recomeça o futuro sem esquecer o passado

Podcasts no Spotify

30 de janeiro de 2010

50 - Estórias no Sofá - Principe e Princesa, noutra versão

Me apetece contar uma estória de fadas imperfeitas e acções de herois com falta de coragem. É mesmo assim uma estória de coisas reais de lugares comuns, rica em carbono da expiração dos seres habitantes dum lugar, a chafurdar de sons de passos dados em passeios imperfeitos duma rua barulhenta onde existe um palácio de lata e zinco, de multiplas divisões e nenhuma soma. Um palácio repleto de obras de arte de reciclagem, desde o mobiliário à decorção e onde moram a princesa e o seu príncipe. De verdade que a suas vidas sempre fora carregada de mares calmos, de viagens longas até ao asfalto onde se respirava assim mais ou menos melhor sem tanto carbono em decomposição, onde se podia saborear o perfume da lixívia já que no seu palácio esse odor era de imediato absorvido por outros bem mais fortes e carregados, onde se ouvia uma lingua que embvora parecida com as suas era um sotaque que ia dizer era estrangeiro. Enfim, viajavam muitas vezes para se enamorarem ainda mais e sempre se prometerem que um dia iriam viver para sempre nesse estrangeiro distante ao pé da porta do seu palácio. Tudo à sua volta era a perfeição anárquica do subdesencvolvimento urbano. Não, eles não pensaram isso que eles não sabiam pensar em estrangeiro que às vezes nem percebiam ao ouvir.

Um dia a princesa acordou e desacreditou no seu sonho, perdeu de vista esse horizonte de mudança e assustada se deixou enrolar pela doença e desatou a gritar que até a morte lhe queria beijar os lábios mas aí ela resistiu que a doença não era assim tão grave para lhe roubar a vida de dentro do seu palácio de lata e zinco. Mas o medo lhe trepava as veias e com ele lhe subiu à cabeça o medo e desatou a se afastar do príncipe e se enrolou na manta suja da rua inundada de carbono e outros péssidos odores putrefactos. O príncipe se ansiosou na luta contra fantasmas que não via e ela lhe mostrava e aos poucos se foi afundando no escudo prometido do desassosego de ver em duplicado numa cabeça que rodopia ao mais pequeno movimento chegando a levar ao vómito só o facto de olhar para um candeeiro que parece girar não sobre o sei eixo mas sim sobre uma circunferencia larga ou curta conforme a hora do dia.

Os carbonos se foram multiplicando, as viagens se foram diminuindo e se contruiu um muro de inviseis fronteiras sobre os outrora principe e princesas apaixonados que uma vida atrás sonharam mudar de lugar, para um estrangeiro próximo, onde as ruas eram de alcatrão, o ruidoi era de carros e o perfume ainda conseguia sobressair.

Saltou a indiferença dos olhos da princesa que apenas passou a ver o lado vazio das coisas, onde eram pétalas de calendário passou a haver muros de prisão mental.

O principe parece putreficou a sentir pelo nauseabindo odor que emanava e o palácio de lata e zinco se queijou num esburacado monumento irreal.



Sanzalando

28 de janeiro de 2010

instantaneamente

Entre músicas e luzes, rodeado de palavras e ruídos, caminho sozinho na multidão. Parece fazem festa do que não sei que festejam. Se não fosse um ou outro encontrão e eu estava sozinho em mim como em tantos instantes. Existe-me o silêncio, uma floresta enorme de silêncios, refúgios de medos e alegrias e longe de toda esta confusão que fazem à minha volta como a quererem me provocar, me insultam o isolamento, me escacaram a solidão e ainda assim não me trazem novas notícias.
Entre instantes me abraçam como se eu fosse mais um. Não festejo em festas que não fui convidado, em que não sei qual a causa. Ainda não viram que este vosso invisível servo apenas quer estar num canto a cantar as cantigas que nunca soube escrever, viver a vida que não soube escolher, sonhar os sonhos que sonha como se essa fosse a realidade.
Por instantes, deixem-me ser o louco, o bicho papão, o lobo mau e todas as feras que me ensinaram a ter medo.
É nesses instantes que eu sinto essa coisa que vocês me disseram eram felicidade, essa coisa que eu sinto está lá para além do que a vista deixa ver, da curva dessimetrica da vida, do trapézio basculante da alegria.
Deixa lá, foi só mais um instante.



Sanzalando

27 de janeiro de 2010

lua e sol

Foi um instante, o tempo duma fotografia, e tu estavas onde devia estar a lua. Pelo menos foi o que me pareceu. Estavas rodeada de estrelas, brilhavas luxuriantemente como que vestida de lantejolas para me agradar. Ou era apenas para dares nas vistas? Eu olhei-te fixamente como a querer guardar essa imagem como tenho guaradad todas as imagens desde a infância. Sei que foi nesse instante que a realidade foi subtraida na fantasia e o resultado foi uma lágrima escorrida na cara semelhante a tantas outras.

