recomeça o futuro sem esquecer o passado

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30 de novembro de 2017

saudade de ser eu sempre.

Tremo de frio sob um sol de inverno. O céu está que nem lavado e o mar que nem chão polido de brilhantes. Eu aqui perdido num universo de ideias e ideais, num emaranhado de sonhos ou de imagens imaginadas num delírio febril sem febre. Ansioso, discuto-me e zango-me solenemente. Não me consigo lembrar de 10 coisas que tenha aprendido hoje. O que vou fazer da minha vida? Indecisão decidida nos anos de juventude e que hoje me ocorreu. Vou por os meus mil planos em acção e realizar um qualquer, desnorteado aceito um que seja. 
Será doença sentir-me assim?
Deve ser apenasmente saudade de ser eu sempre.

Sanzalando

24 de novembro de 2017

meditação á beira mar

Me deixo quase adormecer ao som do marulhar. Estou abrigado, levando apenas com uma ligeira brisa que me acaricia, levando ao ponto de meditação, em que os pensamentos são aparentemente mais leves que o próprio ar. A vida é feita de encontros e desencontros e cada encontro é um reviver de amor, um somatório de desejos. Por sua vez, os desencontros, são facadas no peito, lições de vida, recomeços, ausencias.
Ciclo vicioso esta vida de meditação á beira mar

Sanzalando

22 de novembro de 2017

68 - Estórias no sofá - conversa fiada

Os anos vão passando e eu deixo um bocado de mim em cada dia. Nos dias de sol, sorrio e gargalho, nos outros também porém aqui e ali posso estar carrancudo de aspecto ou circunspecto do ar que se me dá. Sento-me num café e converso com quem chega, mesmo não sabendo se querem conversar comigo. Educadamente me apresento primeiro, é claro. Os meus pais lá no céu não me perdoaram outro comportamento e eu aqui na terra tenho por hábito de não falar com desconhecidos e para que isso não aconteça me apresento com nome completo, Joaquim Manuel Florimundo, falador nato e ouvidor ao vosso serviço, natural da terra mas quase sempre vivendo no mundo da lua. Há quem me olhe assim num misto de chega para lá e outros que me retribuem com um sorriso o nome. 
Começo sempre a minha conversa monóloga com coisas lindas, agradáveis, que até nos olhos se tornan brilhantemente coloridas. Mesmo que o meu coração esteja amarfanhado por qualquer desilusão inventada no fervilhar dos meus dias serenos, mesmo que eu esteja cheio do vazio gigante da minha vida, não me falta amor próprio nem amor alheio, para eu me esconder em falas tristes de chorar por mais. Pois além do mais, amor é não desistir e se desistir vai ter que pedir perdão, por isso haja amor pois então.
Mas me cruzo diariamente com gente que só falta alguém chegar perto e dizer: você morreu. Porque eles morreram mas não sabem. A cara deles é fúnebre, defunta mesmo. Cara de morto vivo e ainda por cima ignorante. Aí eu chego, falo de vazios menos vazios que eles mesmo. Não lhes vou contrariar porque ninguém gosta. Aos poucos lhes digo o cada dia de mim que fica para trás e eu não sei se tenho tempo para a frente para fazer o que ainda me falta fazer, lhes peço ajuda. Aqui começo a ter resposta. Florimundo está a conseguir chegar lá. Já minha mãe, D. Ernestina, me dizia que eu tinha era lábia para vender carro avariado a mecânico. Mas nunca vendi carro porque nunca tive nenhum. Lhes conto o bocado de mim que fui deixando no lastro do passado e o resto que ainda não se foi porque lhe preciso para viver o meu futuro. Eu lá vou dizendo onde eu gostaria de ir, desde as Maurícias, India, ou ao café da esquina, depende do ar e dos horizontes imaginários.
Os corações se começam a abrir, as palavras vão sendo devolvidas, pouco a pouco a conversa monólogo passa a diáloga. Ninguém sabe onde ir, o que fazer, porque todo o seu resto foi perdido no passado e o presente é sempre escuro, mais escuro a cada dia. A conversa vai acendendo uma luz e eu Florimundo dou-me por feliz por ter ali um interruptor chamado lata descarada para conversar ao deus dará e se ele dá que dê.
Tem tanta gente que se odeia e não acredita nas palavras bonitas. Deviam ter conhecido a minha mãe. D. Ernestina. Para ela o amor era soberano. Quem amava ia chegar mais perto do deus porque o coração dispara luz brilhante, me dizia ela constantemente. Luz e amor se misturam como se estivessem para fazer um bolo. Acho ela morreu a rir. Os olhos dela eram assim.
Eu, Joaquim Manuel Florimundo, me confesso porque tenho vontade de fechar os olhos, recordar as conversas fiadas e por desfiar, rever os buracos negros e a falta de confiança, a dor, a sombra, a agressão e a morte que circula pelos passeios destes dias. Mas, acordado, respiro fundo, procuro as cores vivas que vivi, os mergulhos que dei nas profundezas da angustia e a alegria de ter vindo à superfície respirar.
Mas na minha conversa fiada aprendi que cada dia de viver é melhor do que cada dia se já tivesse morrido e não estaria aqui a contar.
Aos poucos vou ensinado a respirar, não o ar que isso é nato, mas cada segundo, engolir os sabores agradáveis do bem viver. Ah, eu sofro mais que qualquer outro e o outro diz que sofre sempre mais e por aí adiante, por isso, no cada dia que deixo qualquer coisa sorrio.
Joaquim Manuel Florimundo aprendi a viver com a vida e fui na conversa com ela.



