recomeça o futuro sem esquecer o passado

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31 de dezembro de 2008

2008, Adão e Eva e 2007

Chega nesta altura do ano e é hora da revisão da matéria dada.
1956! Ano bom, muito bom mesmo!
2007! Ano ruim. Péssimo. Falhou tudo. Também não é tão assim. Dos conhecidos restaram os amigos. Aqui foi seleccionador e enriquecedor. De resto, nem vale a trabalheira olhar para trás. É mesmo para esquecer, excepto as lições que consegui lhe tirar.
É mais ou menos um ano de Adão e Eva. Uma estória real mas mal contada.
Vamos ver.
O Criador, dizem-me, inventa o Adão e lhe manda logo assim no Paraíso. É suspeito. Com tanta Terra para lhe mandar lhe manda logo para o Paraíso? E o Adão, sem protestar, ao que sabemos, foi. Mas desilusão das desilusões foi que ele encontrou um sítio despovoado. Como é que o Paraíso pode ser assim despovoado? Tá errado, claro que está. E aí o Adão acho começou a fazer manifestações e protestos e acho até fez uma petição. Acho, que não consegui descobrir na Internet a certeza, o Criador lhe enviou companhia. Uma cobra e ainda por cima falante. A dita, com a sua língua viperina atazanava o Adão a toda a hora. Que raio de sítio era aquele que não parecia na com o Paraíso que ele sonhava quando o Criador lhe criou. Pouco arborizado, sem nenhuma construção, sem povo e ainda por cima agora tinha que aturar a cobra. Nova manifestação, novos protestos e acho que nova petição. Aqui o Criador, que andava a estudar genética, células estaminais, manipulação genética e outras coisas assim, lhe retira uma costela ao Adão e faz a Eva. Há aqui um erro que eu não compreendo: se tira uma costela ao Adão como é que ele tem simetria bilateral? Pormenores, estou a ver a dizerem-me. Mas adiante. Agora ambos têm de usar parra? Quer dizer que ainda por cima têm de aprender como conservar as parras bem verdinhas para poderem durar o ano todo e não se esfarelarem ao mais pequeno movimento quando estiverem secas? E a cobra a envenenar os pensamentos do Adão. Mas que raio de Paraíso é este que o Criador criou para o Adão e depois para a sua costela Eva? Mas adiante que se faz tarde e ainda acaba o ano e eu não me completei. Com tanta fruta ruim porque é que o Criador logo havia de embirrar com a maçã, lhes proibindo a ingesta? E logo a cobra fica a saber disto e atazana mais o cérebro já estoirado do Adão com essa de comer a maçã da Eva que era costela de Adão. Há laranjas tão ácidas, há bananas que não sabem a nada, há mangas carregadas de fios que até enerva, há frutos secos mais duros que pedra, tinha de ser a maçã. E a cobra não se calava até que a paciência se foi e logo comeram as maçãs que até eram bem boas ao que me parece, pelo que não se contentaram com uma, mas deram cabo do pomar que até fez com que o Criador lhes expulsasse do Paraíso.
Verdade ou não é que ainda hoje se conta esta estória.
O mesmo com o meu 2007.
2008! Está a acabar. Foi como foi nos seus 365 dias. Acredito que foi um ano de transição.

NOTA: esta divagação estava para sair sem qualquer imagem, mas o facto de aparecer atrás do Adão um poste de electricidade fez com que se assemelhasse à estória, e o raio da parra ser tamanho XXL também.

