recomeça o futuro sem esquecer o passado

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29 de setembro de 2018

saudanado o outono

E num ápice nublou. Mas quase no mesmo instante fez-se luz novamente. É assim o dia a dia de cada um nesta transição para o outono. Mas o sol brilha e os reflexos no zulmarinho continuam a ser música para o meu coração, continua a ser o indicativo para a minha chamada telepática, para a minha constante primavera em flôr, para a presença permanente do amor em mim.
Sem hora, sem ponto e vírgula, sem data marcada, os meus olhos percorrem Setembro como se desenhassem a cor de café um rosto que eu ia jurar era o teu. Ao mesmo tempo ia dedilhar, como se escrevesse à maquina, num tampo da mesa de café uma melodia que eu ia dizer era a tua.
E para nós navego os meus olhos pelo zulmarinho fora, fosse eu um barco à vela.

Sanzalando

25 de setembro de 2018

outonomamente

Olha só que o calendário diz que outonou mas a realidade diz que o verão veio para ficar que nem o anúncio do antigamente. Assim continuo outonalmente a passear junto do zulmarinho que parece aqueceu de gostoso não lhe largar mais. Acho ainda vou treinar lhe nadar sem fim. Eu estou aqui, sem nada para lhe dar e ele dá-me o gosto de lhe gostar, num quase morrer de amores, sem frieza no coração para me afogar. Se eu estivesse fraco eu nadava só até ali, mas assim como estou, carregado de energia eu nado ao sabor da minha imaginação usando a maresia como inspiração e o marulhar como expiração.


Sanzalando

20 de setembro de 2018

verão que é verdade

Acho ainda é verão, ou verão que ele veio e não quer ir mais embora. Mas imaginemos que o ciclo está correcto. Ainda é verão mesmo que o sol não tenha aquele brilho que tinha no meio do verão. Vai acontecer mesmo é eu tomar conta das memórias deste verão como tomei dos anteriores mesmo quase desde antes de mim, se isso possível fosse. Mas na verdade cada verão é um verão diferente. Como eu me vou lembrar se este ou aquele foi antes do outro. É memória. Est´lá no armazém, empacotado, etiquetado memorizado. Tem qualquer coisa que faz a diferença. Uma lágrima, um sorriso, uma cara ou um simples momento. Todo o verão tem o seu momento. Olha o zulmarinho que parece um conjunto de lágrimas mas que sabe bem lhe mergulhar e arrefecer aquele fogo que às vezes a gente trás dentro parece arde até na alma. Eu vou cuidar da memória deste verão. Verão que é verdade.

Sanzalando

18 de setembro de 2018

em pleno verão de mim

Olha só essa hora que já nem parece ainda é verão. Parece hora a deixar cair minutos que nem outono. Imagina agora eu me esquecer de quem sou, me tornar assim dependente do sorriso ou carícia alheia e me deslembrar de ser feliz. Com um tempo assim até parece que podia ser possível. Mas ainda é verão, o zulmarinho ainda é zulmarinho, cordão umbilical da minha placenta, prolongamento almareado de mim e o lugar onde nasci.
Mas neste amarelo tempo, brilhante porem não encadeante, caminho por entre mapas, procuro as montras da memória ou imaginação, lugares comuns, palavras simples penduradas num cabide, tudo o que me possa levar até à semente da minha existência, em pleno verão de mim.
O zulmarinho me sossega nesta alvorada da minha estória, neste caminhar por carreiros serpenteando surpresas, represas e outras muitas impurezas, até que um dia eu vou chegar a ver o verão das cores quentes como tenho na memória.


Sanzalando

15 de setembro de 2018

hão de ver ainda

Ainda dá para andar à beira mar. Não está aquele brilho mas brilha e não tem aquele mar de gente tapando o zulmarinho. Circulo em círculos rectos paralelizando-me com o horizonte num para cá e para lá, fazendo números de cabeça, filosofando matemáticamente quadrados mentais. Me deixo levar embalado no marulhar, me embalo num tricotar de pensamentos soltos, embalo-me em frases feitas que desfaço ao sabor da maré. 
A amizade vai mais para lá do que lealdade, ficar ao lado, respeitar, amar no sentido lato sem lata ou outro embrulho espartelhante. Protege, guarda, acaricia, completa, assim mais ou menos a areia e o mar nesta praia que navego-me diariamente num embalar de quebra cabeças em que a peça não cabe senão ali.
Ela pode tocar na ferida, fala verdade e pode dar choque. Ela está e pronto final.
É o que dá ser verão num hão de ver ainda


