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29 de fevereiro de 2020
28 de fevereiro de 2020
o Chuinga e o Beto Trindade
E hoje me apeteceu ir na tipografia do Zé Côco. Essa tipografia já foi sociedade com o meu pai num tempo em que eu ainda não sabia quase andar e quanto mais pensar. Era lá que faziam o Namibe. Meu kota... se quase eu não te conheci como é que eu ia me lembrar de te ver na tipografia? Mas não interessa esse tempo. Interessa o que eu tenho na memória, já andava na escola e ia lá visitar a tipografia da minha mãe como é que eu dizia. Estava lá sempre o Zé Côco, sua exa o Sr. Trindade, cigarro na mão e se calhar a pensar no soneto que ia sair não tardava nada, e o seu filho Beto. Me lembro do Beto e da lambreta azul clarinha. E nunca descubri porque é que ele me chamava sempre de Chuinga. Mas desimporta isso. Eu ia lá para ver as máquinas a imprimir, desde o livro de facturas
às mais diversas coisas. Aspira a folha, fecha a gaveta, sai folha já impressa. Assim rápido já tinha feito dez folhas e eu ainda a pensar e o Beto a controlar. Lá atras, num anexo lá estava outra máquina minha adorada: a guilhotina. A precisão e fineza do corte. O Beto controlava.
às mais diversas coisas. Aspira a folha, fecha a gaveta, sai folha já impressa. Assim rápido já tinha feito dez folhas e eu ainda a pensar e o Beto a controlar. Lá atras, num anexo lá estava outra máquina minha adorada: a guilhotina. A precisão e fineza do corte. O Beto controlava.
Hoje fiquei a saber que o Beto já não controla nem a maquina de impressão a pedal nem a electrica que fazia puffff de ar comprimido a cada folha, nem a guilhotina de alavanca nem a electrica.
Perdi muitas estórias da minha cidade mas mais que isso perdi o amigo que me chamava Chuinga porque eu lhe pedia dinheiro para um chuinga na loja ao lado.
Sanzalando
27 de fevereiro de 2020
brilha sol
Nem vento nem chuva, apenas um sol de inverno. E eu medito-me por aqui, vagabundamente, vagamente. Por aqui vou viajando, mentalmente. Às vezes para esquecer, outras vezes para me afastar de lutas ou desilusões ou para buscar recordações e reconstruir-me a cada momento.
O céu está azulinho, o mar o verdadeiro zulmarinho e eu aqui calminho-me por viagens perdidas no tempo. Se fosse noite haveria estrelas cintilantes, como está sol, de inverno, vejo tudo em tons de azul, como se eu estivesse num banho de paz.
Deixei de ter estrelas fragmentadas no meu coração, deixei de ter guerras em pensamentos violentos, deixei-me de estar solitariamente isolado da beleza de estar vivo, deixei de ter fantasmas invadindo-me nas horas soltas dum ser vagabundo.
Brilha sol que eu medito.
Sanzalando
26 de fevereiro de 2020
gostar
E quando brilha sol que é que faço? Medito, deambulando por pensamentos e sonhos. Me deixo embalar nas ideias criadas num subconsciente amadurecido de experiências. Gostar nunca será mau, será sempre maravilhoso mesmo que seja um gosto doloroso e profundo. Mesmo que tenha que correr riscos eu prefiro gostar. Mesmo que eu sangre na alma, mesmo que eu queira desistir, mesmo que me rasgue o preconceito ou cause defeito eu prefiro gostar O amor de gostar é muito mais doce que o fazer por afim.
Sanzalando
25 de fevereiro de 2020
23 de fevereiro de 2020
22 de fevereiro de 2020
20 de fevereiro de 2020
eu devia chover
Brilha um sol de inverno. É um brilho diferente este sol daqui. Lá, se não fizesse cacimbo o sol brilhava diferente. Ou era eu que tinha um olhar diferente? Mas eu me lembro de aprender na escola que aqui quando era inverno chovia. Mais uma vez me enganaram. Os livros, essas armas contra a ignorância, também enganam a gente. É que se chovesse aqui eu chovia também. Num mundo perfeito a gente devia também chover. Não é chorar. É mesmo chover e se calhar fazer tempestades também.
