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30 de outubro de 2019

por dez bagas de medronho

Faz dias não me delicio a ouvir o zulmarinho a me marulhar num embalo de meditação. Tem dias que outros lugares se levantam e me perguntam se também não têm direito à minha presença. Hoje foi dia de ir à serra. Nos 600 metros a cima do mar, me disseram e eu acreditei, porque não me apeteceu estar ali de fita métrica verticalmente a medir tanta altura. Roupa de andar nas escarpas. Até que falei bem. Escarpas de pedra solta e inclinação de atirar os pulmões para fora da caixa. Outros há que têm o coração maior que a caixa, eu cá só deito os bofes pela boca daquelas inclinações escarpadas. Um medronho aqui, duas dúzias por ali e outro tanto, quantos não sei, por acolá.
- Gatunos, ladrões eu mato-vos.
Foi o que ouvi saído por trás duma moita um homemzarrão de dois metros e não sei quantos. Coelho que costuma sair da moita não fala assim. Vento não sopra assim. Homem mal educado grita assim. Timidamente, mas muito assustado, perguntei o que se passava ali. 
- Gatunos, ladrões ponham-se daqui para fora.
Foi a resposta que ouvi. E era mesmo para mim. Tentei explicar que tinha autorização do dono para estar ali, mas a surdez mental daquela espécie monstruosa de homem não conseguia ouvir a minha voz que curiosamente se manteve suave.
Lá consegui perceber, depois de uns tantos mais impropérios, que estava na 'estrema' do terreno que estava autorizado pelo dono e que, por causa de dez bagas de medronho, eu fui amaldiçoado que nem um teste de surdez mal feito.
Ai apeteceu ir buscar a fita métrica, que não levei, para mostrar que a extrema estupidez daquela espécie humana estava em decadência mental e que por dez bagas de medronho se perde a liberdade de falar.

Sanzalando

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