Sanzalando

13 de setembro de 2018

sol, doce sol

Sol. Meu doce sol. Caminho nesta praia ao som do zulmarinho como que a preencher o vazio das coisas mundanas e com a esperança que a emoção e o desejo não desapareçam na eternidade do esquecimento. Fui criança, adolescente e adulto me tornei. Embriaguei-me em festas e a desproposito, namorei e desnamorei como se o mundo acabasse nalgum instante. Percorri ruas de cidades quadriculadas e outras desarmadas procurando prazer no passeio, no ar que respirava e tudo o que fazia me ajudava no alimento da minha existência. A casa da D. Maria, s dos Fonsecas, dos Santanas, Adérito, Pinheiro e tantos outros que nem sei mais se as linhas da minha memória ainda se lembram fazem parte de todo o meu passado vazio que encho de recordações. Os olhos ainda vêem as mesmas casas, as mesmas pessoas os mesmos passeios de fim de tarde dum domingo de verão. Aqui na praia, ao sabor do zulmarinho ainda recordo os exageros do Artur Gomes, o barulho das carambolas no Aero-Clube ou as tesouradas nos cabelos do Sr. Olímpio. Nunca fiquei preso num pensamento porque ele não vai resolver o meu problema, não me vai devolver os amigos que partiram para parte incerta com a certeza que marcaram-me, não me vai trazer de volta as brincadeiras de criança, o carro a pedal que era mais pesado que eu porque ainda não havia os materiais que hoje existem. 
Sol, meu doce sol. Lembras-me os professores da primária, o Amaral, a Saavedra e a D. Maria; os do Liceu, uns que passaram a correr e outros me aturaram tantos os anos que lá andei. Nomes também sei, ocupam o vazio do meu passado em forma de memória.
É assim sol. O zulmarinho que me ature e me permita viver tudo outra vez que eu vou-lhe dar uma dose de ouro de recompensa. 


Sanzalando

11 de setembro de 2018

paludismou-se o sol

O sol empalideceu parece paludismou-se mas o zulmarinho ali está marulhando contra a areia faz de conta quer invadir o meu lugar seco. Se eu fosse pica-pica eu aproveitava boleia, ia nas correntes e partia em busca dum lugar ao sul. Pouco importava-me das tempestades, das voltas, da baixa-mar ou preia-mar. Ia só no simplemente deixar-me levar sabendo que muita coisa podia mudar. O mundo muda, não com a minha opinião mas com o meu fazer. E eu fazia-me ao mar sabendo que as pequenas coisas, encadeadas iam-se transformar numa coisa gigante tal que nem eu, mesmo que o meu valor seja pouco mais do que perto do zero neste mundo de não sei quantos quarteirões.
Enfim, o sol paludismou-se num outono caminho que percorreremos com imaginação ou sorrisos alargados em horizontes locais.


Sanzalando

8 de setembro de 2018

De tempo em tempo

Deixo o sol romper a minha timidez. A minha sombra é tenue como tenue é o sol que me rasga, mas é suficiente para me mostrar que estou de pé, num perfil carragado de curvas, umas do tempo e outras da forma. Em pé, numa verticalidade que não esconde uma estória de passado, um presente possivelmente com futuro. Em pé no sentido directo, lato ou escondido, vertical. Enquanto tiver sombra direi que sou rico porque vivo ao sol, forte ou tenue.
Sanzalando

4 de setembro de 2018

ainda é verão

Brilha sol nublado. Prenuncio de outono antecipado ou simplesmente cansado da rotina divagante do verão? Até parecia doença este vício de caminhar à beira do zulmarinho, relaxado, descomplexado e vazio de sofrimento ou dor. Na verdade desencontro saída para estado febril de felicidade, modo de estar ou simplesmente simplicidade de viver, nem que seja por viver cada momento de cada vez como se fosse único.
Os fragmentos da minha estória, muitas vezes descontínua, saltitante, aberrante ou de cores vivas não parece carregada de ter feito algo errado, ter recordações vagabundas de infância infeliz, ter percorridos caminhos não escolhidos ou me ter encontrado em paragens não motivadas pelo desejo.
Brilha o sol e mantenho-me viciado na felicidade definitiva de viver cada futuro como presente oferecido por mim.
Ainda é verão e sempre o será, mesmo que o vento gélido dum desnorte sopre feroz sobre mim.

Sanzalando