recomeça o futuro sem esquecer o passado

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30 de julho de 2018

Verão, brisa e pensamentos

Tronco despido passeando ao longo do zulmarinho. Me esqueço a brisa e o perfume de sabor a sal. Caminho de olhos abertos sem ver nada para além do caminho percorrido. Caminho porque sim, é verão e eu preciso descansar os pensamentos profundos para quando eu precisar deles. Caminho por caminhos da vida, tantas vezes carregados de palavras bonitas e algumas vezes de sabor a alcatrão. É vida e é verão, no sorriso malandro do canto da boca e nas estórias que vivi ou sonhei. Ri tanto que já não me lembro do sabor dessas palavras; chorei algumas vezes pelo sabor angustiando de palavras soletradas nos pensamentos forçados e contrariados.
É verão e por isso não tenho palavras escritas, só pensadas em passado porque o presente, apesar de tremulo, é para viver e não para contar.
É verão mas não é tempo de ser deixado ao silêncio. Desaprendi de ficar calado mesmo quando não falo.
É verão e passeio ao lado do zulmarinho já não me importando com a brisa.



Sanzalando

28 de julho de 2018

como brilha o sol no verão

Brilha o sol como este ano ainda não lhe tinha visto. Não sou detalhista. Reparo na minha pele de galinha quando me arrepio, reparo naquele olhar quando me incomoda ou me embacia o pensamento. Não sou capaz de dar um abraço de aquecimento se não sentir frio, nem um sorriso se pressinto uma tristeza. Não sou assim porque não estou atento ao detalhe. Mas me incomodo se não recebo aquela atenção pequena que seja. Um grão de areia atirada numa palavra ou escondida numa frase, me machuca mais que uma martelada num dedo ou um pontapé inadvertido numa pedra falsa dum passeio verdadeiro
Não sou detalhista nem reparo na nuvem que parece um sino ou um urso, mas dou conta do barulho das árvores que dançam ao sabor do vento.
Como brilha o sol de verão? É pergunta que não sei nem responder. Lhe gosto e não vou ao detalhe de lhe desmontar para saber como usar as palavras para lhe pintar

Sanzalando

26 de julho de 2018

olho o vento

Nem sempre a distância se mede em quilometros, metros ou milhas. Olha só esse de verão que anda longe que nem se vê. Olha só essa gente que anda na rua mas tem a mente que nem sabe onde. Olha só esse gente que conversa no som do silêncio gastando os olhos num pequeno telefone. Olha só como é dificil haver aquela esquina onde me sentava nas noites quentes dum dia qualquer. Olha mesmo onde está o mais próximo. Não, não estou a falar daquele corpo físico que está ali, olha mesmo só dentro da cabeça dele e vê onde é que ele pára. Acho nem ele sabe. Se perdeu faz tempo e nem o vento lhe trouxe de volta a ele mesmo. Tem gente que está tão distante que até se pisa a sim mesmo e não sabe.
Eu sei que tem aplicações para ver o coração, mas não tem para ver o pensamento. Tenho pena e vou passear ao vento com os olhos postos em ti.


Sanzalando

24 de julho de 2018

reflexão

Tem sol por aí. E amor próprio? Ambos servem mas o segundo acho mais útil. O primeiro mostra o caminho com mais brilho e clareza mas o segundo te leva lá de qualquer maneira. 
Tem vento? Tem sol? Tem amor próprio? 
Coisas da natureza que fazem falta. Olha o sorriso. Pifou? Não, não curto-circuitei. É mesmo só verão. O Sol anda por aí, às vezes escondido, outras vezes camuflado no vento. E o amor próprio? Esse tem de estar aí, desde o começo tem que estar na geografia mental como um norte que pode ficar em qualquer ponto cardeal, não propriamente numa patente religiosa. Venta por aqui e as letras ondulam como uma roupa estendida na corda num solilóquio entre mim e eu como se houvesse uma dor virtual do silêncio existencial.
Ok. Foi mesmo só um momento de reflexão.


