A universidade ficava afastada do
centro da cidade. Literal e metaforicamente. Eu desconhecia transportes
públicos e pouco me orientava no norte e sul das ruas oblíquas que contradiziam
a minha cidade de papel quadriculado. As casas cinzentas ou de musgo, como eu
dizia, traziam à memória filmes antigos, as quintas que via lembravam-me
história de vinhos que eu ouvira contar mas que nem imaginava podiam ser reais.
Eu vinha de uma realidade arenosa, de uma cidade pequena. Estava a entrar num
mundo novo que me era totalmente estranho ao ponto de me perguntar se era a
realidade real que eu estava a ver, ou uma realidade que eu fantasiava na minha
cabeça para passar o tempo.
Dois dias depois as aulas iam começar.
Num dia conheci a pé toda a Areosa. Debaixo do viaduto se apanhava o autocarro,
antes lhe chamava machimbombo, quer para o Hospital, quer para o centro da
cidade. Aventurei-me e fui até à Avenida dos Aliados. Sem perder o ponto de
chegada fui olhando à volta. Era como nos filmes e muito diferente de Lisboa.
Na entrada de um café uma estátua de bronze: uma águia. Uau. Lembrei-me que um
certo tio que tinha casado com uma tia me tinha dito que o pai dele um dia
tinha feito a estatua para um café no Porto. Olhei parecia estava á frente da
obra mais prima. Dei uns tantos passos, sempre a marcar pontos de referência,
dei conta do mercado do Bolhão, mas não entrei, não queria que a prima de grau
não sei quantos soubesse que eu estava ali, naquele lado da cidade. Vi a Câmara
e desci para onde tinha saído do autocarro que antes era machimbombo. Gostei da
cidade, mas não gostava do frio que sentia. Voltei à Areosa e por lá me mantive
até porta aberta para entrar.
Sem comentários:
Enviar um comentário