Hoje parei ao lado da Câmara. Do outro lado da Sede do Benfica, aqui mesmo na ruína da Mocidade, antes de chegar na escola 55. Não, ainda não fizeram o prédio da Lusolanda. Tou mesmo aqui porque não sei o nome de nenhum presidente da minha Câmara. Também com esta minha idade eu vou saber o nome de gente importante mais para quê? Eu quero é saber das aulas, poucamente é certo, das miúdas, que ainda não tenho idade para esses enredos, das coisas boas da noite, que tenho que me deitar cedo que a mãe assim me mandou. Mas estou aqui sentado na ruína não para recordar algo em especial mas apenas porque estou de mãos vazias, coração vazio e vazia a ideia e assim vim recordar uma casa onde nunca entrei quando estava inteira. Agora me dizem vem abaixo e se vai construir aqui coisa grande. Mas aqui, neste silêncio da rua de sentido único, ouço bater o meu coração, ainda não submisso, talvez apenasmente ainda tolo de paixão, disseram ela vinha do meio do deserto com o vento, e, na minha ingenuidade olho para a estrada a ver se vem desde a descida dos Tendinhas algum carro que me possa distrair os olhos e alegrar o pensamento.
Aqui, onde me chega o pestilento cheiro duma casa velha abandonada, que talvez sirva de casa de banho pública em situações de emergência, olho o verde da Câmara e me entrego de corpo e alma a um abandono de mim próprio. Santa ingenuidade, digo eu. Desde criança que digo que te gosto e tu, sorriso escondido, finges não ouvir e me devolves silêncio.
Talvez um dia, cidade, te ouça dizer-te que me amas!
Sanzalando
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