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12 de dezembro de 2008

Prometerei num Outono


Se calhar no Outono eu devia mesmo era estar no meu silêncio, aceitar a nostalgia como passatempo, uma fuga à rotina, uma espera de melhores dias. Se calhar o Outono é altura melhor para não pensar. Ou se calhar não é, já que me angustia o silêncio, o espaço em branco da vida, o tentar não estar e não ser. É, aqui estou eu numa tarde de Outono tentando calar o meu silêncio com palavras soltas. Uma esquina, uma beira mar, um refúgio dum quarto isolado. Navego palavras por ondas de silêncio onde afogo as minhas raivas, medos, angustia e cobardias.

É Outono e quase me apetece prometer que num próximo Outono apresentarei uma livro de páginas choradas, a juntar a tantos que se vão empoeirando em muitas prateleiras de muitas bibliotecas, amontoados livros de lágrimas secas, bolorentas, amargas.

Afinal de contas mesmo no Outono é difícil contar em palavras o que não se consegue vomitar porque é inenarrável. O melhor mesmo é deixar as palavras deslizarem secas pela garganta, acidificarem-se no estômago, misturarem-se no fel no intestino delgado, perderem água no grosso e deixá-las seguir caminho até uma próxima ETAR.

Afinal de contas é Outono, uma etapa da vida. Como outras, passageira.


Sanzalando

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