Sanzalando

21 de novembro de 2017

estados de espírito ou de memória

A lua já está no céu, a caminho do quarto minguante ou já vai ser lua cheia. Perdi-me a olhar o céu. Vamos pô-la entre uma fase e outra que ela assim não se deve ofender.
O seu brilho no mar não é brilho brilhante, é uma mancha bonita de contemplar. 
Afinal de contas a vida segue, o bonito bonito manter-se-á na memória, a força manter-se-á forte na recordação e todo o momento será um momento, mesmo que alternemos a ordem deles. Ás vezes queremos apagar uma coisa ou outra mas nem o tempo é capaz disso. De qualquer forma a gente se lembra. Uma vezes com dor, outras com saudade. Nestas os olhos brilham nas outras também. Ambas brilham de causas diferentes. É como a lua e o mar. Nem sempre o seu brilho é igual. Hoje é um brilho triste, num qualquer amanh~ºa de lua nova será um brilho brilhante de lantejoulas prateadas reflectindo nas ondas.
Quantas vezes a cabeça trás à superfície o que o coração tenta deixar escondido da memória?
O que vale mesmo é que o zulmarinho se mantém ali a me acalmar os estados de espírito

Sanzalando

17 de novembro de 2017

a ver o zulinho

Me olha só esse mar. Zulinho que até parece brilha e o sol faz autoestrada a caminho de sul que quase apetece caminhar sobre ele.
Mas olha, dói saber que quando nos apetece aproximar, ele se revolta em onda gelada dum jeito aparentemente desajeitado.
Me olha nos olhos e respira esta maresia e verás o meu coração transparentizar-se. 
Não, não estou cansado de estar aqui a me levar nos ventos da imaginação e a voar por desejos porque a minha vida é montada por mim e minha cabeça, mantendo sempre um fio de esperança num concreto viver feliz.

Sanzalando

15 de novembro de 2017

a brisa quer ser vento e eu silêncio

Hoje a brisa parece quer ser vento. É normal as coisas crescerem, quererem ser maiores ou melhores. Mas ò brisa, deixa-te de coisas. Está aqui uma pessoa a querer levitar o pensamento para longes sonhados ou vividos por viver e tu a despentear e empurrar, desconcentrando este recolher obrigatoriamente interior.
Imagina-te, brisa, a dar a volta ao mundo, divertir-te, soprares forte em desertos e brandamente em areais de zulmarinho. Eras simpática.
Agora aqui, a quereres sentar-te no meu colo, tirar-me do lugar, desconcentrar, ferir-me a alma e retirares-me a calma, não é racional nem razoável. Vá lá. Sejas amorosa, brisa. Sopra só assim para eu saber que estás por aqui e me deixa ir vagabundar pensamentos para onde me apetecer num levitar de ideias sem vontade de voltar.
Ops... não te deixas enganar, brisa, e queres ser vento hoje? Queres ser tu quem decide a tua atitude? Desculpa me misturar no teu desejo. Hoje fico então aqui em silêncio.


