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4 de fevereiro de 2012

Nas furnas

Caminho pelo carreiro em direcção às furnas. Me disseram iam construir ali um campo de futebol e eu queria me despedir de vez deste lugar que desde pequeno me contaram coisas de meter medo nas crianças que acreditam em tudo que os miúdos mais velhos armados em espertos inventam. As furnas nunca mais vão ser as furnas e depois tem o aeroporto que dizem vai mudar de lugar e aqui a areia vai dar lugar nas casas que a cidade tem de crescer. Os mais velhos dizem e quem lhes sou para duvidar?
Mas eu estava mesmo a caminhar e a falar segredos comigo enquanto finjo estou a roer as unhas, que foi vício que nunca tive, mas me apetece esconder as mãos que parecem tremem cada vez que me aproximo mais das furnas.
Afinal de contas me imagino a fazer tantas coisas diferentes que diferente ia ser a minha vida que foi. 
Neste caminhar me imagino conhecer gente que afinal não conheci, ter medos de futuros que não aconteceram, ter madrugadas enjoadas de festa, ter recebido beijos que sonhei e ter me molhado em chuvas que não caíram.
Mas eu vou nas furnas olhar o Impala desde lá.
Vou olhar a cidade desde lá. 
Vou-me olhar desde lá.
Assim, quando eu for grande não vou estar magoado, não vou ter medos e não vou acreditar em tudo o que os mais velhos da minha idade me vão inventar.
Talvez se eu for diferente não vou estar a contar estórias que não sei se aconteceram ou foram apenas frutos de imaginação rebelde que teima em não parar.
Aqui nas furnas me juro que vou ser duro, que vou mudar o mundo e que vou esquecer tantos sentimentos.
Aqui nas furnas onde tantos medos me meteram eu vou dizer-me, quando crescer, tenho lembranças e tenho saudades.



Sanzalando

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