Por acasos do destino tornei-me ciclista de
cicloturismo, ciclo passatempo, fazer alguma coisa ao corpo porque o desporto
TV não me estava a ser lá muito benéfico. Como todos passei pelo ritual, como
todos passam, escolher a bicicleta presumivelmente ideal e adquiri todos os
equipamentos de proteção. Apesar de resumir toda a situação, o processo demorou
longos meses. Finalmente, montado em meu veículo, fui desbravar as ruas e os
caminhos das redondezas. Eis que, numa de minhas aventuras, surge o problema: donos
dos carros a reclamar com a minha presença no trânsito e atitudes agressivas
com tangentes e intimidações verbais.
O facto que ocorreu comigo é comum, ao que já vi e ao
que me contaram, com todos aqueles que se pretendem ser ciclistas.
Os automobilistas ainda não aprenderam a respeitar o
ciclista. De acordo com os números do Instituto Nacional de Estatística
aumentou em cerca de 20% em 2021 em relação ao ano anterior, o número de
acidentes com ciclistas, tendo havido 23 mortes, menos 14 % que no ano anterior.
O relatório dá conta que os automóveis ligeiros foram responsáveis por 72%
dos acidentes ocorridos. A
colisão é o acidente mais frequente.
As ciclovias são soluções adequadas para o problema.
Afinal, elas garantem um espaço seguro para que os ciclistas possam transitar
sem serem ameaçados pelos carros ou sem prejudicarem os pedestres. Em outros
termos, cada um no seu “quadrado” ou cada um ocupando o seu espaço. Porém, as
ciclovias ainda não são uma realidade levada a sério. As estradas que possuem a maior quantidade de km de
extensão de ciclovia, ainda não conseguem abarcar todo o caminho. Há ciclistas
em todas as regiões e que se deslocam por todas as estradas. Portanto, é
importante que as ciclovias tenham o maior alcance possível.
Enquanto não houver essa realidade é necessário que os
ciclistas, os automobilistas e os pedestres consigam respeitar-se.
Ainda este fim de semana, na Serra de Montejunto fui
testemunha de autênticas barbaridades, quer de automobilistas quer de
ciclistas. A caminho da Real Fábrica de Gelo, estrada belíssima a merecer uma
vista e a um desfrutar de paisagem nos seus diversos miradouros, os
automobilistas comportam-se como corredores do Campeonato Nacional de Rampa e
os ciclistas descem como se fossem campeões de moto Gt em pista. Uma travagem
para que dois carros pudessem cruza-se e dois ciclistas a raspar o alcatrão e a
sentirem-se como a serem polidos por lixa enquanto as bicicletas aos
trambolhões pela vegetação. Espetáculo não digno de ser visto e facilmente evitável. Questão de
consciência. Digo eu.
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