“A Memória das Palavras ou O Gosto
de Falar de Mim” recebeu
o Prémio da Casa da Imprensa. Nesta obra, o inicialmente poeta, dedica-se ao
longo de duzentas páginas, a "pentear nuvens e lembranças", com
ênfase para a sua primeira aventura Poética - (quando tinha 8 anos): "no
dia em que reparei na existência das palavras"- e a partir daqui todo o
seu percurso dedicado à Poesia e Literatura (como uma espécie de redescoberta
de si próprio).
Apesar do carácter autobiográfico da obra, José Gomes Ferreira apresenta-nos mesmo o seu Eu verdadeiro, ou é também um "mestre da omissão". 2/3 deste livro são a evocação dos seus sucessos literários e só restante 1/3 dele é que fala do seu trabalho como escritor recente.
Segundo Serafim Ferreira, jornalista e crítico literário, este é ainda um "livro que desde a sua primeira edição logo se revelou inovador nos aspectos fulgurantes da escrita e da linguagem e até na firmeza dos valores ideológicos que neles se pressentem".
Quem é José Gomes Ferreira?
(1900-1985)
nasceu no Porto, em 1900. Publicou em 1918 e 1921, respetivamente, duas
coletâneas poéticas, Lírios do Monte e Longe,
que mais tarde retirou da sua bibliografia.
Só
em 1931, depois de ter exercido funções de Cônsul de Portugal em Kristiansund,
na Noruega, encontra verdadeiramente a sua voz num poema, “Viver sempre também
cansa”, que dá a público na revista presença, nesse mesmo ano.
Esse texto, “Viver sempre também cansa”, em que Gomes Ferreira reconheceu, no relato que fez da sua aparição, em A Memória das Palavras, de 1965, o seu autêntico nascimento como poeta, vem a abrir, dezassete anos depois, o volume com que, realmente, se estreia, Poesia.
É, dos poetas do neorealismo, a alguns dos quais, a partir de certa altura, o ligam fortes laços de amizade, que se sentirá mais próximo. Em primeiro lugar, a influência que a obra de Raul Brandão teve no grupo de que fazia parte nos anos 20. No primeiro volume das Memórias, deixará registo do que para ele e para os seus companheiros terá significado o autor de Húmus: «Durante meia dúzia de anos, Raul Brandão foi, sem o saber, o mestre secreto da primeira fornada que, após a Revolução Formal do Futurismo, e embora concordante com todas as novidades do Orpheu e revistas subsequentes, se opôs por instinto ao seu conteúdo aristocrático, em busca aflita de outro Sinal.»
Os anos passados na Noruega, terão acentuado o pendor expressionista do seu imaginário já muito marcado por Brandão. Depois, não posso deixar de assinalar que o poema que atesta o seu verdadeiro nascimento como poeta tornou-se público numa publicação, a Presença, que, nos começos dos anos 30, era indubitavelmente o ponto de convergência de todos os que, em Portugal, estavam empenhados em praticar e em impor uma ideia de arte moderna.
De resto, todo o percurso de José Gomes Ferreira a partir de “Viver sempre também cansa” se vai pautar pela “Revolução Formal” modernista.
O
poeta fazia, de resto, questão, numa passagem de Imitação dos
Dias, de 1966, de se afirmar «sem saudades de qualquer passado», em
sintonia perfeita com o seu tempo.
Um
outro aspeto aproxima José Gomes Ferreira dos poetas de «presencistas», a
centralidade do eu na sua obra, não apenas nos livros em verso,
mas também nos livros em prosa. A abrir o 1º volume de Poeta
Militante, vem uma nota onde pode ler-se o seguinte: «Poeta
Militante é a viagem do século vinte em mim..»
Falámos de José Gomes Ferreira e da sua obra autobiográfica, do seu Eu mas a vida é mais que isso e por isso há que ler.
Ler causa morte á ignorância
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