Para já começo por dizer em palavras de boca cheia que tenho o coração cheio de nada. É, se fosse pessimista eu ia dizer que tinha o coração vazio e lá vinha um mar de lágrimas por aí fora. Na verdade eu tenho, por opção, ou porque sou a isso obrigado, a ter um coração cheio de nada, os olhos fechados e a boca calada. Não quero ser morada de má fé nem guardar palavras impróprias para consumo, inclusive no estabelecimento prisional da memória.
As palavras saem do coração, filtradas na memória e escorridas na nostalgia. Algumas passam o crivo da dor e outras da alegria. São palavras que perco à boca cheia por mais que a mantenha calada.
Para continuar eu grito que os meus pulmões estão carregados de paletes de solidão pelo que são pouco mais que bolhas de enfisema, o que me cansa dizer palavras com mais que duas três silabas sem ter de parar para respirar.
Os meus rins são pouco mais que palavras incoerentes filtradas e perfumadas de ureia.
Os meus olhos estão carregados de meias palavras que são as costas de muitas pessoas que aos poucos me foram deixando.
Afinal de contas não passo dum baralho de palavras, se é que 70 por cento de mim é água, 29 de coisas que não sei para que servem e o que sei é isto.
Sanzalando
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