Sanzalando

30 de dezembro de 2008

a minha mantilha, a impaciência, uns tantos palavrões


Tremo. Os olhos mal conseguem ver se é dia ou noite. Lacrimejo com qualquer réstia de luz. Maldito fruto deste tempo. Não me contam nas estatísticas porque não engrossei nenhuma fila ou call center.
Eu, a minha mantilha, a impaciência e uns tantos palavrões, vamo-nos aguentando. Leite com mel, mel com isto e com aquilo. Brrrr. Hei-de derrotar o vírus antes que ele me derrote a mim ou afogá-lo-ei um dia destes.
A lareira não se acende porque não tem autonomia para isso. A televisão só serve para fazer barulho.
Eu, a minha mantilha, a impaciência, uns tantos palavrões e uma encadear de pensamentos vamo-nos aguentando.
Afinal de contas a gente constrói o futuro dia a dia, com acções, pensamentos, palavras e sentimentos.
Este ano está a acabar e vamo-nos preparando para receber o próximo ano. Aproveitamos estes dias para reflectir, reunir forças e limpar a cabeça de sugeira abundante.
Eu queria, mas com a minha mantilha, a impaciência e uns tantos palavrões não tenho tempo para limpezas.

Sanzalando

29 de dezembro de 2008

é da febre

Quantas vezes eu te prometi a minha vida, quantas vezes eu te disse que não haveria Invernos, só primaveras? Quantas vezes eu te disse que as ondas são de magia e não do zulmarinho?
Eu só me recordo dos teus silêncios, jogos adiados e promessas nunca feitas.
Eu transporto o brilhozinho nos olhos em contraste com a tua apatia.
Já sei, deliro.
É da febre, me disseram.

Sanzalando

28 de dezembro de 2008

Frutos de inverno

Pinga-se-me o nariz. Arrepia-se-me o frio corpo mais frio que o tempo que está. Bebo um copo de vinho e mais outro. Tento falar com voz surda. Desisto. É Inverno e o melhor é estar debaixo da mantilha, ver filmes vividos misturados com ficções, desenhar construções no ar, construir caminhos de futuro. Pôr o meu universo numa rua, sentir o doce gosto de mar numa imaginada visão de ti.
Bebo mais um copo seguindo o dito popular do avinha-te.
Vejo-te nitidamente quando fecho os olhos, és a anatomia perfeita da minha paixão, os minutos de ódio da espera eterna, verbo conjugado de desejo.
Afinal de contas devo estar a delirar de febre.
Fruto do tempo, me dizem.



Sanzalando

27 de dezembro de 2008

sorriso de inverno


Transporto um sorriso em forma de vida. Às vezes inocente, outras maldoso. Mas a verdade é que é um sorriso e, como tal, ilumino-me de esperança, clareio a alma e sigo e, frente. Contrasto com o sol triste de Inverno, taciturno dia que se o tivesse que transportar às costas eu não aguentava o peso.
Me lembro agora que aprendi numa escola as estações do ano e lá estava o Inverno como mais triste de todos. Eu sei que tu não sabes disto porque só tens uma parte desta coisas, pelo que eu digo que tu tens apeadeiros do ano. Olha, o Inverno é assim mais ou menos as 5 da manhã de antes de tocar o despertador.

Não tás a ver?

Não faz mal, gosto mesmo é da rebeldia do meu pensamento que caminha para a loucura por causa da fraqueza desse sol fraquíssimo que passou sem distinção pelo solstício. Assim tenho mais tempo para estar sentado a pensar no que te gosto.


Sanzalando

26 de dezembro de 2008

imaginação

Um copo de vinho. Um silêncio provocado por ter desligado todos os aparelhos que pudessem emitir sons. Uma mantilha me cobre as pernas e mais de metade do tronco. Seguro um livro. Literalmente, pois há mais de muito tempo que eu não lhe encontro letras para ler. Seguro no livro e parti para uma viagem dentro da minha cabeça. Eu via numa claridade evidente que tu eras a luz que me iluminava o caminho que escolhi, eras o meu sol, um sol mais forte que aquele que lá fora parece se querer esconder por timidez de força. Eras quem me ensinou a viver, a amar e a ter um objectivo. Voltar a ter-te por inteiro.
Um trago no copo, um aconchegar da mantilha, guardar o livro à espera que um dia deste ele tenha letras onde eu possa ler a estória que devia estar a ler em vez de viver a que estou a imaginar.
Esperava encontrar ali as letras todas com que me dissessem que eras a minha estrela, meu sol, meu cometa, meu norte, minha madrugada de esperança, feliz por me teres ao lado e outras coisas assim, feliz por ter vivido as minhas aventuras, aguentado as desventuras. Mas como não as encontro ali, vivo-as na imaginação dum sonho de vontades.