É que se a gente chovesse acho podia dizer coisas que estão no coração e que não têm maneira de sair. Assim numa diluviana chuva era capaz de limpar a gente e des-sufocar a alma da gente.
Mas aqui afinal brilha o sol, mesmo que o brilho seja diferente.
Sanzalando
19 de fevereiro de 2020
18 de fevereiro de 2020
conforto
É inverno lá fora. Faz vento e frio. Em mim é verão.
É tudo uma questão de acreditar.
É tudo uma questão de acreditar.
Acredito que sou capaz de me transformar em verão. É a mais pura verdade.
Sei que é difícil de acreditar que todo esse emaranhado de coisas más que estão a acontecer, serão substituídas por coisas boas no futuro. Mas, se eu não acreditar, quem irá fazer isso por mim? Atirar a toalha ao chão? As pessoas à minha volta querem o meu sucesso e estão prontas para me darem palavras de motivação que façam com que não desista, mas, quem tem que querer sou eu. Querer de acreditar em mim. Sou persistente, querer não desistir sob qualquer circunstância. O meu pensamento terá que mudar, e começar a pensar para frente, lá mais adiante, onde a vida vivida já está com hora e data marcada para me receber. Ela não perdoa quem se deixa abalar, quem desiste na primeira dificuldade e muito menos quem não tem coragem para batalhar pelo que quer, sem reclamar a cada segundo por estar fora zona de conforto. Então, a partir de hoje, assim que acordar e sentir que não irei aguentar mais um dia, fecho os olhos com força e digo em voz alta:
- “Eu posso, eu consigo, hoje eu darei o meu melhor!”
O mundo é meu, aproveito-o.
Sanzalando
17 de fevereiro de 2020
16 de fevereiro de 2020
15 de fevereiro de 2020
pensamento frio
Aqui, onde falam e eu nada percebo, onde o frio se aloja nos ossos e que até gela o ar na traqueia quando respiro, peço desculpa se eu quero falar de coisas sérias e sinto muito quando demoro a ter ideias sérias. Me desculpem se eu disser coisas que podem chatear. Me desculpe m se eu parecer como um irritantezinho. Me desculpem se não quiserem conversar comigo tanto quanto eu quero falar com vocês. Me desculpem se eu penso muito e muito frequentemente. Me desculpem se eu digo coisas insignificantes. Me desculpem se eu falar sobre qualquer um dos meus dramas sem sentido. Me desculpem se eu sair hoje em silêncio, é que o frio me congelou o pensamento.
Sanzalando
14 de fevereiro de 2020
estória dum não gente
Zecamanuel, sem sobrenome, sem título, tudo junto, sem nobreza de apelido ou hífen de cartório. Abandonado pelo mundo e para o mundo no beco de um lugar qualquer, foi encontrado desnutrido, sem roupa inteira, só farrapo e sem papel assinado. Ninguém sabia de onde vinha o branquela. Procuraram de um lado a outro, mas aquela rua, no beco, na Vila, na província, até se tornar um abandonado. Há que seguir o protocolo. Nenhum carro tinha sido avistado faz dias, nenhuma pessoa por perto tinha visto o que quer que seja. Ninguém. Zecamanuel estava sozinho, agora havia papel de polícia a lhe dizer. Tinha olhos castanhos, nenhum pelo de cabelo na cabeça a fazer de cabelo e a única peça mais próxima de uma vestimenta era um pedaço de pano rasgado, o quel não cobria os seus pés. Levado a uma cubata foi criado e ensinado até ao que parecia ser 18 anos, pois ninguém queria adotá-lo. Quem na vida ia adoptar um branquela? Olhavam de baixo para cima e perguntavam para os policiaa “como se chama o garoto?” e elas respondiam “Zecamanuel, sem sobrenome”. Coitado, passou a vida toda sendo excluído e pensando que não era gente como os outros.
O pobre não sabia que indigente é quem tem coragem de deixar gente como ele abandonado, sem comida e sem cuidado, em qualquer lugar.
Sanzalando
13 de fevereiro de 2020
às vezes
Um dia segue outro e a gente vai empurrando, deixando, remendando, engolindo em seco e fingindo.