Sanzalando

22 de julho de 2018

69 - História no sofá - Jeremias mudou de vida

Jeremias tomou uma iniciativa que sabia que um dia destes tinha de ser tomada.
Ele fora, até um tempo atrás, senhor de seu nariz, autor das suas decisões e empresário dos seus feitos e co-autor, juntamente com o azar dos seus defeitos, sendo que o seu lema era se amar em primeiro lugar. Tudo o resto vinha depois.
Começado faz anos, pouco a pouco, assim a modo que invisível e silenciosamente, se ia afundando e sem qualquer motivo aparente já não conseguia ouvir ninguém, já não conseguia ver quem quer que fosse e as conversas lhe passavam ao lado mesmo quando parecia tomar toda a atenção deste e outro mundo. No seu rosto se tinha esculpido lentamente uma cara de tristeza e mesmo quando tudo parecia que brilhava, Jeremias se apagava. Virara, como por antes mágicas, num egoísta triste e isolado.
Hoje Jeremias chorou. Era Sábado e estava sozinho, sentia-se tão vazio que a morte era o caminho certo. Mas se era assim a cabeça, o corpo estava eléctrico, lhe puxava para a farra, a kizomba lhe entrava nas veias mas parava no pescoço. O corpo parecia que ia enquanto a cabeça teimava em ficar. As conversas eram vozes distantes que mal ouvia e nada respondia. O corpo dançava dentro de si. Jeremias sentia o vazio no cheio que ele era. O peso da pressão da vida na sua fraca vulnerabilidade faziam com que pensasse que não sabia o que fazer da vida.
Jeremias gritou, seu rosto de tristeza esculpido acordou o mundo que o rodeava e fez rir. Eu sou um pássaro, disse. Se me deixarem livre voo e não volto, se me engaiolarem eu entristeço e morro, se me mimarem eu me adapto e me apego. Eu não tenho escolha porque a escolha é vossa.
Jeremias sorrindo, abriu a porta e saiu a cantar: 
«criamos espaços vazios, 
não damos conta d'os preencher, 
tiramos água dos rios
com medo de à sede morrer.

criamos monstros de fantasia
apenas para nos entreter, 
esquecemos que um dia
é o dia de morrer.

criamos ódio e amor,
alimentando-os para crescer,
como se fossem uma flor
apenas para secar a ver

Criamos ideias e fantasias,
muitas formas de viver
para esconder os dias
que nos apetecia morrer

...»

Verdade se diga que nunca mais ninguém viu Jeremias sem sorrir, olhos brilhantes e mãos carinhosas e sempre prontas a se darem. Jeremias me disse que o barulho da chuva é a melodia mais perfeita para sonhar. Este Jeremias era um Jeremias de corpo inteiro

Sanzalando

19 de julho de 2018

as férias do sol

Sigo o meu caminho tentando que não haja vitimas, sofredores ou perdedores. O meu caminho é calcorreado por mim num trilho desenhado e por vezes reinventado. Eu leio livros e vejo filmes, eu sigo o sol, eu saboreio a noite, tento ser uma força que não impõe vitórias. É claro que gosto de praia, gosto muito de sol, gosto muito da natureza, da que deu certo e tento emendar a que deu errado. Sou assim com o sol e sem ele. Sou assim que não ando ao sabor do vento mesmo quando ele teima soprar todos os dias. Sou assim que nem eu mesmo quando o sol aparece ou não. Sigo-o mesmo que ele não esteja por cá, a trabalhar ou em férias.


Sanzalando

17 de julho de 2018

tem vento de verão

Tem vento levado pelo sol, tem-se gente perdendo pessoas que ironicamente se perdem também, tem gente que perdoa pensando que perdoar é um sentimento quando sabemos que é uma atitude, tem gente que prende à custa da dor, tem gente de tão sozinho não sabe nem estar. Tem gente que nem merece o verão que que lhe dão.
Mas é verão e o que no verão acontece costuma no verão ficar. Olha o vento. Fica que nem parece estar em casa dele de portas abertas.
Quem disse que o verão ia crescer diminuindo o Outono? Ninguém cresce à custa dos outros.
O zulmarinho está mais azul que se confunde com o verde mar. Os teus olhos brilham mais que os reflexos do sol na água ondulada dele. 
Bem, tem verão que me fez pensar que eu ia mudar o mundo. Acho não vai ser este também


