Pedalava eu pelos caminhos dum despensar para esquecer que o mundo é mundo e outras coisas mais, quando me entrou no ouvido um sussurro a dizer que hoje é Dia da Mãe.
Eu sei, que antes de lhe levarem para um canto inesquecível da minha memória, eu lhe fiz doer a cabeça, lhe acinzentei muito cabelos que ela teimosamente pintava para não me assustar com o tempo que passa, lhe suguei lágrimas de dor de alma, lhe tirei sonos que mais que ela merecia. Todos os dias eram dia da Mãe. Porque quando não lhe fazia nada disto, eu lhe fazia rir de coisas sérias que eu não brincava, lhe alegrava o ego de ir mais além do que ela mesmo tinha imaginado, lhe provocava um babar de satisfação quando por portas e travessas alguém lhe era simpático e lhe me elogiava. Todos os dias eram Dia da Mãe.
Depois, cansada de coração fraco, torturada de não ser feliz nos últimos anos porque o chão que lhe segurava os pés não lhe pertencia, lhe levaram num dormir que não deu em acordar e lhe repousaram num canto inesquecivel da minha memória, onde lhe trago em cada instante.
Um dia, Mãe, eu te vou levar onde tu foste feliz! promessa do teu filho, que por agora vai pedalando pelos caminhos sem rumo, sem tempo, sem fim.
Sanzalando
Que texto lindo este, escrito à memória da tua mâe... Puseste aqui a nu o teu coração tão generoso, tão cheio de ternura... Era bom que todos nós, os que vamos andando por aí, numa terra que não é a nossa, pudessemos um dia voltar aos nossos quimbos, às nossas praias, aos nossos por-de-sol, ao nosso mar, ao nosso canto mágico... Que fosse lá que nossas ultimas raízes ficassem plantadas, para florirem de novo na terra que nos viu nascer. Quem sabe... Talvez a tua mãe já lá esteja...
ResponderEliminarUm beijo, querido amigo.
Vera Lucia
bonito de doer...
ResponderEliminaragora deixa-me lá segurar a lagrimita teimosa...
abraço!
Lindo, João Carlos. Já sabia que tinhas escrito neste dia, mas, só hoje é que estava pronto para me emocionar...
ResponderEliminarObrigado tambem por fazeres-me recordar.
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