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12 de outubro de 2005

Usando as garrafas...fazendo novo Zulmarinho - XXX

Fazendo crescer a resma de papel pardo, continuo-te a escrever, mesmo que seja só no cantinho do meu cérebro, com a ideia de um dia te poder dizer tudo o que vai na alma, no coração, em todo o lado. Escrever-te é exorcizar-me dos medos e fantasmas que me perseguem desde que fiz a opção e de nela não te ter incluído.
Há pessoas que têm medo de envelhecer, assim como outros têm medo da morte. Algumas pessoas sentem medo da solidão, outros da violência. Há aqueles que temem doenças, enquanto outros temem o fracasso. Eu não tenho medo da maioria dessas coisas, mas aterroriza-me ferozmente a ideia de me tornar numa pessoa incapaz de te amar, de te sentir como minha e eu totalmente teu.
Eu não quero olhar para ti e dizer que gosto de ti, beijar-te, possuir-te e depois continuar como se estivesse fora da tua vida. Eu não quero continuar a minha vida sem estares na minha opção. Eu não quero um recomeço aparentemente ideal, divertir-me como quem se diverte nas ondas no Zulmarinho e ao fim da tarde, madrugada dentro, sentir-me um homem moderno, sentimentalmente independente do século XXI, sem elos de ligação, sem marcas e sem carimbos dos carinhos trocados.
Assustou-me a frieza com que eu tinha encarando a situação criada na opção de não te incluir. O meu medo parecia estar a concretizar-se, o de nada amar e achar que nunca mais iria amar, o de me afastar eternamente do teu corpo, do teu perfume e da tua essência. O medo de me tornar num robotizado ser humano.
Sabes, houve alturas da minha vida em que senti um ódio de morte por ti. Perguntava-me porque não fizeste nada para me amarrares a ti, porque não foste capaz de me prender e forçares-me a ficar contigo, ou de não o teres querido fazer. Ao mesmo tempo sentia que tu querias ver apenas até onde eu era capaz de ir sem ti. E dizia-me baixinho: odeio-te mais do que o muito que te amo. Mas era tudo uma fachada, uma fuga de mim, uma ausência temporária, uma crise negativista de quem ama em solidão.
Mas como vês eu fui longe. Fui a meio de uma vida. Mas ao mesmo tempo fiquei perto, tão perto como a distância de uma garrafa cor de âmbar navegando ao sabor das ondas, vento e marés, e cujo a localização neste momento não sei qual é, sentindo apenas, num sentir de magia que está perto de ti. A uma meia distancia de quase nada.

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

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