Carta ao Mau Pai
Querido Pai,
Escrevo-te esta carta com o
coração pesado e a mente atabalhuada. Há muito que guardo dentro de mim as
palavras que hoje te dirijo, na esperança de encontrar algum alívio e, talvez,
entendimento. Esta carta não é um ataque, mas um apelo à reflexão e à
compreensão.
Desde a minha infância, sempre
desejei a tua presença, o teu carinho e o teu apoio. No entanto, apenas
encontrei o silêncio, porque vazio estava o teu lugar. Um pai é a primeira
figura de autoridade e de amor na vida de um filho, e eu ansiava por ser visto,
ouvido e valorizado por ti. Sempre o fiz na imaginação, pelo que via outros
pais a fazerem aos seus filhos
Recordo-me dos momentos em que me esforçava para ter uma
recordação. Cresci sentindo que me faltava qualquer coisa. A tua aprovação ou o
teu sorriso.
Pai, a tua ausência física teve
consequências além das que eu próprio percebo. Houve momentos em que precisei
desesperadamente de um conselho, de um abraço ou simplesmente de alguém que me
escutasse e me apontasse um caminho. Em vez disso, eu estava sozinho a navegar
pelos desafios da vida sem a tua orientação, que tanto desejava.
Apesar de tudo, não escrevo esta
carta para desculpar ou protestar. Escrevo para tentar encontrar um caminho
para a minha cura e para a reconciliação do eu que exigi de mim, ser gente de
letra maiúscula.
Eu gostaria de ter conhecido o
teu lado da história. Sei que o passado não pode ser alterado.
Pai, quis o destino que morresses
quando eu era criança. Quis o destino que eu fosse um sonhador que te imaginou
sempre ao meu lado, em silêncio, mas de olhos abertos a ver-me crescer.
Com carinho
JCC
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