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23 de junho de 2008

Bisbilhotar a Imaginação


Me sento aqui, na sombra de palmeira que dá um ar tropical, olho o zulmarinho carregado hoje do seu azul e sereno que até transpira aqui a sua calma. Bebo um copo em vez de ir dar uma volta. Alguém trouxe um rádio e resolveu oferecer a música aos vizinhos mais distantes. Por acaso a música até que nem é da má.
Daqui dá para ver os corpos torrarem ao sol. Bem, tal como a minha imaginação é selectiva também os meus olhos o são. Eles escolhem a direcção do olhar e só vêem quem está tentar ficar cor de chocolate. Outros corpos há que estão ali só mesmo para ver se derrete. Manteiga derrete mais depressa.
Mas também é verdade que eu não estou aqui sentado para bisbilhotar corpo alheio. Estou aqui mesmo é só para caminhar os meus passos largos no lado de lá da minha imaginação, no meu sonho e na minha ilusão.
Faz já muito tempo que estamos para aqui a conversar num entre eu e mim, alucinado que ando na minha estória, com lágrimas e gargalhadas que agora até me apetece bailar ao som do rádio do vizinho distante. Mas não. Ainda vão dizer eu louquei de vez.
Ouço só, mexo o corpo e continuo a minha caminhada de palavras.
Imagina só se alguém ia ver um velho gordo a saltitar passos de dança, remexer os quadris… Se já houvesse estrelas… Não vale a pena nem imaginar.
Aqui sentado, olho o zulmarinho e no caminho fixo um corpo que se embeleza mais ao sol, e ouço Tombe là neije na voz inconfundível do passar dos anos. Vais ver daqui a bocado ainda vai dar o Não sou digno de ti do Morandi.


Sanzalando

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