Foi um instante de alegria, de brilho nos olhos e vontade de pular até te alcançar.

Agora ando sempre a olhar para o céu para ver se te vejo, disfarçada de sol, de nuvem ou apenas de meu anjo da guarda. Fazes parte dos meus instantes, dos meus silêncios e das minhas lágrimas. Um dia, nem que seja por mais um instante, serás minha de alma e coração. Está escrito, ou deveria estar no livros dos deuses.

Por um instante tu és lua e sol.


Sanzalando

26 de janeiro de 2010

por um instante

Por um instante te pedi que me levasses ao fim do mundo e escrevesses o teu nome nas ondas deste meu mar, esta ponte que nos liga ao nos separar. Por um instante parecemos dois desconhecidos, nos olhos que não se reconheciam. Parecia estavamos a pescar longe do mundo, longe do presente ou apenas longe um do outro como sempre tem acontecido em todos os instantes. Nos meus ouvidos ficaram os teus olhos vermelhos de chorar em silêncio, ou, era capaz de ser ao contrário. Por todos os instantes te tenho ideia que nem me vês. Diz-me lá, nem que seja no teu silêncio, sabes que eu existo?



Sanzalando

25 de janeiro de 2010

Um instante, por favor

Um instante, por favor, que acho que perdi a alma no vento que não sopra nas tardes da cidade sufocante. Sem alma vagueio perdido sem saida, me afogo no medo de ter olhos de morto que vê a vida a passar. Derivo nos rostos pálidos sem expressão, mãos vazias dum ilusionista e me suspendem os sonhos.

Um instante, por favor. Deixem-me recuperar, deixam voltar o vento que volatilizou a minha alma para um destino sem fim.

Um instante, por favor. Quero calçar-me porque não quero ser um morto pé descalço, sei da realidade, sei dos sonhos e sei do meu querer por isso sou sábio, pelo menos dos meus instantes, das minhas suposições, das minhas rendições e limitações.

Qualquer dia, quando tiver o meus olhos novos que verão novos horizontes, que moldarão novos sonhos e acariciarão outras águas da minha infância, não sei que palavras usarei para trascrever estes sussurros das noites tenebrosas do medo de não ter alma.

Um instante, por favor, que sinto a brisa que vem do mar e me trás novidades que não sei escutar.



Sanzalando

23 de janeiro de 2010

num instantinho

Por um instante atiro a minha mão como a querer agarrar-te. Como se isso fosse possivel. Tás longe, longe de tão longe que nem com a vista de alcanço, quanto mais com um braço grilhetado de silêncios? Com palavras, palavras de medo tento moldar o ar que nos separa esperançado que assim eu te consiga ver nem que seja num breve instante em que a minha pupila te grave na memória com um código de realidades, sonhos e fantasias.

Por instantes conversamos em breves silêncios que afagam a distância da realidade ao sonho, do vazio ao cheio.

Olha, por breves instantes, deixa-me dizer-te em silêncio que ao pensar em ti não me sinto só.


Sanzalando

22 de janeiro de 2010

ser saudavel é dificil

Me sento num instante e de repente dou comigo a gargalhar. Faz tempo eu não gargalho, nem riu e se calhar nem sorrio. Não me lembro. Mas hoje sim, por instantes mas valeu a pena. É que de repente me lembrei que quando disse que queria ter uma vida saudável houve mais que um tremor de terra interior. Um bacilo me rotulou de tuberculoso e andei assim uns meses largos a me debater com uma salada colorida de pastilhas diárias que me faziam mais um mal em cima da cura. Mas valeu a pena que essa dita cuja se arrumou num Rx limpo que nem parece ter estado assim a dar para outro lado. Mas teimei em ser saudável e inventei o desporto. Os quilos se foram diluindo até à fractura dum braço que em nada teve a haver com o desporto, directamente mas no seu indirecto repuseram os perdidos quilos. Mas imobilização e novamente recuperado. Luta diária para novamente ver os quilos a irem numa cada vez mais vagarosamente embora. Quando o esbelto aparecia ao fundo do túnel se rompe um tendão e leva a uma cirurgia que nos primeiros dias é dura de suportar porque dói até no estar apenas vivo.

Que acontece? Os quilos me tomam de assalto que até parece eu sou feito de mel.

Foi por isso que num instante gargalhei. Ser saudável é difícil mesmo.


