Me deixam estar aqui quietinho, silenciosa e escultutoricamente. É, virei estátua do meu silêncio enquanto a tarde avança rápida por entre o chegar da noite. Foi hoje o dia que as andorinhas se juntaram na minha porta como que a me pedir autorização de partirem para terras mais quentes e me deixarem aqui a lhes esperar mais uns tempos. Nesta estátua de observação procuro a tranquilidade desejada nas entrelinhas da minha estória que um dia ousei viver desde que nasci. Ouço o zulmarinho mesmo não lhe estando ao pé, porque é ele que me faz regressar à vida numa figurinha dum cromo descolada dessa estória que me vai escapando da memória. Hoje regressei ao bairro antigo onde nasci mesmo que não tenha nascido num bairro porque a cidade era em si um bairro apenas. Hoje olhei nos olhos dos amigos com quem brinquei as primeiras brincadeiras que tenho lembrança.
Hoje tenho uma tarde como se estivesse a dizer adeus a um sonho. Quieto, olho à minha volta como quem procura uma saída que não diga entrada de coisa nenhuma, quero meter na gaveta do esquecimento as dores, as lágrimas, as minhas e as de outros que eu testemunhei.
Hoje, aqui no silêncio da quietude isolada da solidão, sonho-te de braços abertos à minha espera, como quem espera essas andorinhas que hoje me vieram pedir licença de partir sem mim.
Hoje, a tarde avança rápida por entre lágrimas que não me apetecem chorar.
Sanzalando
envolvente, JC.
ResponderEliminarPois..a mim também não me apetecem chorar, mas, já estou né? tristemente lindo e ternurento o seu texto. Coloco-me nele e choro um choro triste, porque a minha cabeça parece um farol, pisca no presente, pisca no futuro, pisca no passado e lá muito atrás é onde encontra a força para chorar no presente, o que o futuro trará...apesar de tudo o choro triste faz bem à alma, como num berço,num baloiço, ou num colo de mãe, sendo embalada... é assim que me sinto.É assim que os seus textos me tornam. Mais indefesa mas muito mais sonhadora e romântica.E isso, é bom. Obrigada.
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