Sanzalando

14 de novembro de 2017

vidas

Brisa ligeira me despenteia como carícia. Até me sabe bem. A maresia me perfuma o sonho como se precisasse de ser alindado ainda mais. Mas dá jeito. Ao fim e ao cabo a minha realização mental é a minha beleza e tudo o que realça a beleza é bem vinda. É a minha vida. Não tenho uma vida de sonho e uma de realidade, isto é, não tenho duas vidas. Só tenho uma e é esta que me permite adornar conforme faço, me apetece ou desejo. Não tenho duas vidas. Vida consciente e com sentido.

Sanzalando

ajudando eus

Percorro a praia como que passeando ao longo da vida, lentamente e sem pressas.Olho a paisagem como se ela fosse uma fotografia a decorar. Olhos os rostos de quem me cruzo para num mais tarde me lembrar. sigo no meu silêncio como se estivesse num diálogo com o zulmarinho. A vida é uma coisas tão simples para se viver complicando, por isso, nesta lentidão encontro soluções que sempre estiveram na minha mão, porque todas as soluções estão dentro de mim, como se eu fosse um depósito de soluções.
Percorro a praia tentando dar a mão a quem passa. Mas com o frio que está, já pouca gente passa e esses poucos estão carregados de pressa ensimesmados nos seus problemas que não têm tempo para olhar as mão que se lhes estendem.

Sanzalando

12 de novembro de 2017

meditação consciente

Faço meditação na areia que já foi molhada pelo zulmarinho na maré baixa e que agora está boa para confortavelmente eu deixar o meu corpo inerte enquanto vagabundo por aís. Não construi paredes ou muros à minha volta. Estou virado para o mar a meditar. Se por acaso, mero acaso, eu os tivesse construído, assim numa forma de redoma, não era para me isolar do mundo, era mesmo para ver quem é que se importava o suficiente para os destruir.
Enquanto isso medito. Embrulhado num casaco e numa toalha que a aragem fresca já não me deixa pensar que é verão vou soletrando palavras, vagarosamente para ver se não me engano entre gaivotas e gralhas.
Não me considerasse eu quase a perfeição, e neste estado meditativo eu diria que gostava de ser criança porque o meu coração ainda não havia conhecido tristeza e dor. Mas esta redoma, a minha consciência, sem parede e sem muros, me diz que eu estou a olhar o futuro com o o mesmo sorriso que sempre tive.


Sanzalando

11 de novembro de 2017

autobiografia que não fiz

Olho para lá longe de mim, para lá do mar, para lá do que a vista pode alcançar. Não deixo ninguém tirar a minha paz. É minha, está na minha mente sentir-me em paz. Tenho o poder de mandar em mim. (Acho eu, se ela não souber que eu o escrevi.)
Para e tirarem a minha paz é porque eu dei o poder a alguém para o fazer. A minha consciência não ia permitir uma coisa dessas. Eu não dou esse poder a ninguém. Eu não sou este momento. Sou muito mais que isso. Sou todos os momentos que vivi até ao momento agora, mesmo que demore um pouco mais a escrever do que a pensar. As forças exteriores, armas, palavras, olhares ou silêncios podem tentar entrar em mim, podem tentar derrubar a minha paz. Eu interpreto, analiso, mas não perco a minha paz. É que não sei se há Felicidade sem paz. Por isso... ninguém derruba a minha paz. Nem aqueles gajos chatos, me conseguem chatear. Mantenho minha paz porque a minha realidade consciente é o Eu que sou.


