A Minha Sanzala

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18 de junho de 2008

Num faz de conta


Me atrevo a entrar pelo zulmarinho dentro, esquecido da realidade sombria do ar condicionado e olhar esbugalhado de concentração. Faz de conta mesmo estou carregado de não fazer nada e por isso entro no zulmarinho. Gelado. Lentamente me vou molhando num arrepiar progressivo que me tira o ar quando uma gota vinda não sei de onde se esparramou no meu dorso. Acho mesmo ela quis tatuar na minha alma a dor da minha ousadia. Mas o desejo de lhe tomar num todo crescia e lentamente, cada vez mais lentamente, me metia nele num linguarejar de blasfémia em blasfémia, hipnotizado num capricho de gemido gélido.
É a última vez, penso com os meus botões se por acaso tivesse algum, pelo que assim acho falei mesmo nas sílabas todas. Se me arrefeceram todos os instintos, todos os esboços de sorrisos são afogados na raiva gelada. Deixei de sentir o prazer dos seus gostos. Os braços estão esticados como a querer agarrar o céu e me elevar dali para fora.
Num repente, assim como no instante fatal, me atiro de corpo já sem alma e percorro submerso a distância que a falta de ar me permite.
Me ergo. Olho em redor.
Me senti pálido mas sei que estava corado da figura feita.
Regresso à areia donde não devia ter saído e me recordo de chamar o senhor dos sorvetes.


Sanzalando

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