22 de março de 2025

Num Março de antigamente

O vento quente do deserto soprava pela marginal, levantando finas nuvens de areia que se misturavam ao cheiro salgado do Atlântico. Ela semicerrou os olhos contra o brilho dourado do fim de tarde e  segurou os cabelos, protegendo-se da brisa persistente.

Caminhava devagar, os pés quase não pisavam o passeio irregular. Ao longe, os barcos de pesca balançavam no porto, as suas sombras espelhavam na água do zulmarinho. A cidade, com suas ruas quadriculadas e prédios coloniais de cores desbotadas pelo tempo, parecia presa no tempo, entre a memória e o presente.

Ela sentou-se num banco próximo à praia das Miragens. De onde estava, podia ver as dunas estirando-se para o interior, como ondas congeladas de areia. Lembrou-se das histórias que a minha avó lhe contara, sobre os primeiros navegadores que chegaram ali, sobre os mistérios escondidos na terra árida e bela de Moçâmedes.

Parou. Olhou-me e disse-me:

- O deserto é um mar inerte;

- Não. O deserto pode ser a vida. Começas sem nada e se nada fizeres, terminas como começaste.

Olhou-me e partiu sem nada me devolver


Sanzalando

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