Passo os olhos pela memória e lembro-me do teu sorriso de quinze anos, da tua vontade férrea de ser gente obrigando-me a deixar de ser o maltrapilho que me tinha mentalizado que era.
Passo os olhos pela memória e revejo as horas perdidas que gastei a procurar-te apenas para ver-te e pensar que tinha ganho o dia.
Passo os olhos pela memória e revejo a nossa conversa de um adeus adiado até ao nunca mais.
O tempo passou, gastou-se, eu existo e se calhar tu também apesar de nunca mais eu ter tido uma notícia, um sinal, um qualquer coisa da tua existência. Afinal de contas o tempo envelhece e fica assim mais ou menos que nem eu, desmemoriado, deslembrado, desconjunturado. Será que o tempo também tem a memoria dele? E se vai lembrar do tempo perdido por mim? Pouco importa esse tempo perdido, ganhei-o em experiência, em lágrimas que deixei cair e me lavaram os olhos e me trouxeram outra clareza à memória.
Passo os olhos pelo tempo que tenho de memória e me revejo num valeu a pena, grande como o deserto que não tive tempo para conhecer porque gastei o tempo a tentar ver-te.
Perdi o tempo, ganhei a memória e a lembrança do tempo envelhecido comigo.
Sanzalando
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