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19 de março de 2019

afinal de contas é fim de verão

Faz sol e quase se acaba o inverno sem que eu tivesse dado por ele. O mar bravo bate na falésia como a lhe querer derrubar como se fosse um castelo de areia feito por mim quando era miúdo e não tinha jeito para a coisa. No meu trono de meditação observo absorto nos pensamentos que me invadem num soletrar de ideias feitas a desfazerem-se na humidade e no sabor da maresia.
Afinal de contas a melhor parte da vida é a surpresa com que elas nos surpreende cada vez que se passa do presente.
Afinal de contas quem ia dizer que aquela miúda de cabelos compridos e ar supremo um dia ia ser gente simpática, bonita e carinhosa?
Afinal de contas quem ia dizer que os rascunhos iam um dia dar livros, que prosas poéticas encheriam de alegria saudades chorosas? 
Afinal de contas quem ia pensar que eu passei ao lado mas a minha memória memorizou os cantos da minha infância e mais tarde os ia cantar numa salada de letras e palavras com tropeções na areia fina do deserto que me chega através do zulmarinho e as suas correntes paradoxais?
Afinal de contas quem ia dizer que a minha idade é real quando já nem eu sei quais a reais estórias que vivi?
Neste meu trono de meditação e observação verifico que os meus tropeções, as minhas quedas, os meus momentos de herói, a minha imaturidade não são mais do que o meu eu num pedaço de papel em PDF, rabiscado com uma BIC e amarelecido pelo fumo duma vela de cera tirada à socapa da minha igreja mental e posta a imitar o tempo diferente do agora viver.
Afinal de contas, graças aos céus termina o inverno e começará o verão sem dar por isso.

Sanzalando

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