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21 de novembro de 2008

Regressado ao Outono

Abri a janela e desconsegui de ver mais alguma coisa para além da ponta do meu nariz. Eu sei eram os primeiros raios de sol que chegavam aqui, naquela madrugada fresca. Mas os raios vinham tão foscos que eu até disse num assim para mim:
- Não se vê nada! esquecendo que além do nevoeiro, era ainda madrugada.
Na verdade eu é que não consegui ver. Estava assim como que cego de ideias, desmemorizado de imagem. Optei então por ir para férias, pensar como era há uns anos, ir atrás da memória, procurar a nitidez das coisas na certeza da vida. Afinal só consegui recordar recordações sem ter a certeza se era eu. As recordações deformaram-me, deram-me um tom imaginativo sem ter certezas absolutas. As recordações se deformam cada vez que são chamadas à memória e já descompreendi de saber quem sou, donde vim e para onde vou.
Já só sei que sou.
Mas ainda não foi desta que me atirei na dúvida da desistência.
Afinal é Outono.





Sanzalando

2 comentários:

  1. Iahhh ainda é outono!!!!
    Fotografia com novidades, quero saber como se faz. SJB

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  2. AVISO:
    Agora que regressaste vou dar uma de melga!



    Outono. O sol, qual brigue em chamas, morre
    Nos longes de água.... Ó tardes de novena!
    Tardes de sonho em que a poesia escorre
    E os bardos, a cismar, molham a pena!

    Ao longe, os rios de águas prateadas
    Por entre os verdes canaviais, esguios
    São como estradas líquidas, e as estradas
    Ao luar, parecem verdadeiros rios!

    Os choupos nus, tremendo, arrepiadinhos
    O xaile pedem a quem vai passando...
    E os seus leitos nupciais, os ninhos
    As lavandiscas noivas piando, piando!

    O orvalho cai do céu como unguento.
    Abrem as bocas, aparando-os, os goivos;
    E a laranjeira, aos repelões do vento,
    Deixa cair por terra a flor dos noivos.

    E o orvalho cai...e a falta de água, rega
    O vale sem fruto, a terra árida e nua!
    E o Padre-Oceano, lá de longe, prega
    O seu sermão de lágrimas à lua!

    A Lua! Ela não tarda aí, espera!
    O mágico poder que ela possui
    Sobre as sementes, sobre o oceano impera,
    Sobre as mulheres grávidas influi...

    Ai os meus nervos, quando a lua é cheia!
    Da arte novas concepções descubro
    Todo me aflijo, lá fazem ideia...
    Ai a ascensão da Lua em Outubro!

    Tardes de Outubro! Ó tardes de novena
    Outono! Mêsde Maio, na Lareira!
    Tardes.....

    Lá vem a Lua, gratiae plena
    Do convento dos céus, a eterna freira!
    António Nobre

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