Faz um lindo dia de outono. Lá, do outro lado de mim, sei que faz um lindo dia de verão. Estaria de calções e chinelos, caminharia, estou certo, para a praia. Mas aqui, casaco sobre casaco, numa cebolada textil, deixo-me levar pelo falso brilho quente do sol.
Na vida, tirando o presente que é real, o futuro que é imaginação e o passado que é memória, há coisas que acontecem por acaso e outras que acontecem à toa.
Uma história de amor pode ser chata, melosa, sem pés nem cabeça, absurda, tipo coisa sem futuro, ou pode ser uma história de cinema, um romance de 600 páginas. Quem escolhe a história de amor? Isso é cálculo e vai dar errado, porque as nossas escolhas vão estar carregadas de compartimentos, espartilhos e agarrados ao passado, desimaginados de futuro.
Por isso o amor nasce por acaso.
Daí eu concluir que no outono, numa noite de muita chuva, num dia de vento forte, se acontecer duas linhas paralelas se cruzarem, não liguem, isso foi à toa, isso é imaginação e não vai acontecer nunca. Esse amor é perda de tempo porque o amor nasce por acaso e não à toa. Mesmo no outono quando o falso sol brilha.
Sanzalando
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