Sanzalando

25 de dezembro de 2008

Sol adormecido


O sol se esqueceu de levantar. Se calhar ontem se deitou tarde à espera do PaiNatal que se deve ter atrasado a dar a sua volta ao mundo em RenaTurbo.

Seja lá porque é que é, ele hoje não tá aqui. Assim ele não me vai ver com as meias, cuecas e cachecol novo. Assim ele não vai ver o meu andar banga de procurar coisas novas na imaginação. Também quem lhe perde é mesmo ele, porque se continua assim, eu me sento no sofá, olho as labaredas da lareira, pego num livro que pode ser mesmo o Memórias dum Guerreiro que eu sei que não está do meu lado da razão mas mesmo assim dá para conhecer as razões que estavam do lado dele. Para uns ganhar teve que ter outros para perder e este teve a vontade de pôr isso no livro dele. Fico-lhe a ver o meu lado errado de Kifagondo, na berrida que levaram e outras coisas. Ou então fico mesmo só sentado à espera que o sol acorde enquanto saboreio as coisas novas que me deram.

Sanzalando

24 de dezembro de 2008

me disseram que era Natal

Me refastelo no sofá porque me disseram que era Inverno e que lá fora está um frio de gelar até a alma.
Olho a lareira cuspindo fogo quentinho. Fico só assim a olhar, tricotando os meus silêncios com fios de memória. Uns são encarnados cor de sangue, outros negros cor de terra, ainda outros azuis de mar e poucos brancos de nuvem.
Me disseram era Natal, não neva na marginal, não ouço o ruído rangido do trenó.
Me disseram só e eu lhe acreditei, por isso olho na lareira para ver se é tua hora de chegares para mim.

Sanzalando

23 de dezembro de 2008

definir-me inverno

Inverno é qualquer coisa igual a frio gélido, dia cinzento clareado por um sol desligado, de resistências fundidas, sorrisos apagados nos rostos que tilintam as recordações péssimas da vida, caminhos sinuosos de lágrimas e desilusões. O Inverno é a história de todas as estórias, a lenda equivocada dum papel perdido na peça da vida. O Inverno parece o fim da estrada, a pele se seca, franze-se o sobrolho, o sorriso encerrado numa expiração fumegante.
O Inverno trás-me à ideia que o amor romântico da verdade única, é pura ficção. Nessa certeza vou caminhando, deambulando em labirintos que se me escondem a saída como se fosse um carrossel da vida, subidas e descidas num desconto de tempo.
O Inverno é um encerrado provisório. Amanhã logo verei porque hoje estou preocupado em esconder-me do frio, do cinzento, da tristeza de acordar num dia triste.
Mas afinal de contas tu não sabes o que é o Inverno e mesmo que eu te explique, acabas por ficar só com a teoria e não sentes na pele todas estas verdades. Imaginar tudo isto saboreando o perfume da terra molhada, suar à sombra duma acácia, descansar sobre uma gasoarina.
Afinal de contas porque te falo eu de tanto Inverno?
O Inverno não é um labirinto eterno e logo mais encontrarei a saída!



