Caminho no quarto crescente da marginal em direcção ao porto que está deserto, visto desde aqui. À minha direita estão os hexágonos que não deixam a água da maré cheia chegar na estrada, mas que não lhe faz nada nos dias de calema. Mas hoje o mar está chão e eu posso caminhar aqui e lavar os meus pensamentos em velocidade rápida, cabelos esvoaçadamente ao vento que não sopra mas trás o perfume da maresia até mim. Cada imagem é um abraço, uma forma de afecto, uma forma de eu saber que esta cidade é minha. à minha esquerda se ergue a falésia que me é enorme mas não sei se dúzia de metros é exagero. É a minha cidade a me proteger dos ventos do deserto.
Como posso odiar quando me encontro aqui despido num campo aberto de nostalgia? Eu, o mar e para lá o deserto. Os meus pensamentos, flashes de paixão, dores de promessas quebradas, choros calados de silêncios repetidos, tudo é lavado, um a um, numa nitidez que qualquer azul mar é um momento de fixar. Me abraço e me mimo numa carícia de amor próprio, numa ternura com que digo que esta cidade é minha, ontem, hoje e sempre.
Me podem cortar os pulsos, me arrancar os olhos, me tirarem a chão dos pés, esta cidade será sempre, na minha cabeça, a minha cidade.
A vida não é só dádiva, é um precisarmos um do outro numa amor sem quebra cabeças.
Caminho no quarto crescente da marginal lavando pensamentos como se montasse um brinquedo para mais tarde brincar.
Cidade, eu não gosto de perder, nem em amor no amor que te tenho.
Até já.
Sanzalando
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