para andar de barco. Carros quando estão a passar parecem mesmo barcos. E ainda parecem fazem de propósito para me molhar.
Mas é agora que eu melhor sinto o teu aroma, imagino a tua suavidade e revejo a tua beleza.
Sei que cada esquina tem um perfume diferente, depende mesmo só de quem cheira. Mas aqui, não sei se é das flores que estão a separar a estrada por entre o gradeado de arame feito em meios arcos, se é das árvores grandes que começam e acabam esta pequena avenida. Eu aqui sinto o perfume que gosto de sentir. Eu sei que não é o mesmo perfume que adoro na Senhora do Monte quando vou lá no planalto. Mas este é o que eu tenho mais à mão, que me atrai cada vez mais a ti.
Chove a cântaros, como se eu alguma vez tivesse visto algum aqui na areia do meu deserto de alma, e parece que tu te afastas cada vez mais de mim embora eu me enrosque cada vez mais no mimmesmo do teu perfume chamado saudade.
Foi aqui, nesta esquina que me encharco, que eu prometi que ia olhar por ti toda a minha eternidade e foi aqui, anos mais tarde, num futuro que já passou, que chorei por não ter conseguido cumprir.
Hoje chove e toda a água que cai sobre mim é pouca para me lavar os remorsos.
Chove e eu sinto o teu perfume desta esquina como se fosse a minha nostalgia a abraçar-me, o teu carinho ao adormecer-me, como se o mundo parasse e eu não morresse de te ver cada vez mais longe do mimmesmo que escudei.
Chove na esquina dos Fonsecas e eu grito no meu silêncio, encharcado, para que não me abandones como eu te abandonei num dia que esqueci.
Sanzalando
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