Sanzalando

22 de dezembro de 2008

Light inverno


Que já não é Outono eu já vi. Me olho no espelho e reparei que a imagem que ali está na minha frente mais não é que eu a dobrar. Não na altura, mesmo só na largura que até parece é espelho de feira. Eu sei que a quantidade têxtil sobre os meus costados é maior que muito e só isso já dá uma largura de costas que eu vou dizer que até as tenho largas. Mas me vou aproveitar desse efeito têxtil e quando chegar a estação dos passarinhos a cantar, eu sei que tu não sabes que é que é isso de estações, mas também não te vou aqui explicar, eu vou estar assim que nem aço.
Vou começar por evitar o chuinga sem açúcar, sumos sem açúcar, café sem açúcar, gelados de todas as formas e feitos, com e sem açúcar. Vou fazer um esquecimento por uns dias no chocolate e, depois desse dia que chamam de reis, também vou evitar se tiver açúcar. Acho mesmo que também vou evitar o açúcar com açúcar e comer açúcar só sem açúcar. Não conheço mas deve estar à venda aí num canto qualquer.
Será que depois, quando eu estiver todo light acho vou sentir o amor menos doce?
Acho que o Inverno me está a arrefecer os parcos neurónios sobreviventes deste frio.


Sanzalando

21 de dezembro de 2008

Boneco de neve


Hoje me disseram já não é Outono. Portanto hoje neva. Como meu corpo está aqui mas a minha mente não, vou fazer um exercício de memória. Vou escutar a neve a cair. Não é na marginal. É mesmo neve de imaginação. Escuta. É um sussurro branco, brando e cristalino. Se eu tiver muita imaginação, vou fazer nevar muito e depois vou fazer um boneco de neve. Para nariz vou usar uma cenoura para parecer o nariz do Pinóquio, porque é um boneco de mentira. Vou usar um saco preto para lhe fazer de chapéu assim me vai parecer uma mago das estórias do antigamente.
Hoje neva, porque hoje começa o Inverno.
Bebo um café quente, ponho uma manta sobre as pernas, abro um livro que me leva aos tesouros escondidos da minha imaginação, na companhia do meu boneco de neve que não existe.

Sanzalando

20 de dezembro de 2008

Livros no Outono quase Inverno


Se acaba o Outono e vem aí o Inverno. Tem V, felizmente. Pois se tem f é que a gente ardia de frio. Mas lá tá sol e é quente, não é sol de Outono quase Inverno. É mesmo sol de aquecer que até ferve de calor. Mas eu não tou lá, por isso eu aguento o sol frio de Outono quase Inverno. Contrariado. Ambos.
Me preparo para aguentar as longas noites frias. Sim, o dia é tão cinzento que não lhe posso chamar de dia. É um dia quase noite por isso é noite sempre, mesmo quando o sol vem aqui dizer que ainda existe. Frio mas existe. Mas eu tava a te dizer que me preparo para lhes aguentar, com livros.
Há livros que prometem muito, tem título que até parece não vai dar para parar a meio para beber. Se abre e não tem mesmo nada porque é nada o que lá está. Tem outros que me fazem rir, outros que eu penso sou o artista principal, me tornando cúmplice do livro.
Mas é bom ter livros por perto. Merecem o tempo infinito do Inverno que chega.

Sanzalando

19 de dezembro de 2008

Um sol no Outono

É uma manhã de sol. Sol de Outono. Frio. Intensamente frio. Há gente na rua, nas praças e nas esquinas. Há gente que mexe, gente viva. Eu olho encoberto num manto de neblina. Imagino-me invisível, é claro. Como está sol, mesmo que seja de Outono, parece que renasci com o espírito de ver as crianças que olham felizes para as montras das lojas carregadas de cor e luzes. Vejo casais felizes de mão dada enamorando desejos eternos. Vejo idosos calcorreando ruas como se fizessem exercício que faz tempo tinham esquecido que era necessário.
Está sol de Outono e sinto um brilho nos meus próprios olhos.
Como é bonito ver gente que vai e vem como se o mundo não fosse acabar amanhã.
Mas continua a ser ainda Outono.

