Hoje caminho pela areia. Não há vento e nem uma ligeira brisa se mete com os meus cabelos revoltos. Transpiro e não é só pelo calor. Imaginar cansa e eu tenho estado para aqui a pensar como é que será o meu joelho por dentro enquanto caminho. Dobra-se e estica-se sem que eu lhe dê ordens directas. Pelo menos não me estou a lembrar delas. E porque ele dobra sem ruídos, sem esforço e sem vergar para um dos lados que seja o errado.
Caminho e penso. Esforço suplementar porque tenho que transportar comigo todo o peso, incluindo o da consciência. Quer um quer outro dos joelhos se vai aguentando.
Num repentemenete lembrei-me daquela porta velha da casa velha que rangia quando se abria ou se lhe fechava. Será que eles um dia vão fazer a mesma figura ruidosa quando me levar dum lado para outro? E como me lembrei daquela canção na voz do Mingas que dizia qualquer coisa assim como um andar nada prático carregado de reumático? E como é que eu me lembrei das pastilhas para a dor, do gelo e do calor?
E hoje eu caminho na areia num pensamento nada prático. Talvez eu precise duma cerebroscopia para me ver o que desfunciona.
Sanzalando