Sanzalando

10 de novembro de 2017

passeei na cidade

Olho o mar. O meu zulmarinho está sereno parece chão feito de céu. O marulhar é silêncio. A maresia é intensa. O pensamento é vago. Cheio de força porém saltita de lugar em lugar como se eu fosse um salalé, com a destreza duma gazela, com a beleza duma onça e a suavidade duma borboleta. Fui desde a Torre do Tombo até no forte de Santa Rita. Fui desde a marginal até na Junta Autónoma das Estradas. Cruzei a cidade cidade, vi cada casa e seu encanto, vi os sorrisos na janela de quem lá estava, assim como que por magia, embalei nos sonhos de criança, nos lugares sagrados da minha educação, nos pontos cardeais do meu crescer. Não tirei os olhos do mar para não acordar deste vagabundante pensamento.
Me cruzei com Maria Cachucha, Vi o Faria e o Zé das Baleias. Conversei com o lobo marinho e repensei carambolas no Magriços. Comprei ginguba no Camonano, banana na Laurinda e manga no Torres. Um copo de vinho ficou por beber no Manuel Padeiro, um fino na Minhota e um pastel de Nata na Oásis.
Continuei a olhar o mar que se mantinha sereno parecido com chá feito de céu.
Fui ao Eurico, passei no Impala. Vi o Horto e o parque infantil com o seu cavalinho de madeira a bumbar no para frente e para trás que parecia ia ter vida.
E o mar continua sereno como serena está a minha alma.

Sanzalando

8 de novembro de 2017

incoerência de mim

Longe do lugar onde ficou para sempre a minha placenta, onde a minha mãe gritou e gemeu para eu ter vida, eu vivo a minha vida. Umas vezes alegremente e outras triste. Umas vezes felizmente e outras porque sim. Opções. Foi a minha. É a minha num até quando me apetecer. 
Longe desse lugar mágico fui-me criando, ajudado por família e amigos, por amores e dissabores, por trabalho e vagabundagem, fui-me feito gente, tropeçando nos próprios pés, caindo em ratoeiras e bassulas da vida.
Longe desse lugar que tenho sempre presente na memória, que actualizo constantemente como se acompanhasse o progresso, limpo o pó e as teias de aranha como se nele sempre me mantenha, mantendo-me presente estando ausente por opção.
Longe desse lugar acontece-me saber, que por opção, vivo a magia da incoerência, minha própria incoerência, entenda-se, que se aparecesse neste momento um génio da lâmpada a me perguntar o que é que eu mais queria, qual o maior desejo da minha vida, eu não saberia responder uma vez que eu quero tanto tanta coisa. 


Sanzalando

7 de novembro de 2017

vagabundo de mim

Me sento no cimo da falésia e olho para lado nenhum. Disparo pensamentos direitinhos ao horizonte, que passam tangente no zulmarinho até se perderem de vista. Se eu ponho muita energia neles eles vão carregados de peso, de ansiedade e saudade e não vão nem chegar a meio do caminho que era suposto fazerem. Às vezes a gente se engana e põe dureza na força de vontade, num assim quase forçado e sai buraco de pensamento e não pensamento ele mesmo.
Tás a ver que é outono verão num só dia na mesma hora? Descomplicado. Casaco meia manga e calça curta ou calção comprido. Sandálias e meias. Tá feito. a falésia me segura. Os olhos me deixam viajar por ai soltamente. O pensamento me leva. As ideias vão ficando sem preocupação de falhar nem de me criticar por isso. Não me ataco nem me deixo atacar. Não me fecho na prisão do pensamento interiorizado. Eu vou só por aí, de pensamento em pensamento, vagabundando os meus desejos como se fossem os últimos.



Sanzalando

3 de novembro de 2017

cada dia

Passam os dias. Cada dia tem a mesma hora e até um relógio parado tem-na certa duas vezes ao dia. Uns dias faz que tem sol, outros há que chove. Todos os dias são lindos, mesmo os dias que são noite. Há noites brilhantes que nem dia e dias há escurecidos. Todos os dias são lindos. Porque interessa cada dia, à vez.


Sanzalando