Sanzalando

18 de dezembro de 2008

As flores de Outono


Neste Outono que falsas me parecem as flores. Cores pobres num dourado artificial. Fico triste em vê-las neste tom pardacento. Olho-as e as vejo murchas, aparentemente mortas. Folhas soltas sujando o chão dum sujo que de sujo nada tem. Triste, apenas.
Já sei que o Outono é assim. Mas eu lá não tinha Outono… tinha frio mas não era um frio outonal.
Como me parecem falsas estas flores de Outono. Apetece-me arrancá-las pela raiz, mas assim não as poderia admirar numa futura primavera…É Outono mesmo que lá Outono não seja, mesmo que lá as flores floresçam nas suas garridas cores. Eu sinto o Outono.
Mas às vezes, no meio do nada me aparece uma flor que é uma flor de Outono.

Sanzalando

17 de dezembro de 2008

Outono e a Grécia


O Outono está assim a dar uma de finados. Comecei aqui a pensar no que é que eu iria divagar. Vou falar-te da Grécia, a Grécia clássica, mostrar-te a sua História, falar-te dos filósofos. Mas ao olhar umas imagens na televisão mudei de ideias. Repentinamente vieram-me à memória uns templos, monumentos e estátuas gregas e vi que estavam todas partidas, tal como estavam partidas as ruas da Grécia actual nas imagens que eu vi numa televisão. Portanto aquilo na Grécia parece que é habitual e por isso não te vou falar disso. Cansada de estar partida estás tu, eu sei. Ou de partida.
Mas afinal que é que o Outono me fez que não me deixa ter uma ideia. Esvaziou-me o jarro da imaginação ou meteu-me dentro dalgum cavalo de Tróia?
Acho que o Outono este ano está azedo, o que vale é que está mesmo a acabar. Mais dia menos dia e se fina.
Mas tanto tenho divagado em Outono e me esqueci que não sabes o que é o Outono.
Que grande Outono que eu sou.
Eu queria falar-te da Grécia. Talvez com algumas estátuas romanas à mistura, umas imagens do Egipto intercaladas. Eu que estou entre os deuses e os homens, principalmente quando me apetece dormir a sesta e tu não me deixas porque me ocupas a mente e eu para me distrair palestro sobre as velhas civilizações, que eram tão, mas tão grandes que acabaram em pedaços incompletos de pedra, areia e alguma cor.
Talvez por ainda ser Outono eu vou dormir mas é a sesta e esperar que este Outono acabe.



Sanzalando

16 de dezembro de 2008

Talvez porque ainda é Outono


Talvez porque é Outono eu estou assim perdido numa teia de pensamentos e ideias que se baralharam num baraço sem ponta por onde se pegar, ficando apenas os nós do remorso e arrependimento. Desconsigo perceber o que se passa no meu coração. Te disse bué vezes que te queria, mais isto e aquilo, assim num monte palavras pensadas com sentimento e quando tu me te deste, eu fui-me embora.
Tu me és especial, fonte da minha felicidade, luz, perfume, calor. Noutras palavras, tu és a minha vida, se é que a minha vida não é mais que um sonho em que eu sou apenas um espectador sentado como que a ver um filme.
Talvez porque ainda é Outono tu poderás estar a pensar que eu me pus a correr numa fuga premeditada. Mas numa primavera eu te mostrarei que não.
Simplesmente eu não sabia que a vida de quem ama é assim tão dura e difícil.




Sanzalando

15 de dezembro de 2008

Divago


Outono. Quase que até me apetecia dizer-te que me dói a alma. Mas vou ficar só no quase e ficar com o teu nome a sair, numa constância repetitiva, dos meus lábios em forma de sorriso.
Outono… e fico também com o teu olhar como forma de não esquecer as palavras que me apetece dizer-te no silêncio da solidão.
Olha, desculpa só mais uma coisa, é que eu vou ficar-te com os sonhos, desejos e em troca guardo as lágrimas que me esqueci de chorar por vergonha.


