recomeça o futuro sem esquecer o passado

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30 de setembro de 2019

veraneio-me no outono

Outonomamente entra-se por um lugar menos brilhante do que há uma semana atrás, um toque cinzento no brilho do sol, um quanto baste de poeira celestial no ar. Eu sei que nós, os sonhadores, tornamos a vida mais leve e desviamos o peso de cada dia em prestações de luz armazenadas num passado para irradiarem-nos no futuro. Esses feixes de memória convertidos em luz são pontes de passado para o futuro, extensões de presentes constantes que apagam desagradáveis extinções de vida que gastámos em vivê-las.
Eu sei, estou paliativamente a entrar no outono, nas insatisfações de realidades virtuais.
Eu ainda veraneio-me outono a dentro.


Sanzalando

25 de setembro de 2019

#caminhos


Outonomamente

Faz sol. Timidez soalheira, uma ponte de outono a caminho do inverno que lá virá. A areia parece não brilha, o meu sorriso parece não sorri e o zulmarinho se atira na praia com a suavidade duma prancha de surf arrumada numa garagem. É outono e eu ainda veraneio na minha mente calórica. 
Faz sol, tímido, mas eu ainda veraneio-me pelos caminhos da infância como se fosse um verão eterno. Eu outono-me? Acho não me apetece.



Sanzalando

23 de setembro de 2019

entrai outono

Me despedi, com lágrimas escondidas, do verão. Fui no meio da ria e me ri. O outono mais minuto menos minuto entrava e eu saia com a canoa a meus pés. À força dos braços entrava o outono por mim a dentro e me levava o riso de verão. Verão que ele volta, mais dia menos dia e ele volta. Nem que eu tenha de lho procurar noutro plano de mim. Planearei.
Quem tem culpa de eu me ter apaixonado por um verão que mais dia menos dia desaparece para aparecer mais tarde, com hora marcada e tudo?
Agora levo com o outono, cai a folha, cai-me a ficha e sorrio outonomamente.
Assim escrevo para me curar da saudade do verão que se foi.


Sanzalando

#zulmarinho


#zulmarinho


#caminhos


#pordosol


19 de setembro de 2019

#imbondeiro


memória de sentir

Olha só para mim a ver o verão a acabar. Me sento no chão desta falésia e me perco na distância e ver para além dos meus olhos.
Eu quero ver com os sentidos todos. Eu quero sentir o perfume da maresia, quero saborear o salgado, quero ouvir o marulhar.
Eu quero estar no meu lugar mesmo que os meus olhos não consigam ver, mesmo que as minhas mãos não consigam sentir. Eu quero estar com as palavras no meu lugar desta falésia com os olhos para lá do que conseguem ver.
As minhas palavras não conseguem dizer-me o perfume que deveria vir desde o outro lado.
O meu olfacto estagnou na memória. As minhas mãos se paralisam numa velha recordação de adolescente.
Eu só queria sentir a minha essência e dizer que embora esteja a acabar o verão eu ainda não acabei de ser o que estou sendo.


Sanzalando

17 de setembro de 2019

intoxicado em processo de desintoxicação

Sol se deixou enfraquecer com o passar do tempo. Acho se desleixou e quase por completo. E assim, com este verão, eu tenho de entrar num processo de desintoxicação. Este verão que quase passou despercebido e eu tenho que me desapaixonar por ele. Vai ser aos poucos porque não estou preparado para o tirar do meu pensamento. Ele, outonalmente, vai saindo do centro do meu pensamento, mantendo-se lá por uns tempos, sorrindo com os raios distraídos de sol, gargalhando com os fins de tarde serenos e por-de-sol de fazer recordar outras adolescências.
Esse verão fez de mim um intoxicado em processo de desintoxicação.


Sanzalando

16 de setembro de 2019

#caminhos


o resto é música

Ainda faz sol, mesmo que não seja o sol do meu verão. Ainda quer não seja o sol dos meus anos de antigamente. Aquele que fazia a minha sombra passear no quadriculado citadino, mascava a minha pegada no asfalto derretido das ruas expostas. É sol e ainda é verão, dizem-me por aqui. Mas não é o mesmo verão que me invade o corpo, que me aperta no meu espaço, me custa respirar por ser quente, abafado, que me retira a pele das costas e da testa, que me acorda bem cedo rompendo pela minha janela como a querer me iluminar numa essência que dá gosto ver-me, sentir-me e viver-me.
Eu gosto é de Verão, letra grande e tempo quente.
É música o resto e eu já comecei a aprender a tocar para dar música por muito tempo.


