Pouco me importam as mentiras que eu já te contei. Usei-as como desculpa de alguma culpa que eu tinha. Sabes que desconsigo viver sem ti. Mas também sabes que não consigo viver só contigo. É mais forte que eu. Vou fazer mais como? Machismo? Chama lá o que quizeres, mas foi assim que eu sempre fui e não é agora que vou ficar diferente. Homem que é homem é assim. Olha bem à tua volta.
É Outono aqui, quase verão aí.
Tentei mudar de assunto e quando assim é, o melhor mesmo, é falar do tempo. A cara ensopada dele não mudava.
Vou telefonar para o México, para um (inventado) parente que por lá tenho. (Enquanto estiver ao telefone não me incomodarão). Penso eu, que às vezes também penso mal.
Não funcionou. Toca o telefone que eu fingia estar a usar. Olho para o visor e fico com uma chamada em espera que eu atenda. Desconheço o número que aparece.
Será alguém do governo? disse eu como que a fazer-me de importante e ela continuava ali sem me dar imprtância nenhuma.
Atendo? Não atendo! Ele insiste. Por esta insistência deve ser mesmo do governo. Vou atender com uma máscara na voz.
- Alô, disse eu com voz grave carregado de agudos. Digo eu, que não percebo nada de música e não me dá para investigar a esta hora da quase madrugada, pouco falta para o almoço.
- Fala o sr…. ? omito o nome porque não quero desvendar a fonte, ao mesmo tempo que saboreio a doce voz feminina que me chega do outro lado do telefone. Como pode aquele aparelhinho minúsculo ter capacidade de reproduzir tão doce voz?
- Sim, sim, o próprio! Sem mais delongas respondi na voz mascarada de locutor de rádio, doce, quase de açúcar derretido.
- Estamos a fazer uma promoção…
- Quê?!!!! Já num outro tom que mais parecia ter saído dum ataque de mil mosquitos.
- Sim, somos da Empresa … (não digo porque não me apetece fazer-lhes publicidade) e na assinatura de uma… tentou ela continuar
- Espere lá. Quanto é que pagam?
- Desculpe?
- Claro que sempre ouvi que tempo é dinheiro…
e foi aqui que fiquei com um piiiiiiiiiiiiiii colado à orelha.
Sanzalando