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31 de julho de 2019
o tempo que o tempo tem
Quando eu era criança achava a vida perfeita. As brincadeiras eram saudáveis, o tempo demorava exactamente o necessário. Não havia necessidade de correr por falta de tempo. O adormecer era doce e se por acaso houvesse pesadelo no meio o acordar fazia rir da coisa acontecida. Não havia medo do que o amanhã trazia. O mundo era perfeito porque o mundo não ia para além daquele ponto de ser criança.
Fomos crescendo e o tempo foi-se moldando à falta de tempo. A felicidade foi-se ensanduichando na tristeza, no receio e tantas vezes na ansiedade. Felizmente nunca me deixei cair na tormenta mesmo atormentado me sentisse. Mas o tempo deixou de ter tempo e fez-me correr contra ele.
O que eu lamento que o tempo me tenha feito.
Hoje, deixo o tempo ter o tempo que tem. Amanhã, logo verei.
Sanzalando
30 de julho de 2019
Nonkakus, Calema e Cacimbo
E fez-se sol. Agarrei nos meus nonkakus e me fiz à praia. Senti que o alcatrão queimava mas o pneu dos meus pés me assegurava um confortável caminhar. Era verão. Aqui, mas imaginei-me que fosse lá. O sol faz-me pelar a cabeça, coisa que lá não acontecia porque a cabeleira farta protegia. Mas não é de passado que falo, é mesmo só de presente. O sol de agora e sol de memória. Com essa sandes de pensamentos lembro-me que o meu foco é ser feliz. Lá como cá. Antes como agora. A prioridade é essa. Faz calema ou cacimbo desde que o sol nasça com a força dele o destino é-me favorável. O sorriso simples é uma conquista. O planeado torna-se real mesmo que o real não tenha sido planeado. Como me disse o outro, até um pontapé no cu me faz ir em frente. Desde que faça sol eu me norteei na felicidade, da memória ou da presentemente.
Sanzalando
carrega sol
Carrega sol sobre este corpinho cansado de saudade de cacimbo. Me mostra só como é que seria eu não tivesse abandonado a minha areia, o meu amarelinho deserto, as minhas ruas quadriculadas, os meus vizinhos que eram quase família, os meus amigos que mais não eram porção de mim. Dá-lhe sol e vais ver o meu corpo renascer das cinzas que nem a fenix tatuada numas costas a dar-me asas para sonhos mutantes na minha cama de saude. Dá sol na raiz dos meus parcos cabelos e vais ver-me fervilhar reviangas às amarguras dessa vida sedentária das noites de inverno.
Dá-me sol e encontramo-nos numa praia a falar com as ondas os kadandos da minha praia que fica do outro lado do zulmarinho.
Dá-me sol e não mujimbo que pare a minha verborreia saudosa de presente.
Sanzalando
27 de julho de 2019
25 de julho de 2019
autobiografia não autorizada
Deitado na arei de mil cores, suavizando o calor com um ou outro mergulho no zulmarinho, sentindo-me em contacto com a sua origem que fica para lá dessa linha que chamam de horizonte, dou comigo a fervilhar ideias e pensamentos. Quem foi que autorizou que quem eu não conheço escrevesse a minha biografia? É verdade. Olho no facebook, olho no instagram, olho no Twitter e lá estou eu em mil formas e nomes, mil fotos e cores, mil pensamentos e silêncios. Querem ver esse mundo ficou pequeno e eu não sou mais o original? Querem ver as palavras acabaram e são sempre as mesmas que saem nos papeis brancos dos computadores? Acho vou dar-me folga e mergulhar profundamente no oceano da vida e deixar de me narcisar nesta roda sem quase vida que virou a vida dos smartphones.
Deitado na areia das mil cores penso que nunca brinquei, que não tive direito à infância, em ser criança, em pensar as minhas trafulhices e rasgar os meus joelhos em feridas de 'mercúriócromo'.
Deitado na areia, marulhado pelo zulmarinho me deixo levar pelas vagas que explodem contra a areia e me retiro do corpo que me leva para tantos lugares que só eu sei não existem, os meus sonhos.
Deixem só estar, é mesmo sol a mais na moleira que o cabelo já não protege.
Sanzalando
24 de julho de 2019
e brilha o sol
E brilha o sol no dia, o coração canta canções de amor e os olhos brilham brilhos de sorriso.
Naquele dia sem sol uma menina qualquer chorava, de dor, de desamor ou de qualquer cor conforme o correr do dia cinzento, numa alma triste porque não era dia de verão e o sol não reflectia nos braços vestidos de casacos e nos olhos tristes de cinzento dia. Naqueles dia cinzentos as noites eram intrincadas, as problemas eram silencio e no peito uma dor doía numa forma de estar fraquejada.
