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23 de fevereiro de 2012

talvez ou não

Hoje parei ao lado da Câmara. Do outro lado da Sede do Benfica, aqui mesmo na ruína da Mocidade, antes de chegar na escola 55. Não, ainda não fizeram o prédio da Lusolanda. Tou mesmo aqui porque não sei o nome de nenhum presidente da minha Câmara. Também com esta minha idade eu vou saber o nome de gente importante mais para quê? Eu quero é saber das aulas, poucamente é certo, das miúdas, que ainda não tenho idade para esses enredos, das coisas boas da noite, que tenho que me deitar cedo que a mãe assim me mandou. Mas estou aqui sentado na ruína não para recordar algo em especial mas apenas porque estou de mãos vazias, coração vazio e vazia a ideia e assim vim recordar uma casa onde nunca entrei quando estava inteira. Agora me dizem vem abaixo e se vai construir aqui coisa grande. Mas aqui, neste silêncio da rua de sentido único, ouço bater o meu coração, ainda não submisso, talvez apenasmente ainda tolo de paixão, disseram ela vinha do meio do deserto com o vento, e, na minha ingenuidade olho para a estrada a ver se vem desde a descida dos Tendinhas algum carro que me possa distrair os olhos e alegrar o pensamento.
Aqui, onde me chega o pestilento cheiro duma casa velha abandonada, que talvez sirva de casa de banho pública em situações de emergência, olho o verde da Câmara e me entrego de corpo e alma a um abandono de mim próprio. Santa ingenuidade, digo eu. Desde criança que digo que te gosto e tu, sorriso escondido, finges não ouvir e me devolves silêncio.
Talvez um dia, cidade, te ouça dizer-te que me amas!

Sanzalando

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