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25 de outubro de 2019

a minha lenda de imbondeiro


E era uma vez, faz 500 anos, segundo uns e para outros faz apenas 200, caiu este enorme imbondeiro duma das muitas ilhas e ilhotas de Zanzibar. Eu para trepar para o corpo deitado dele vi-me e desejei-me. Me lembrei dos meus tempos de criança, em que, com a agilidade e a vontade, eu arranjava maneira de lá chegar, ao cimo do velho corpo deitado no seu secular descanso. Cansado fui admirando cada reentrância, cada cicatriz, cada nó. Havia lagos nos seus buracos. Eu nunca tinha trepado num imbondeiro. Os meus braços nunca teriam comprimento para o abraçar e me pôr num imbondeiro. O meus sonho estava tornado realidade. Eu subi num imbondeiro. Ele estava deitado, é verdade, mas lhe subi sim. Mastodonte mesmo. Lá de cima eu me senti o rei. Eu era o Rei daquele instante. E dele partia como ramo um imbondeiro novo, majestoso como todos os outros imbondeiros. Este era especial. Era um imbondeiro que nascera dum sobrevivente tombado mas com vida. 
Quantos piratas ele tinha visto, daquela posição, de cima do dorso dum imbondeiro? Ele tinha uma vista privilegiada, um alcance que nem um farol. E o imbondeiro deve ter memória de elefante. 
Lá, sentado no corpo deitado do imbondeiro, junto ao imbondeiro que lhe nascera eu ia receber todas as estórias que ele tinha para me contar, todos os barcos que ele vira passar. 




Sanzalando

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