Sanzalando

13 de julho de 2018

sol assim

Faz sol de queimar torradas costas, pelar carecas e fechar olhos no brilho do zulmarinho. Faz vento que faz tempo deveria ser leve brisa refrescante. Optimista sei que depois da chuva aparece o arco-íris, depois da tempestade costuma ver a calmaria e depois do fim é habito haver um novo início. Mas o raio deste verão não deixa ver nada novo. Não deixa nem abrir os olhos tal é areia fina que pica mais que manta de alfinetes.
Com este sol assim, carregado de vento, como vou deitar a minha cabeça no teu colo e deixar o tempo passar na velocidade dele sem me importar?

Sanzalando

10 de julho de 2018

é verão, ele mesmo

Faz sol e venta que nem brisa soprada por um fogo. Incomoda estar deitado na areia de muitas cores e ouvir o mar assim neste ar quente. O corpo lentifica-se a cada movimento e cada um parece que necessita de ajuda de outras forças que não apenas nossas. Eu sei, é verão e ele tem dias que são assim, mesmo que os outros dias façam sentir-me pior.
No verão as minhas lágrimas não duram mais que uns lamentos, as minhas dores não são mais medíveis em escala. No verão eu tenho presente e recordações do passado, mesmo daquele que eu havia dito que esquecia. No verão eu tenho sorrisos guardados para os dias futuros que os presente sorrio.
No verão eu aprendo a viver novamente para aguentar as outras estações, para suportar os frios e arrepios, os altos e baixos dos outros caminhos. 

Sanzalando

6 de julho de 2018

dia de cada vez

Me olha só esse sol. Todos os dias começa de novo. Precisa de coragem. Nem se quer é igual em cada começar. Um minuto diferente em cada dia, nascer e se pôr. Nesse minuto, que não é de 60 segundos porque não fui investigar, não tem repetição. Tem gente que não tem nem coragem para começar uma segunda vez, se continuando igual e monotonamente repetitiva a cada segundo que em 60 faz um minuto exacto.
Hoje começou belo e se tornou baço com o crescer do dia. Amanhã? Veremos quem estiver cá para ver. Porque há quem cá esteja e não consegue nem ver, nem olhar e muito menos admirar.
É verão de veremos cada dia de cada vez até ao dia que for.




Sanzalando

4 de julho de 2018

fácil falar de sol

Olha só esse sol carregado de ar que parece é ventania a me despentear e me deixar que nem parece galinha depenada. Eu sei que parece é fácil falar de sol. Quero ver falar dele quando ele se abstém de aparecer. Parece estou a falar nas costas dele, coisa feia de falar mal só porque sim. Lembrar o sol, os escaldões, as dores de nem aguentar camisa ou boné e falar dele de memória não é fácil nada.
Eu sei que esse meu sol daqui é que nem o de lá, quer mimo, carinho e muitos cuidados para sobreviver nestes meses que lhe chamam de verão. Verão se deus quiser.


Sanzalando

2 de julho de 2018

a timidez e abstracção do sol

A timidez do sol me está a deixar preocupado. Eu sei que quando era criança a minha mãe me obrigava a usar chapéu porque parece o sol era fogo na cabeça rapada dum corte feito no Olímpio. Agora, cabeça careca do atrito dos anos que passaram, nem aquece acima da temperatura do frio. Assim essa timidez me deixa só com vontade a olhar no dentro e esquecer que existe um fora que é uma parte importante da minha existência. Mas deixemos esta falta de brio veraneante para outras palavras e olhemos para o abstracto da nossa existência. Sim, a nossa vida não é só uma pintura abstracta que se vai pintado como é um somatório de opções abstractas que fomos somando.
Há perguntas que merecem ser respondidas e são simplesmente esquecidas. Há perguntas que merecem ser esquecidas e são rapidamente respondidas. Há perguntas doce e outras dolorosas. Os silêncios são perguntas ou respostas? Eu vou só ali fazer perguntas à minha abstracção e ver se o sol se abstrai da sua letargia. 

Sanzalando