O vento quente do deserto soprava pela marginal, levantando
finas nuvens de areia que se misturavam ao cheiro salgado do Atlântico. Ela semicerrou
os olhos contra o brilho dourado do fim de tarde e segurou os cabelos, protegendo-se da brisa
persistente.
Caminhava devagar, os pés quase não pisavam o passeio irregular.
Ao longe, os barcos de pesca balançavam no porto, as suas sombras espelhavam na
água do zulmarinho. A cidade, com suas ruas quadriculadas e prédios coloniais
de cores desbotadas pelo tempo, parecia presa no tempo, entre a memória e o
presente.
Ela sentou-se num banco próximo à praia das Miragens. De
onde estava, podia ver as dunas estirando-se para o interior, como ondas
congeladas de areia. Lembrou-se das histórias que a minha avó lhe contara,
sobre os primeiros navegadores que chegaram ali, sobre os mistérios escondidos
na terra árida e bela de Moçâmedes.
Parou. Olhou-me e disse-me:
- O deserto é um mar inerte;
- Não. O deserto pode ser a vida. Começas sem nada e se nada
fizeres, terminas como começaste.
Olhou-me e partiu sem nada me devolver
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