Sanzalando

21 de janeiro de 2010

apenas


Hoje me apetecia falar em silêncio e em silêncio procurei onde descansar os olhos, onde repousar a alma e onde me esquecer do futuro.
Caminhei, não sei se em passos largos ou curtos, porque afinal eu estava ausente, e acabei por me sentar numa pedra onde deixei os meus olhos beberem a luz que lhes chegava, palidamente, como a dizer que ia cair uma carga de água, que não caiu porque eu estava ali para descansar. Apenas!

Sanzalando

20 de janeiro de 2010

quer dizer, imagino eu.

Sento-me por instantes no balcão do cinema imaginário e choro porque te sinto ali e não te vejo. É habitual, sem razão aparente sinto o inverno a correr-me pelas veias e turvo-me na miopia de não te querer ver, apenas sentir, como se esse sentido tive mais valor real. Aproveito e esqueço o mundo, assim como toda a multiplicidade de problemas que ele transporta e me concentro em ti, longe, sempre distante mas afinal de conta sempre ao sabor das minhas palavras e das minhas imagens. Por instantes, que são permanentemente instantes sucessivos, és a minha miragem, o meu silêncio e a minha razão de ser.

É o sorriso matinal, a reza do adormecer, a água que bebo e se calhar o ar que respiro, és tu. Simples. Instantaneamente, aparecida do nada te sentas neste balcão de cinema e imaginas-me. Quer dizer, imagino eu.


Sanzalando

18 de janeiro de 2010

saudade de futuro

Instantaneamente me sento num canto do meu dia e deixo rolar-me por entre pensamentos e dores. Fui ao Polo Norte e fui ao Polo Sul num instante para não perder tempo em divagações internas, em lágrimas de sabor a nostalgia, em euforias com um gosto amargo à desistência de sentido, despacientemente gritando silêncios de raiva egocêntrica. Num instante viajo por mim fora como a querer fugir de me enamorar mais perdidamente por ti e entre juras de amor e de dor eu te diria que piores dias poderiam vir. Num instante sinto vontade de abandonar-me, fugir de mim, deste frio gélido em que me enrolo e saltar aos ventos até caminhos quentes que tragam o teu perfume, a tua tempestade presencial. No mesmo instante voltei a mim e afinal de contas pouco importa que me olhem de dentro de carros de ar aquecido e me vejam tilintar de saudade de futuro.



Sanzalando

16 de janeiro de 2010

apenas um instante

Como posso eu descrever este instante que passei em silêncio? Desconheço as palavras que sem som o possam traduzir. Acho mesmo que apenas estava aqui o meu corpo e eu, por instantes, sai dele e fui ver o mundo longe daqui. Vi um mundo convulsivado, ouvi palavras obscenas nas línguas que nem sei como se chamam, ouvi gestos violentos em folhas de papel em branco, acho que vi montanhas a se mirrar de vergonha. Sei que foi por instantes e como tal posso ter ouvido e visto erradamente. Acontece quando se vive por instantes, Por momentos senti-me feliz por regressar ao meu corpo e ver que ainda sofria de saudade, doença aparentemente incurável quando não se faz nada para a curar, quando se lhe alimenta com a lágrima que se chora no silêncio dos momentos mortos da vida.

Será que um dia, assim por instantes, eu tiro férias de mim e vou sorrindo pelo mar fora como se fosse me entregar nos teus braços para termos uma eternidade de amor? Por instantes eu pensei que sim, mas a realidade trouxe-me ao silêncio da minha ermidade, nesta sanzala de sonhos, pesadelos em que me isolo até de mim.

Enfim, passou mais um instante!


Sanzalando

15 de janeiro de 2010

sentado no vão da minha porta

Continuo sem saber de que sonhava ser um dia quando eu fosse grande que nem agora. Mas hoje dou comigo a pensar que tinha sonhado que eu ia ser pirata, mas não de perna de pau, não de mão de gancho nem zarolho de um olho, que eu gosto de mim assim mesmo inteiro. Tudo porque me lembrei de fazer aventuras no mar, viajar sem destino fixo, procurar o tesouro mesmo que ele estivesse apenas nos confins da minha imaginação. Pensar no balouçar do meu barco de madeira sobre as ondas desse azul feito de mar que até descansa a vista de olhar, ouvir o chiar das cordas marinadas no sal que lhe chega do vento feito brisa e lhes perfuma de maresia.

Sentado no vão da minha porta não faço esforço em sonhar que sonhava quando era criança. Eu, pirata. Tenho a certeza absoluta que não ia ser um pirata detestado nem odiado, porque acho iam dizer que eu vagabundeava na crista da onda na procura dos sonhos que estavam para lá daquela nuvem que vista daqui parece uma baleia sulcando os céus.

Sentado no vão da minha porta eu ia ouvir as crianças me esperar num porto de abrigo com mais estórias para contar do que troféus para mostrar.