E brilha o sol no dia, os dentes brancos se deixam ver por causa dum sorriso que se solta livre e espontâneo.
E brilha o sol no dia que se é bom, manhã cedo sorrindo na onda de quem se sente feliz, esquecendo invernos, erros e outras tempestades.
E brilha o sol e sorrio.
Naquele dia sem sol uma menina qualquer chorava, de dor, de desamor ou de qualquer cor conforme o correr do dia cinzento, numa alma triste porque não era dia de verão e o sol não reflectia nos braços vestidos de casacos e nos olhos tristes de cinzento dia. Naqueles dia cinzentos as noites eram intrincadas, as problemas eram silencio e no peito uma dor doía numa forma de estar fraquejada.
E brilha o sol no dia, os dentes brancos se deixam ver por causa dum sorriso que se solta livre e espontâneo.
E brilha o sol no dia que se é bom, manhã cedo sorrindo na onda de quem se sente feliz, esquecendo invernos, erros e outras tempestades.
E brilha o sol e sorrio.
Sanzalando
22 de julho de 2019
num dia de calor assim
E faz sol que queima, parece derrete o alcatrão e faz miragem no olhar longe no chão.
Nestes dias assim paro para pensar e vejo que parar também cansa, desgasta e nos leva um pouco da vida. Olhando para trás, para o passado que fez da gente pessoa, verifico que poucas pessoas atravessaram o meu muro, colheram flores do meu jardim interior, levaram sorrisos de cara lavada e purificada, me leram os brilhos do olhar e me conseguiram fazer da insónia prazer.
Num dia de calor assim, parado para refrescar os pensamentos, verifico que tantas vezes inventei barreiras, físicas e mentais, para afastar pessoas e lugares da minha memória.
Num dia de calor que nem o de hoje eu sou feliz porque escrevi para mim defeitos e virtudes que conheço numa lenga lenga de cantilena infantil.
Sanzalando
21 de julho de 2019
20 de julho de 2019
neste tempo de tempo
Fazia sol neste norte desnorteado em que outono se mistura com todas as estações e intervalos, dando uma saudade do tempo em que o tempo tinha tempo para ser definido e preciso. Pelo menos era a ideia que eu tinha. Era a sensação que me dava. Era no tempo que eu não tinha tempo para me perder a pensar em tempo.
Eu nesse tempo não fazia nada para ter a cabeça ocupada, ela se ocupava sozinha, ela era comédia diária e as ideias caiam nela como avalanche de neve que só conheço dos filmes. Nesse tempo o tempo de calor era calor, do cacimbo era cacimbo e mais não havia para baralhar o tempo de quem não tinha tempo a perder.
Neste tempo, depois de clareado o cabelo, cresceu o medo de desmoronar o mundo pela fraqueza, de explodir o feitio pela irresponsabilidade alheia, de vomitar gritos pelo egoísmo e de cacimbar a mente pela injustiça da imperfeição que graça nos rostos circundantes.
Neste tempo ficou o gosto dos sorrisos sorrateiros que me roubam à inércia de ver o tempo passar, das surpresas doces que aquecem o peito e me arrancam deste estado carrancudo que as cócegas da alma me apreendem sorridentes.
Sanzalando
18 de julho de 2019
17 de julho de 2019
é o sol, senhores
Faz sol e eu me banho dele. Nem a sombra deste meu poiso me salvam. As memórias pululam como fossem pipocas na panela. Eu tenho saudade desse sol. Eu envelheço dez anos por cada dia sem sol. Eu me entristeço por falta de sol.
Ou será que por falta de sol eu não tenho memória?
Nestes dia de sol eu até consigo tratar as pessoas como elas merecem ser tratadas. Deixo-as ir em paz e serenas, deixo-as sorrindo, alegres e felizes. Nos outros me dizem tenho mau feitio. Nem sei como lhes responder porque até um piscar de olhos me custa gastar.
Faz sol e eu regresso à minha infância, relembro a adolescência e as minhas mil parvoíces, os meus amores e desamores e depois deixo o tempo passar sem remorsos. Se não faz, eu mastigo os tempos que queria voar, as estrelas que queria tocar e as vezes que eu queria que o mundo acabasse.
No dia que faz sol eu esqueci esse outro eu e me embalo em danças, sorrisos e cantares que até encantam os mais tristes do meu lado.
É o sol, senhores.