Chega um tempo em que rebenta a ferida, estoura, explode, sai pus, palavrões e outros afins. É esse momento que, ao invés de curita, pomada e beijinhos, a gente precisa escarafunchar mais um pouco, abrir e, quem sabe, enfiar o dedo fundo, até sentir a dor percorrer cada centímetro do corpo. É só após esse processo que tudo cicatriza – e a gente descobre até onde vai a própria força. E se supera (ainda bem). E fez-se o luto da ferida. Às vezes se vê a cicatriz, outras nem isso. Outras é uma memória, outras nem lembra ao diabo.
Às vezes um dia segue ao outro e nem damos por isso.
12 de fevereiro de 2020
preciso
Faz conta hoje fui na praia e estava cheia de um vento bom, de uma liberdade que superava o incómodo de despentear. E eu estava só, num daqueles momentos que queria não precisar de ninguém. Preciso aprender a não precisar de ninguém. Porque é difícil? Parece eu preciso repartir tudo com alguém, tudo o que sinto.
O mar estava calmo. Eu também. Mas estava com medo. Como se essa calma pudesse não durar. Algo está sempre a acontecer. O imprevisto me fascina e eu parece tenho medo.
Preciso aprender tanto.
11 de fevereiro de 2020
há dias
Há dias que são não e dias que caberão em dias inexistentes. Ontem foi um. De manhã até á noite mais valia não ter acordado. Porque acordei hoje, dizia eu a cada 5 minutos. Se não era a tempestade de sul era a do oeste, pontos cardeais que nem concílio haveria. Acho faltou chuva de baixo para cima. Na minha alma acho nevou um manto que tudo destapou. Acho merecia ter um Óscar pelo pior dia de memória.
Mas sorrindo hoje vou levar comigo uma lição: tenho dias a ver pior...
Sanzalando
10 de fevereiro de 2020
9 de fevereiro de 2020
8 de fevereiro de 2020
7 de fevereiro de 2020
desdobrado
E quando faz sol o que faço eu? Medito. E quando não faz? Também. Ora bolas. Acho estou a um passo da loucura. Sempre que medito vou ter à saudade. Mas de tanto meditar assim, de tanto sonhar saudade eu já nem do meu nome eu me devia lembrar. Mas do que é que eu gosto. Recordar. Saudade!
Não, não estou parado no tempo, não paralisei na adolescência, nem me afoguei no mar da nostalgia pelo simples prazer de sofrer. Medito na saudade porque estou aqui, vivo e feliz, passando ao lado de dramas, comédias ou sustos, consumindo dias como se fossem o último. Se mais não vivo é porque desconsigo desdobrar-me em saudades vividas e imaginadas, ou por sentir falta de estar desocupado.
Sanzalando
6 de fevereiro de 2020
cinzenta-se o tempo e zulmarinha-se a alma
Cinzentou-se. Este inverno do lado de cá é assim uma inconstância que não dá nem para parecer nem convencer a ficar num lugar de meditação a fazê-la. Cinzenta-se e brilha parece é intermitência que chateia.
Mas neste lado de cá, imaginando que no de lá está calor, medito na magia que me provoca um sorriso recebido, um abraço dado, um cumprimento oferecido, uma carícia, um olhar, seja o que for que me seja dirigido. É a importância de estar aqui, vivo, existente, consistente e de coração aberto.
Cinzenta-se o tempo que zulmarinha-se a alma com o que me é dado sem pedir.
4 de fevereiro de 2020
3 de fevereiro de 2020
retornado sol
E o sol voltou a nascer parece é verão do lado de lá. Preciso casaco, mas casaco forte, não é como o casaquinho do lado de lá. E com este sol, agasalhado nos meus casacos de cá, me sento a olhar o zulmarinho e vagabundo-me por pensamentos soltos, sem esperar milagres, príncipes encantados e fadas madrinhas. Só palavras que me levem a atitudes e certezas com a certeza que desvio-me de egoísmos, malabarismos e sentimentalismos que me façam perder o sentido da vida.
Mesmo neste meu modo de vagabundar eu não me esqueço da ética, do valor e do bom senso. O resto faço-o.
Sanzalando
2 de fevereiro de 2020
1 de fevereiro de 2020
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