Sanzalando

14 de dezembro de 2008

Sol de Outono

Outono, ideias pouco iluminadas, condizentes com a luz que está lá fora. Abro a janela e parece estou no meio da estrada. Me entra um ar gelado que vem da montanha que eu sei deve estar ali para os lados do norte. Não a vejo mas lhe sinto pelo frio que me chega aqui. O sol está ali brilhante,encarnado, mas pelo que sei acho se afastou muito de mim desde o verão até agora. Vais ver ele se zangou comigo porque eu não lhe disse que ele não era o culpado do aquecimento global e coisas e tais. Quer dizer que no Outono o sol também amua. Pensei isto e sorri. Me lembrei de muitos sois que conheço, daqueles que são o centro do mundo e assim num estalar de dedos estão amuados, escondem o sorriso, bassam o brilho dos olhos, lábios em riste. Um dia, assim num inesperadamente voltam como se nada tivesse passado.

Vais ver o meu sol é assim e mais mês menos mês ele está aqui mais próximo de mim outra vez.


Sanzalando

13 de dezembro de 2008

Zulmarinho

É Outono quase Inverno e o que me apetece mesmo, porque é o que me relaxa, dá descanso e tranquilidade, é ficar rodeado por ele. É ele o meu fiel amigo que está sempre pronto para me ouvir. Pelo menos parece.

Me introduzo nele, passo a passo se o passo não tiver mais que um centímetro e a altura da água não subir mais que um milímetro. E ele, imenso, pronto o submergir-me. Depois, brincamos ao ritmo dele numa bailar que se não me ponho a pau ele me enrola na areia. Enfim, parece que nos entendemos na perfeição, nos compreendemos e nos reconhecemos. Foi nele que um dia lhe chamei zulmarinho e zulmarinho ele ficou.

Afinal de contas é o único lugar onde posso chorar sem que alguém note porque as minhas lágrimas se misturam num misturar de desaparecerem dissolvidas.

Outono e ele está quase gelado. Seco as lágrimas antes que saiam. 


Sanzalando

12 de dezembro de 2008

Prometerei num Outono


Se calhar no Outono eu devia mesmo era estar no meu silêncio, aceitar a nostalgia como passatempo, uma fuga à rotina, uma espera de melhores dias. Se calhar o Outono é altura melhor para não pensar. Ou se calhar não é, já que me angustia o silêncio, o espaço em branco da vida, o tentar não estar e não ser. É, aqui estou eu numa tarde de Outono tentando calar o meu silêncio com palavras soltas. Uma esquina, uma beira mar, um refúgio dum quarto isolado. Navego palavras por ondas de silêncio onde afogo as minhas raivas, medos, angustia e cobardias.

É Outono e quase me apetece prometer que num próximo Outono apresentarei uma livro de páginas choradas, a juntar a tantos que se vão empoeirando em muitas prateleiras de muitas bibliotecas, amontoados livros de lágrimas secas, bolorentas, amargas.

Afinal de contas mesmo no Outono é difícil contar em palavras o que não se consegue vomitar porque é inenarrável. O melhor mesmo é deixar as palavras deslizarem secas pela garganta, acidificarem-se no estômago, misturarem-se no fel no intestino delgado, perderem água no grosso e deixá-las seguir caminho até uma próxima ETAR.

Afinal de contas é Outono, uma etapa da vida. Como outras, passageira.


Sanzalando

11 de dezembro de 2008

SilÊncios de Outono


Aqui estou em mais um dia deste Outono. De tempo, de alma e se calhar de coração. Se tenho dúvidas fico com elas. Certezas são poucas e não as dou. Mas eu sou assim no Outono. Neste? E nos outros como foi? Desconsigo lembrar-me que a memória não me ultrapassa o dia de ontem. Não te falei? Então foi porque não tive tempo, mesmo sendo Outono. Se calhar há 20 kilos atrás eu tinha mais tempo, tinha mais coisas para falar no intervalo das inspirações ofegantes e fumegantes. Ou se calhar já te disse todas as coisas que eu tinha para te dizer. É lixada esta dúvida também. Vou tentar pensar e ver se vejo alguma luz no fundo de algum túnel.