Sanzalando
tem sol deste tempo
Sol torrou em verão adiado. No meu outro tempo esse sol eu ia dizer é fraco. Agora, neste tempo este fraco sol me torrou a pele que quase mudou foi de cor. Eu ia dizer que até deu saudade, daquele que escorre do cantinho do olho numa lágrima perdida. Mas esse fraco sol, sem o vento que tem tido por companhia, até parece é tropical. Acho esse sol dos outros dias não tem sido assim por um de propósito dele mesmo nem castigo para minha vaidade. É o ciclo dele e ele está na fase de não me fazer lembrar o outro meu tempo.
Sanzalando
16 de julho de 2019
15 de julho de 2019
cansativo verão
Faz sol que parece torrar pão ao meio dia. Faz vento parece é soprador de arrefecimento. Misturados, está-se assim e assim. Com o tempo assim parece ando a fugir de mim e desencontro-me das palavras soltas. A areia das mil cores se levanta em forma de alfinete até minhas pernas desnudas. Acho esse de verão não me setá a dar as oportunidades que mereço, ou eu não sou suficientemente merecedor. E ou outros são assim castigados por culpa minha? Ah, eles são penitentes que nem eu.
É verão e deste verão eu estou cansado.
É verão e deste verão eu estou cansado.
Sanzalando
13 de julho de 2019
12 de julho de 2019
11 de julho de 2019
Isso é bom
Faz sol e o vento se acalmou. O zulmarinho parece é chão.
A noite foi mais serena, mesmo que tenha gente que possa dizer que foi a noite mais ruím da vida, mesmo que alguém tenha vomitado as pessoas ruins da sua vida, mesmo que a insónia se tenha apoderado de outrém por problemas de consciência, eu consegui calmamente respirar.
E isso é bom, não é?
9 de julho de 2019
8 de julho de 2019
em dia de sol
Aproveito que hoje o verão não trouxe uma corrente de vento a me distrair. Sentado no meu trono de imaginação, saboreando a maresia e deliciado com o marulhar me perco por ondas de pensamento que deixo voar em mim.
Na verdade eu não troco esta minha paz para tentar agradar outros, gigantes ou anões, feras ou dóceis convicções. Tento mesmo só ser assim um fiel de mim mesmo para poder seguir cada passo meu como meu que é. Porque é verdade se eu tentar agradar outros pensamentos que não os meus ou vou virar um mártir de dor e sofrimento.
Sanzalando
4 de julho de 2019
Um abraço à vida com nostalgia dos que partiram
E a vida é um faz de conta que se apaga num instante. Num instante toda a memória, todos os sonhos e realidades experimentadas se apagam. Todas as estórias de vida vão nesse instante. A vida é cobarde porque não deixa ficar nada quando termina. A morte leva tudo deixando aos que ficam a saudade e nostalgia.
Não interessa faz sol ou chove, se tem zulmarinho ou deserto amarelo. Naquele instante ficou o vazio e este não precisa de lugar em sitio nenhum.
Um abraço à vida com nostalgia dos que partiram. Uma recordação na memória como um quadro pintado numa tela que se esgota a cada instante. De tela em tela até que não fica cor.
Sanzalando
3 de julho de 2019
verão ou cacimbo
E o sol quando nasce faz verão. Dia lindo. Olhos brilhantes e corpo transpirado, pensamento virado para além de mim. Abraço a nostalgia com alegria de ter os dias grandes. Esqueci os tempos em que tinha medos, em que confundia sentimentos de pesar com o peso do sentimento, O zulmarinho me olha de lá até aqui, enche-me de abraços, sinto-os, e montes de voltas dou com o olhar e regresso ao lugar, ao ponto de início de mim.
Faz cacimbo por lá. Aqui torro. Abraço a nostalgia e sigo caminho. Como o tempo passa e as feridas se saram num suave veludo de memórias.
Aqui verão, por lá cacimbo e eu aqui seguindo o caminho que desenhei num papel de ideias, num esquisso sem metáforas.
Sanzalando
2 de julho de 2019
que seja por amor
Sol está alto e quente. Reflecte no zulmarinho parece me encadeia a ver o longe dele. Fecho os olhos e me deixo navegar por ondas mentais num barco de faz de conta. O Marulhar me embala e a maresia me perfuma e eu vou ao deus dará, de pensamento em pensamento, assim numa viagem sem rumo. Parece até estou perdido sabendo onde estou. Parece estou triste de alegria que sinto. Parece que a memória virou nostalgia e a vida sorrindo nos olhos que choram. Parece é verão de tanto tempo desejado.
Mas lá vou eu no meu barco de viagem mental a pensar que um dia tiver que morrer, que seja por amor.
Sanzalando
1 de julho de 2019
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