Manuel lá ia a caminho da sua escola, carregando os seus 12 anos de muita vida e outro tanto de vadiagem. Mas há coisa conhecida na vizinhança que era a sua simpatia, o seu gosto particular pela brincadeira e a sua extrema educação. Todos os dias ia à escola, todos os dias trazia recado da professora. Era assim desde que entrou na primária e não era agora ia mudar. Todos os dias carregava a sua pasta com os seus livros novos. Se nunca lhes abria, nunca lhes podia gastar. Portanto, aos adjectivos todos se lhe podia juntar a poupança.
Em resumo se sabia que Manuel era criança educada, brincalhona, simpática e poupada.
Manuel mesmo só não gostava era da escola.
Se conta a estória que Manuel ainda tinha 4 anos e num sábado de manhã, madrugada das 9 horas, acordou o pai lhe chamando em voz baixinha.
- Que queres tu a esta hora ainda mal me deitei? – lhe disse o pai carregado de ódio na voz.
- Te safei e tu me respondes assim?!
- Me safaste mais como, meu sacana?
- Os manos te queriam acordar e eu não deixei. Sou teu amigo ou não sou?
- Mas m’acordaste porquê?
- Tinha que te dizer não é? – disse Manuel carregando doçura na voz
Mas hoje me lembrei de te falar do Manuel porque me contaram a última conhecida dele.
Todos os dias, a caminho da escola, Manuel passa pela mercearia do Sr. Silvério, homem para aí com pelo menos 80 anos, mas mais rijo que um castanheiro.
- Bom dia, Sr. Silvério. – todos os dia lhe cumprimentava o Manuel
- Bom Dia, Manuelezinho – lhe respondia o Sr. Silvério.
- Tem yogurth de manga?
- Não, Manuelzinho, yogurth de manga, não tenho.
- Adeus então, Sr. Silvério.
- Porta-te bem, Manuelzinho. Obrigado. – lá ficava o Sr. Silvério à espera do dia de amanhã para um repetido diálogo simpático com o Manuelzinho que ele conhecia desde o nascimento.
Noutro dia, depois de vários dias do mesmo diálogo, este foi alterado.
- Bom dia Sr. Silvério! – disse com simpatia habitual o Manuel
- Bom dia, Manuelzinho. Sabes que já tenho Yogurth de Manga?
- Sim, Sr. Silvério? E já provou, Sr. Silvério?
- Já sim, Manuelzinho! – lhe respondeu sorridente e satisfeito o Sr. Silvério.
- Não presta, pois não? – disse Manuel enquanto continuava o seu caminhar para a escola.
Sanzalando