recomeça o futuro sem esquecer o passado

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13 de janeiro de 2012

último capítulo do livro que não escrevi

Era Janeiro. Só podia ser em Janeiro. Porque é que não aconteceu noutro mês? Mas não, foi hoje e que é que eu podia fazer mais?
Faz mais coisa menos coisa, para não ter precisão de relógio Suíço, 30 anos que trocámos as últimas palavras. Claro que aqui também tem imprecisão. Podia dar a ideia que tinha havido diálogo. Mas foi só mesmo uma pessoa a falar, como que a fazer um ponto final num sonho lindo que parecia estava a começar de continuar desde lá de muito longe, quando o biquini era azul, o guarda sol era laranja e a praia tinha pica-pica. 
A vida foi correndo no seu sobe e desce de cada um, sem cruzamentos, entroncamentos e outras coincidências desejadas.
Hoje, motivos profissionais me fizeram estar a cinco, dois, um metro. Por duas vezes reparei que me olhava. Acho fui medido de alto abaixo e largura também. Os adjectivos pensados não sei nem lhes consigo imaginar. 
Mas eu lhe vi e me passaram pela cabeça uns quantos fotogramas de memórias e fervilharam os pensamentos num que vou fazer agora?! 
Rapidamente decidi que lhe ia dizer olá. Não mata, não ofende e só pode ter troco de silêncio.
Mas ali resolvi improvisar e lhe perguntei se podia cumprimentar.
Me olhou, acho sorriu, e me respondeu que não me conhecia.
Pensei 30 anos me mudaram e afinal ela quando me olhou estava a pensar que vagamente podia conhecer mas sem se lembrar de onde. O tempo muda a gente e apaga lembranças.
Soletradamente lhe disse o meu nome.
Me respondeu outra vez, sorrindo, não conheço, não cumprimento estranhos.
Fui no meu sótão de pensamentos descobrir o que fazer naquele momento. Acho colei um sorriso na cara, se é que tinha algum disponível de momento, e lhe disse desculpe-me o atrevimento, enquanto a vi partir num rápido virar-me de costas, sem eu saber se ela sorria ou não.
Especado, olhando e sorrindo feito parvo, vi que tinha sido varrido duma memória dum livro que não tive tempo de escrever.


Sanzalando

2 comentários:

  1. por muito que não queiramos até o fogo do amor apaga. um dia, mais cedo ou mais tarde vai-se mas a marca, indelével fica, quer queiramos quer não. Beijos

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  2. Uhmmm não apaga não!!! Vais ver que teve apenas receio de recuar no tempo e se ver de biquini azul.Compreensível!SJB

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