Se calhar é mesmo só assim porque é Outono.


Sanzalando

8 de dezembro de 2008

Fico contigo


Chove frio. Eu sei que é Outono e que aí não é como aqui. Aí chove calor, misturando o suor com a água que cai. Mas a verdade é que eu estou aqui e tu estás aí e estamos juntos. E se alguém disser o contrário é que se enganou e a gente até que nem liga. Eu fico com o teu nome, o teu olhar e o teu sorriso na minha memória. Esqueci as palavras que me calaste, os silêncios que me ofereceste, os intervalos que nos inventamos. Eu fico com o sonho de te ver cada vez que fecho os olhos, do anel que te dei quando te reencontrei lá no sítio onde me disseram que ficou meu cordão umbilical.
Afinal de contas eu fico contigo sem mesmo saber onde te ver.





Sanzalando

7 de dezembro de 2008

(06) Texto Pedido - MORROS DE BENGUELA

MORROS DE BENGUELA

Vós que vos ergueis agrestes
Sob o azul do céu nevoado,
Vós que pareceis negros gigantes
Que a Terra (santa mãe)
Não sepultou no ventre ubérrimo,
Dizei-me: Quem sois?
Sim! Contai a glória, ou martírio
(Mistério transcendente)
Dessa vossa vida surpreendente.
Sois monumentos sagrados
De feros dramas e façanhas?
Quem pisou o vosso chão?
Tu, pedra escura,
Que linguagem estranha,
Que mistério escondes?
Dalgum santo missionário
Que pisou e sagrou a tua gleba?
Dum valente, indómito colono
Que com galhardia e amor pátrio
Fecundou Angola, que era Portugal?
Falai-me, por Deus,
Da vossa vida, da vossa lenda,
Penedos escuros de estranhas vidas.
No silêncio perpétuo e eterno
Oh morros de Benguela,
Concedei-me que eu, um dia,
Feita pó, feita lodo,
Durma prostrada, em paz.
Mas depois da minha morte
Feito pedra, pedra forte,
Meu pobre coração
Permaneça eternamente
Repousando a vosso lado.

Vera Lucia

Sanzalando

6 de dezembro de 2008

Sábado de Outono

É assim num sábado de Outono. Finge que chove uma chuva que parece não cai porque esvoaça, mas molha num molhar que arrefece a alma, que trás à superfície dos poros recordações, nostalgias e dilui as lágrimas que não são choradas na vergonha dum público.
Passamos a vida rodeados de gente que apenas nos vê mas não nos conhece. Sabe-nos o nome, a cor dos olhos e depois uma escuridão enorme de saber nos sentimentos. Alguns nos dizem conhecer, mas tão superficialmente que parecem estão a flutuar à nossa volta até parece um balão de criança. Mas no momento mais preciso, mais pontual dum relógio trágico da vida são até capazes de gritar e nos dizer que nem sabem quem somos, quando antes quase fizeram a nossa biografia que até parecia éramos nós os outros.
Eu sei, que nas leis da vida a gente às vezes faz coisas, consciente ou não, que não é o mais certo, que está até mesmo um pouco mais errado do que é aceitável. Eu sei que ninguém está livre mais disso porque é assim a natureza da gente, não ser máquina. Mas não é motivo suficiente para ter gente a pensar que tem total liberdade de falar da gente e do que nos é importante fingindo que nos conhece verdadeiramente, e nos empurram num julgamento injusto. Que lhes move?
Eu sei que um dia eu me esqueci de esquecer-me de ti.
Que mais posso eu fazer agora, num sábado de Outono?