Sanzalando

14 de setembro de 2019

#pordosol


dia de fim de verão

Faz conta é manhã de manhã bem cedinho. O sol acorda timidamente como a se esquecer de que vai aquecer lá mais para o meio dia. Eu acordo e estremunho, porém me sinto forte e rapidamente me destapo dos lençóis que me tapam emaranhadamente. Quase num instante penso em voltar-me para o lado e fechar os olhos e te escutar a respirar dormidamente. O teu calor e a tua paz me alentam a despertar. Encaro-me e decido que vou alar a vida, mesmo que o peito aperte e sinta saudades do dia passado longe de ti. O sol vai aquecer e eu, lembrando-me picapiscamente da suavidade das tuas mão, vou espreitando o sol tímido do fim de verão que deve estar a alaranjar-se no fim da tarde, lá para os lados do zulmarinho que te molha.


Sanzalando

#caminhos


13 de setembro de 2019

#pordosol


vamos repetir o verão?

Quem disse ao verão que podia ir embora? Ele este ano não me encontrou na forma plena. Ele não estava na plena forma. Acho este ano esse sr. não veio com ideias de permanecer à minha volta. Me despenteava, me arrepiava e gelava a agua do zulmarinho só para me irritar. Ele não esteve nenhum dia assim de me arregalar o olho, me encher a pele de bronze despelado, de arder as costas só de ter a camisa vestida. Ele não se armou em duro de aquecer as noites de boémia. Esse verão deste ano não valeu.
Vamos repetir?


Sanzalando

#caminhos


12 de setembro de 2019

tempo que não pára

É verão mas o sol já não está com a garra toda. É quase outono em temperatura de verão. Lá, no outro lado de mim faz cacimbo quente. Tão diferente. É diferente o tempo. Afinal de contas quando a gente fala de tempo a gente até fica na dúvida de que tempo a gente fala. Mas eu tenho tempo para esse estranho tempo. Se a gente espera uma coisa boa o tempo parece não passa. A gente quase desespera à espera desse tempo que parece não passa. Mas olhando para trás a gente sente ele voou só com o piscar de olhos que a gente faz sem notar. O tempo, esse descontrolado que passa de maneira desacertada parece não tem tempo suficiente para acertar com a realidade. Ele se reduz. O do relógio e o de verão. É o tempo que não para mesmo que eu pareça estar pardo no tempo.


Sanzalando

10 de setembro de 2019

#zulmarinho


#comida


é verão num outono que se adivinha

Faz sol e ainda é verão, porem o calor não é mais o mesmo. Venta como se o ar tivesse que mudar todo duma só vez. O meu ralo cabelo esvoaça parece se quer ver livre de mim. Lhe seguro pela raiz num misto de sorriso e espanto. Não gosto do outono no verão. Questão de somenos, eu sei, porque o verão está na alma não no que os meus olhos vêem ou o meu corpo sente. Com este tempo assim ainda medito sobre tudo e nada, sentado na minha praia onde exponho o meu corpo imitando bronze e o meu silêncio feito palavras escritas numa memória qualquer.
A verdade é que eu falo verdade mesmo que a verdade me deixe ficar mal. A verdade é verdadeira mesmo que eu a calasse com medo de magoar o que quer que fosse, quem quer que fosse, mesmo eu próprio. Fala-se a verdade, sem me esconder em indirectas interpretativas, fofocas de corredor, grupos organizados ou aparentemente apenas grupos de ideias. Sou maduro no carácter e personalidade, por isso sou bonito e por isso ando de cara lavada num rosto sem bexigas, sem botox ou máscaras.
É final de verão e verão que por aqui continuarei com os meus humores, horrores e outros favores que apenas faço para mim.
O zulmarinho se revolta em barulhos de ondas que caiem rabujentas, em espuma branca arenosa e revolta e eu, que também cometo, vou corrigindo os meus erros, porque vou vivendo sem linhas mestras ou guias espartanas.
Faz sol e ainda é verão num outono que se adivinha.


Sanzalando

2 de setembro de 2019

#caminhos


a memória de cada verão

Se mantém forte o sol. Até parece que devia haver uma relação com a diminuição da confusão, mas o meu sol continua alto e quente e o vento se ausentou. Acho que ele estava tão forte que foi com ele mesmo e não se segurou por aqui. Ainda bem, para calma dos meus cabelos.
O problema mesmo é que não vai ser verão sempre e ele marchará como sempre, dando lugar ao outono e por aí fora, sem ter em conta a minha vontade.
Em absoluto que me importo. Eu não tenho pressa e como tal acho que o verão deveria ficar.
Doi-me sentir que ele irá para outros lados e que eu fico por aqui, junto ao fim do zulmarinho, nesta praia de palavras e de areias multicores, com gritos de saudades e luzes de recordações.
Faz tempo que o tempo, na sua curvilínea estrada, deixou de dar importância à importância que lhe dou. Mas na verdade ainda me fica a memória de todos os verões que passei.
Vai ser sempre verão, pelo menos na mina imaginação, pelo menos no meu querer.


Sanzalando