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21 de março de 2019

Primaverou

Primaverou. Arrumo os casacos e fico-me pelos pulôveres. Minha mãe sempre me disse para usar um pulôver. Eu ia no Impala Cine e levava um. Eu saia no fim da tarde para uma volta a ver se a noite chegava e vestia um. Não. Eu não tinha muitos pulôveres. Dois? Se calhar, não me lembro. Mas em cima duma camisa e lá ia eu dar a minha voltinha. Quando o maló me emprestava a Suzuky eu vestia um. Acho a minha adolescência rica em pulôveres. Olha-me só eu com saudade do tempo que queria ser crescido e não usar pulôveres porque a mãe mandou, olha eu com saudade do tempo em que eu queria ser grande. É verdade, eu na altura não sabia que o Titanic era grande e foi ao fundo. Eu só tenho saudade porque consigo viver o hoje me lembrando das coisas bonitas que eu já vivi. 
Coisas más? 
Há coisa pior que vestir pulôver porque a mãe tem frio?
Há coisa pior que calçar meias e usar sandálias ao mesmo tempo?
Há lá coisa pior que andar sem dentes?
Há coisa pior que morrer de amor e continuar vivo alegre e feliz?
Eu também tive coisas más, sim. Mas vestir pulôver aos 25 graus, não há pior.
São coisas da primavera



Sanzalando

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