Sanzalando

5 de dezembro de 2008

Cor de fogo

Quando é Outono as folhas das árvores caiem. Ou será que as folhas caiem por isso é que é Outono? Certo mais que certíssimo é que o ar fica mesmo frio. Tudo fica diferente. As minhas lágrimas que têm por hábito saber a mar, nesta altura sabem a melancolia nostálgica. Todas as cores tomam a tonalidade do fogo que acaba em cinza.

É assim o Outono, esse mesmo que me dá as ganas de arrumar a trouxa e zarpar. Mas em vez disso me sento no banco do jardim e releio as páginas da vida que deixei por viver.


Sanzalando
foto retirada duma apresentação sobre o Outono

4 de dezembro de 2008

Uma manhã linda de Outono


É uma manhã linda de Outono. Acordei com o barulho da chuva a me bater nos vidros e como a querer dizer que eram horas deu olhar o dia que acabada de acordar também. O horizonte tinha uma cor suave, melancólica, doce com sabor a desconhecido, frágil e molhado. Desenrosquei-me do meu casulo e esvoacei como uma borboleta com o olhar, leve, sereno e silenciosamente. O arco íris que não existia era azul, dizia-me o cantor no rádio, as árvores dançavam ao som da brisa que atirava a chuva contra a minha janela.

Era apenas uma manhã linda de Outono em que mais uma vez não fui para oo meu banco de jardim percorrer o mundo do faz de conta.



Sanzalando

foto duma apresentação sobre o Outono

3 de dezembro de 2008

Dias de Outono


Disseram-me estava cacimbo. Olhei e estava era mesmo chuva que caia, caté parecia queria acabar toda a água do céu num repentemente. Me resguardei atrás do vidro e mentalmente fui vendo as letras à espera que elas se ordenassem em palavras que eu iria pensar para ti. Esperei ouvindo o bruá da chuva e hipnotizado no acompanhamento do trajecto das gotas. Mas de palavras nem uma. Pensei que ia sair a primeira e que depois logo as outras vinham assim num repente. Parou o bruá e até o céu ficou assim num azul que não sei porquê me pareceu celestial. Deve de ser porque era azul celeste. O silêncio entrou em ambos ouvidos. Mas nenhuma palavra chegou ao meu pensamento. Este é o defeito dos dias de Outono!

foto de Oriza Martins
Sanzalando

2 de dezembro de 2008

Noite de Outono


Nestes dias de sombra te recordo no teu brilho, no teu calor e na tua força de ser. A minha fantasia me desperta na noite, me deixa vaguear por ti numa viagem de prazer e de dor. Entras na minha cabeça, vagueias num rodopio de intermináveis desejos. A noite, que foi feita para dormir, passo-a a navegar-te na imaginação das cores garridas. Jogo-te num jogo de lembranças, ganho-me nas imagens da distância focal.
Cerro os olhos e neste Outono viajo-me por ti, para ti e contigo.

Sanzalando

1 de dezembro de 2008

Um beijo no Outono


É uma tarde de Outono. Vejo fotos antigas. Minhas, tinha eu para aí uns 3 kilos, outras de paisagens a preto e branco não me deixando ver que estação do ano lhes foi captada. Se calhar era para aí um apeadeiro. Na verdade eu tilinto de frio. O frio de Outono.
Que linda roupinha aos folhos me vestiam. Também naquela altura ainda não tinha opinião.
Olha só esta com o meu avô a dar-me um beijo. Digo isto para mim como que a querer fugir da solidão do Outono. Deve ter sido o primeiro beijo fotografado que me deram. Neste álbum, pelo menos, não encontro mais nenhum.
Fico parado neste beijo. Olho os olhos do meu avô. Derrete o gelo que sinto neste momento. Uma gota de nostalgia me cai dos olhos. Os beijos afinal não significam um fim, um adeus. Jamais um beijo é um final.
Tentei saborear o sabor daquele beijo de mais de tantos anos. Nota-se que é um beijo sentido.
Os beijos nunca morrem!


Sanzalando