Sentado no vão da minha porta finjo que sou criança para ter os sonhos que não me lembro que tive, que não sei se os vivi ou se terei tempo para um dia lhes dar vida. Mas não lhes desisto porque ainda tenho de memória o perfume da terra, o salgado do mar e a gargalhada amiga dos amigos que tenho saudade de abraçar.




Sanzalando

14 de janeiro de 2010

dei comigo

Dei comigo e estava com uma lágrima a me deslizar sobre a cara até ao ponto em que se tornou gota e se despediu de mim. Em vez dela me ter compreendido eu compreendi-a. Ambos tivemos as mesmas primaveras, porém as dela eram carregadas de mortos e feridos, da lágrimas choradas na vontade de as verter e as minhas, tirando uma ou outra nuvem de chuva mais carregada de tempestade, eram apenas primaveras. Eu sei que ela não tem primaveras, cacimbo, frio ou sol que por vezes é de escaldar. Mas tinha cheiro a pólvora em vez do perfume da terra molhada, mas tinha o som silvado das balas em vez da melodia dos pássaros que acordam alegres nas manhã.
Dei comigo e ela estava ali sentada, colorida, alegre no olhar e no sorriso inocente das palavras que adivinhei me ia dizer. Dei comigo triste por não ter vivido com ela os dias tristes do seu olhar.
Sei que ainda há mil luas pela frente, sei que somos pacientes e um dia em vez destas lágrimas estaremos lado a lado a gargalhar o passado que não tivemos.

Sanzalando

13 de janeiro de 2010

é apenas um filme

Não me lembro o que queria ser em adulto quando era pequenino. Não me recordo de toda a película desse filme. Mas sei que fiz aventuras, joguei à bola, parti braços e pernas, cabeça também. Mas sempre estive perto do mar, apesar de ter nascido lá longe onde não se lhe consegue ver. Esse é o meu tesouro, o meu gostar mais que necessário. Ter nascido onde se vê o início da planície que vai descansar no mar. Lá em cima nunca tive tempo para pensar no que queria ser quando crescesse, nem nunca pensei em barcos, nem sentia saudade da maresia. Enfim, devo ter feito um filme sobre isso que agora não me recordo. O que eu agora sei é o que eu deveria ter sido enquanto criança, o que eu devia ter sonhado antes de crescer, as aventuras que deveria ter vivido na forma real de vida.

O que eu agora sei é que já começa a ser tarde para ver todos os filmes que realizei na película da memória. Mas começando dum principio talvez ainda tenha tempo de chegar ao intervalo e ficar satisfeito. Afinal de contas é apenas mais um filme dum cinema de sessões contínuas.


Sanzalando

12 de janeiro de 2010

Fecho os olhos

Fecho os olhos e vejo-te ao meu lado. Sinto-te mais como se estivessemos deitados um ao lado do outro, posso tocar-te sem me mexer, ouvir-te sussurrar as palavras que nunca tiveste tempo para me dizer, ouvir-te respirar meigamente como se tivesses tempo de sobra para me teres apenas para ti.

Fecho os olhos e vejo-me a correr numa alegre brincadeira como se me fugisses num gargalhar permanente. Sofregamente te persigo não me importando que eu esteja de olhos fechados para te poder ver com sentires puros.

Fecho os olhos e me arrepio na vertigem do medo de estar ao teu lado, imaginando-te. Afinal de contas eu apenas quero viver ao teu lado, se calhar cego, se calhar surdo, se calhar apenas com o sentido de te sentir minha.

Fecho os olhos e espero que um dia esse dia chegue.



Sanzalando

4 de janeiro de 2010

2 de janeiro de 2010

Raio de sol que hoje não nasceu

Hoje o sol não nasceu. D. Madalena, a minha mãe, hoje disse, no interior dela, que não queria ver mais o sol nascer. Assim mesmo, no perfume da madrugada, quando o primeiro raio de sol queria romper as nuvens e lhe dizer bom dia, como lhe disse durante quase 82 vezes 365, ela não lhe ligou nenhuma. O raio tentou, retentou mas ela deve ter pensado que não era o sol dos outros sois e então lhe foi de costas e deixou aqui hoje a falar sozinho até ao dia que noutros paraisos eu lhe encontrar e dizer o tantos muitos obrigados que lhe fiquei a dever.
D. Madalena, só lhe digo mesmo assim num ouvido que só nós dois poderiamos ouvir, obrigado por me ter dado a luz do sol que hoje não queres ver mais.
D. Madalena, obrigado por me teres visto sempre com esses olhos de ver o teu filho sempre criança.
D. Madalena, obrigado por teres zumbido nos meus ouvidos as zangas que zangaste e me fizeram ainda gostar mais de ti.
D. Madalena, senhora minha minha mãe, adeus e até um dia destes que eu sei vais ficar a me ver no cuidado que só mãe sabe ter.


Sanzalando